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sábado, 15 de março de 2014

Capitalismo: a maior ameaça à humanidade?


 
 
A teoria econômica ensina que os movimentos financeiros a preços e lucros livres garantem que o capitalismo produz o maior bem-estar para o maior número de pessoas. Perdas indicam atividade econômica em que os custos excedem o valor da produção, de modo que investimentos nestas áreas devem ser restritos. Lucros indicam atividades em que o valor de produção excede o custo, que fazem o investimento crescer. Os preços indicam a escassez relativa e o valor das entradas e saídas, servindo assim para organizar a produção mais eficientemente.
 
Essa teoria nao é o que funciona quando o governo dos EUA socializa custos e privatiza lucros, como vem sendo feito com o apoio do Banco Central aos bancos “grandes demais para quebrarem” e quando um punhado de instituições financeiras concentram tamanha atividade econômica. Bancos “privados” subsidiados não são diferentes das outrora publicamente subsidiadas indústrias da Grã Bretanha, França, Itália e dos países então países comunistas. Os bancos impuseram os custos de sua incompetência, ganância e corrupção sobre os contribuintes.
 
Na verdade, as empresas socializadas na Inglaterra e na França eram dirigidas mais eficientemente, e nunca ameaçavam as economias nacionais, menos ainda o mundo inteiro de ruína, como os bancos privados dos EUA, os “grande demais para quebrar” o fazem.  Os ingleses, franceses e os comunistas nunca tiveram 1 bilhão de dólares anuais, para salvar um punhado de empresas financeiras corruptas e incompetentes.
 
Isso só ocorre no “capitalismo de livre mercado”, em que capitalsitas, com a aprovação da corrupta Suprema Corte dos EUA, pode comprar o governo, que os representa, e não o eleitorado. Assim, a tributação e o poder de criação de dinheiro do governo são usados para bancar poucas instituições financeiras às custas do resto do país. É isso o que significa “mercados autorregulados”.
 
Há muitos anos, Ralhp Gomery alertou que os danos para os trabalhadores estadunidenses dos empregos no exterior seria superado pela robótica. Gomery me disse que a propriedade de patentes tecnológicas é altamente concentrada e que as inovações tornaram os robôs cada vez mais humanos em suas capacidades. Consequentemente, a perspectiva para o emprego humano é sombria.
 
As palavras de Gomory reverberam em mim quando leio o informe da RT, de 15 de fevereiro último, com especialistas de Harvard que construíram máquinas móveis programadas com com termos lógicos de auto-organização e capazes de executarem tarefas complexas sem direção central ou controle remoto.
 
 
A RT não entende as implicações. Em vez de levantar uma bandeira vermelha, a RT se entusiasma: “as possibilidades são vastas. As máquinas podem ser feitas para construir qualquer estrutura tri-dimensional por si sós, e com mínima instrução. Mas o que é realmente impressionante é a sua capacidade de adaptação ao seu ambiente de trabalho e a cada um deles; para calcular perdas, reorganizar esforços e fazer ajustes. Já está claro que o desenvolvimento fará maravilhas para a humanidade no espaço, e em lugares de difícil acesso e em outras situações difíceis”.
 
Do modo como o mundo está organizado, sob poucos e imensamente poderosos e gananciosos interesses privados, a tecnologia nada fará pela humanidade. A tecnologia significa que os humanos não serão mais requeridos na força de trabalho e que os exércitos de robôs sem emoção tomarão o lugar dos exércitos humanos e não há qualquer remorso quanto a destruir os humanos que os desenvolveram. O quadro que emerge é mais ameaçador que as previsões de Alex Jones. Diante da pequena demanda por trabalho humano, muito poucos pensadores preveem que os ricos pretendem aniquilar a raça humana e viver num ambiente dentre poucos, servidos por seus robôs. Se essa história ainda não foi escrita como ficção científica, alguém deveria se dedicar a fazê-lo, antes que se torne algo comum da realidade.
 
Os cientistas de Harvard estão orgulhosos de sua conquista, assim como sem dúvida estavam os participantes do Projeto Manhattan, em relação à conquista por terem produzido uma arma nuclear. Mas o sucesso dos cientistas do Projeto Manhattan não foi muito bom para os residentes de Hiroshima e Nagasaki, e a perspectiva de uma guerra nuclear continua a lançar uma nuvem negra sobre o mundo.
 
A tecnologia de Harvard provará que é inimiga da raça humana. Esse resultado não é necessário, mas os ideólogos do livre mercado pensam que qualquer planejamento ou antecipação é uma interferência no mercado, que sempre sabe melhor (daí a atual crise financeira e econômica). A ideologia do livre mercado alia-se ao controle social e serve a interesses de curto prazo de gananciosos grupos privados. Em vez de ser usada para a humanidade, a tecnologia será usada para o lucro de um punhado.
 
Essa é a intenção, mas qual é a realidade? Como pode haver uma economia de consumo se não há emprego? Não pode, que é o que estamos aprendendo gradativamente com a exportação de empregos pelas corporações globais, para o exterior. Por um período limitado uma economia pode continuar a funcionar na base de empregos de meio turno, rebaixamento de salários, cartões de benefícios sociais – de segurança alimentar e auxílio-desemprego.
 
Quando a poupança cai, no entanto, quando os políticos sem coração que demonizam os pobres cortam esses benefícios, a economia deixa de produzir mercado para consumir os bens importados que as corporações trazem para vender.
 
Aqui vemos o fracasso total da mão invisível de Adam Smith. Cada corporação em busca de vantagens gerenciais maiores, determinadas pelos lucros obtidos em parte pela produção da destruição do mercado consumidor dos EUA e da miséria maior de todos.
 
A economia smithiana aplica-se a economias nas quais os capitalistas têm algum sentido de vida comum com outros cidadãos do país, como o tinha Henry Ford.
 
Algum tipo de pertencimento a um país ou a uma cidade. A globalização destrói esse sentido. O capitalismo evoluiu ao ponto em que os interesses econômicos mais poderosos, os interesses que controlam o próprio governo, não têm sentido de obrigação com o país nos quais seus negócios estão registrados. Fora as armas nucleares, o capitalismo é a maior ameaça que a humanidade já teve diante de si.
 
O capitalismo internacional levou a ganância a um patamar de força determinante da história. O capitalismo desregulado e dirigido pela ganância está destruindo as perspectivas de emprego no mundo desenvolvido e no mundo em desenvolvimento, cujas agriculturas se tornaram monoculturas para exportação a serviço dos capitalistas globais, para alimentarem a si mesmos. Quando vier a quebradeira, os capitalistas deixarão “a outra” humanidade à míngua.
 
Enquanto isso, os capitalistas declaram, em seus encontros de cúpula, “que há muita gente no mundo”.
 
* Paul Craig Roberts, Diretor do Institute for Political Economy. Versão original do artigo aqui.
 
Tradução: Louise Antônia León

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Golpe na Venezuela


Venezuela é vítima de uma nova tática intervencionista da direita


Vermelho entrevistou o secretário de Relações Internacionais do PCdoB, Ricardo Alemão Abreu, para entender a conjuntura política da Venezuela. Segundo ele, há um novo padrão de intervenção da direita na América Latina e o que está acontecendo no país é a aplicação desta tática de desestabilização, uma vez que a oposição não tem força política suficiente para enfrentar os governos de esquerda de forma democrática. Leia a seguir a íntegra da entrevista.

Por Théa Rodrigues, da Redação do Vermelho


Manifestação a favor do governo de Nicolás Maduro em Caracas. Foto: Alba.

Como avalia o momento pelo qual a Venezuela está passando atualmente?
Há um novo padrão de intervenção da direita na América Latina, que diz defender a democracia e a liberdade, mas que na verdade sempre foi antidemocrática e autoritária. A direita vem se apropriando dos discursos da esquerda, para implantar a dúvida de quem são os reais democratas e quem são os ditadores.

A Venezuela é um caso mais flagrante disso atualmente, mas essa mesma tática está sendo usada na Argentina e no Brasil. Trata-se da tentativa de criar um ambiente de desestabilização com o desabastecimento, que gera uma guerra econômica e o caos que força uma crise cambial. Por sua vez, isso provoca uma violência política que dá a sensação de que o governo não tem controle da situação e de que é culpado pela situação caótica.

Como os opositores conseguem o apoio popular utilizando essa tática?
Na Venezuela há uma parcela da população que ora vota no chavismo, ora vota contra. Esse grupo não cai no discurso fácil de que o presidente Nicolás Maduro é culpado por tudo, mas pode não votar novamente nele por conta da situação do país. Com isso, os opositores reforçam sua porcentagem de eleitores (cerca de um terço dos votantes) e disputam outra franja de apoio popular. Por meio da desestabilização do governo, o golpe de Estado se torna mais palpável para esses grupos de ultradireita, que utilizam quaisquer artifícios para manipular informações.

A manipulação e a desestabilização de governo rumo a um golpe de Estado são uma resposta à força da integração latino-americana?
Claro. À medida que temos a democracia e liberdade para o povo na América Latina, surgem ainda mais alternativas, mais à esquerda, progressistas e até revolucionárias, que sempre foram sufocadas ou por golpes militares, ou por invasão dos Estados Unidos, ou por apoio às ditaduras. O golpe militar de 1964 no Brasil é um exemplo, assim como o golpe que derrubou Salvador Allende no Chile, na década de 1970.

Tivemos, a partir do final dos anos 1990, um avanço no processo de democratização latino-americano e, consequentemente, a vitória de governos mais progressistas e até de forças revolucionárias que passaram a democratizar ainda mais esses países – a Venezuela teve 15 eleições no período de 10 anos. Por tanto, o processo é contrário ao que dizem dos governos de esquerda: que são ditaduras.

O governo de Cristina Kirchner democratizou os meios de comunicação na Argentina, o mesmo aconteceu no Uruguai e no Equador. Quer dizer, quanto mais os governos de esquerda avançam em reformas democráticas, os grupos de direita opositores ficam sem alternativa e buscam uma saída fascista.

Por isso o presidente Nicolás Maduro considera que a conjuntura na Venezuela é uma consequência da ação de grupos fascistas?
A oposição está mudando de tática e de líder na Venezuela. Veja bem, Henrique Capriles não dá mais conta de fazer oposição ao governo em eleições. Já perdeu para o Hugo Chávez e, posteriormente, para Nicolás Maduro. Nas eleições municipais de dezembro passado, eles achavam que teriam ao menos um empate técnico com o partido governista, mas as medidas que Maduro tomou contra a guerra econômica foram muito eficientes e, com isso, o mandatário teve a confirmação do apoio popular.

Então precisa ser alguém mais radical, como é o caso de Leopoldo López. Tanto que, anteriormente, ele e Capriles faziam parte da mesma coligação contra o chavismo e agora estão divididos. Ou seja, pelas vias democráticas a oposição não tem mais espaço. A cena golpista fica impaciente com os governos que vão se reelegendo e que dão continuidade e aprofundamento aos programas progressistas. A partir disto, a direita passa a fortalecer uma alternativa neofascista, de golpe de Estado, de ditadura e de violência.

Para ter uma ideia, em 2002, López liderou a agressão armada à embaixada de Cuba e hoje prega um discurso pacífico. Ele, na época, já organizava esses grupos neofascistas de ultradireita. O opositor continua sendo o mesmo, mas agora utiliza essa “fachada” de defensor da paz, da democracia e de José Martí. Isso é tudo jogo de cena.

E assim Leopoldo López ganha o apoio popular...
Sim, mas essa campanha denominada “A Saída” que ele comanda é ditatorial e acusa o governo que construiu um Estado com base na democracia popular, que é o conteúdo real da Revolução Bolivariana, de ser uma ditadura.

Podemos afirmar que há uma tentativa de golpe de Estado na Venezuela, tal e qual o presidente Nicolás Maduro vem denunciando?
Sim, há uma tentativa de golpe, mais complexa, mais sofisticada e que utiliza o discurso da democracia e da liberdade, mas com o conteúdo de um golpe fascista. Essa inversão de sinais e essa apropriação dos termos de esquerda promove uma confusão ao desconstruir a imagem da real democracia. Há uma falsificação que tenta enganar o povo para a saída golpista.

Qual o papel dos Estados Unidos no que está acontecendo na Venezuela?
Os Estados Unidos e as direitas locais não suportariam mais 10 anos de governos progressistas e anti-imperialistas na América Latina. Como disse anteriormente, existe hoje um novo padrão de intervenção política do imperialismo, que prepara a guerra midiática, a guerra econômica, o terror psicológico e a falsificação.

Gene Sharp, um escritor que possui ligações com a CIA, escreveu um livro no qual ele levanta 198 estratégias de desestabilização de governo. Tudo o que está sendo feito na Venezuela está nesse “manual”. Isso foi aplicado no Irã em 1953 e no Chile em 1970.

O opositor Leopoldo López tem muita ligação com os EUA. O próprio fato de o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, ter se pronunciado contra a prisão de López pode ser uma demonstração da ligação entre eles.

Qual é a nossa tarefa para prevenir essa “infiltração” fascista?
Nós precisamos defender a democracia e os governos eleitos de forma legítima e denunciar essa tentativa de “fascistização” da América Latina. É importante agir agora para desmoralizar essa tática e essa estratégia da direita para implantar o golpe de Estado a qualquer custo.

Na Venezuela é importante aproveitar que a oposição não está totalmente unida nisso e desmascarar esse tipo de discurso fascista para evitar que a onda golpista cresça. Não acredito que possa haver um golpe na Venezuela manhã, mas pode ser criada uma situação favorável a isso. Temos que nos preparar para uma nova fase de contraofensiva.

Qual o papel da mídia na propagação desse discurso “falsificado”?
As redes sociais repercutem o que a grande mídia diz. Manipulam imagens e divulgam sempre aquilo que é lhes é favorável. A multiplicação de um discurso que parece a favor do povo, mas que tem por trás grupos de extrema direita merece atenção especial.

Há algum perigo para a integração latino-americana?
Os três países fundamentais para a integração latino-americana são a Venezuela, o Brasil e a Argentina. Para quebrar a integração hoje, é preciso quebrar esses três países. Isso abalaria o todo o processo de avanço consolidado com o Mercosul, Unasul, Celac, Alba e outros.

Por isso, hoje, a direita intensifica sua campanha nesses três países. O plano era derrotar o Polo Patriótico, em dezembro passado, na Venezuela – o que não aconteceu – para criar uma alternativa para o próximo referendo revogatório daqui a dois anos. Também querem derrotar a presidenta Dilma Rousseff nas presidenciais deste ano e a o partido de Cristina Kirchner na Argentina, em 2015.

É possível, portanto, encontrar semelhanças nos acontecimentos recentes nesses países no último ano. Há uma guerra midiática, uma guerra política e econômica que acontece em intensidades diferentes contra esses três governos. Os opositores apostam que o caos e que um governo cada vez mais desprestigiado perca o apoio popular.

Como isso pode repercutir no Brasil?
No Brasil não será diferente, eles vão tentar ganhar uma parte do povo que vota na presidenta Dilma Rousseff utilizando o falso argumento de que a governante é incapaz, que a economia está um caos, que a política social está esgotada.

Aqui no Brasil, o discurso da direita em 1964 era “democracia e liberdade” com a chamada “revolução democrática”. Contudo, o governo deposto de Jango era, até então, o mais avançado e o que tinha mais compromisso com a luta dos trabalhadores, com a democratização e com a soberania nacional. 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

PROTESTO NO RIO CONTRA REDE GLOBO REFORÇA DEMOCRATIZAÇÃO DA MÍDIA


PROTESTO NO RIO CONTRA REDE GLOBO REFORÇA DEMOCRATIZAÇÃO DA MÍDIA

Cerca de mil pessoas participaram na quarta-feira (3) de um protesto contra a Rede Globo no Rio de Janeiro. Não faltaram xingamentos e manifestações, além do resgate da história nada democrática da maior rede de televisão do Brasil.
 Veja a íntegra do artigo do blogueiro Miguel do Rosário sobre o protesto:
Pela democratização da Mídia: a mãe de todas as batalhas
 Foi uma manifestação pacífica, mas com muito sangue nas veias! Não quebramos nada, mas xingamos. Ah, como xingamos!
 Imagine mil pessoas na porta da Globo mandando o Merval e Jabor pra aquele lugar. Imagine mil pessoas ouvindo discursos sobre o mensalão que a Globo levou dos Estados Unidos para apoiar o golpe de 64. Imagina mil pessoas exigindo que o Ministério Público investigue a sonegação bilionária da Vênus Platinada.
 O microfone era aberto. Qualquer um que se inscrevia, podia falar, caracterizando o caráter genuinamente democrático da manifestação. Diferente de algumas recentes onde só diretores de Ongs tem voz. As pessoas que trabalham, aqui no Rio, com o tema da democratização da mídia estavam em estado de êxtase, porque conseguimos juntar um público mais diversificado e mais jovem.
 Importante: foi uma manifestação com foco. Uma coisa é reunir 20 mil pessoas numa manifestação esquizofrênica, com um grupo pedindo a volta da ditadura, outro pedindo o anarquismo, outro espancando militantes partidários, outro pedindo socialismo, outro pedindo "bolsa Louis Vitton". Não. Éramos mil pessoas com um foco: protestar contra a Globo, contra o monopólio da mídia.
Um estudante de economia da UFRJ, muito jovem, disse uma coisa bonita: "não estamos aqui para protestar contra a política, mas contra o poderio econômico que sequestra a política. Não estamos aqui para protestar contra a corrupção, mas contra os corruptores".

 O refrão mais cantado foi o mesmo que esteve presente nas grandes manifestações, mas que a grande mídia, naturalmente, escondeu:
 "A verdade é dura! A Globo apoiou a ditadura!"
 Fizemos uma verdadeira assembleia popular. Claudia de Abreu, coordenadora da Frente Ampla pela Liberdade de Expressão (Fale-Rio), um dos movimentos sociais que lideram os debates sobre democratização da mídia no estado do Rio, fez belíssimos discursos, sempre pontuando que não estávamos ali para uma catarse emocional, mas preparando ações concretas para acabar com o monopólio da grande mídia.
 Eu mesmo fiz alguns discursos, explicando a denúncia contra a Globo feita no Cafezinho, sempre enfatizando que a ficha criminal da Globo vai muito além dessas estripulias em paraísos fiscais. A Globo cometeu crimes históricos contra o Brasil. Lutou contra a criação da Petrobrás. Fez parte do golpe que levou ao suicídio de Vargas. Consolidou-se financeiramente, com dinheiro estrangeiro de um lado, e de golpistas internos, de outro, sobre o cadáver da nossa democracia. Essas coisas tem de ser ensinadas no colégio, para que nossas crianças, adolescentes e jovens parem de sofrer lavagem cerebral dos platinados.
 Quantos milhões de brasileiros não deixaram de se alimentar por que a Globo patrocinou e sustentou um golpe de Estado que interrompeu o processo de modernização democrática que apenas se iniciava com João Goulart?
 Quantos milhões de brasileiros foram humilhados pela miséria, pela fome, pela falta de escolas, hospitais e emprego, para que a família Marinho se tornasse uma das mais ricas do mundo!
 O ministro Paulo Bernardo também foi alvo dos manifestantes. Todos muito indignados com a gestão reacionária, entreguista e covarde do Ministério das Comunicações. Sua recente entrevista à Veja, tentando dar uma facada nas costas dos movimentos que defendem a democratização da mídia, foi a gota d'água.
 A incompetência da ministra Helena Chagas que não propõe à presidenta a abertura de uma mísera conta de twitter, deixando a direita midiática pautar a agenda política nacional, também foi muito questionada pelos manifestantes.
 Ficamos orgulhosos também com a participação dos jovens ativistas da mídia ninja, um dos movimentos mais atuantes nas grandes manifestações populares que tomaram conta do país nas últimas semanas. A manifestação foi toda exibida ao vivo. Tivemos mais de 10 mil pessoas assistindo via mídia ninja, mais uns dez mil pela Pos-TV. Ou seja, vinte mil pessoas acompanharam ao vivo a nossa manifestação!
 O momento alto do evento foi quando centenas de pessoas levaram uma fita listrada e "lacraram" a Rede Globo, numa alusão ao que a Polícia Federal costuma fazer com as pequenas rádios comunitárias acusadas de alguma mísera irregularidade burocrática. A Globo pode dever bilhões, pode fraudar, e ninguém faz nada. A gente fez, simbolicamente. Lacramos a TV Globo.
 A quantidade de policiais era impressionante. Havia mais PM na porta da Rede Globo do que protegendo a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro naquela manifestação que terminou em depredação da Alerj. Mais do que em frente à sede do governo. A gente conversou com o major, explicamos o programa da nossa manifestação e nos comprometemos a não deixar nenhum "infiltrado" cometer atos de violência.
 Mas fizemos questão de pontuar, ao microfone, que o pior vandalismo no Brasil vem das Organizações Globo. Um vandalismo informativo, moral e político. Alguns garotos irresponsáveis quebraram alguns vidros da Alerj. Depredaram uma ou duas cadeiras. A Globo, ao apoiar o golpe de 64, ajudou a destruir os alicerces de todas as assembleias legislativas do país, inclusive da principal, em Brasília.
 Houve muitas cantorias. Uma das mais fortes, mais emocionantes, foi "Amanhã vem mais! Amanhã vem mais! Amanhã vem mais!", que deve ter feito os platinados tremerem com a possibilidade de trazermos dezenas ou mesmo centenas de milhares de pessoas para protestar à sua porta, e à porta de todas as suas filiadas Brasil à fora.
 Foram distribuídas quase quinhentos exemplares da revista Retrato do Brasil, do jornalista Raimundo Pereira, que denuncia, com fartura de documentos, a farsa do mensalão, outro golpe patrocinado pela Globo. Vale lembrar que a Globo, aliada a forças obscuras, tem procurado manipular o sentido dos protestos para pressionar o Supremo Tribunal Federal a agir ao arrepio da Constituição. A Globo, além de sonegadora, é adepta de linchamentos - de seus adversários, é claro.
 Saímos todos extremamente satisfeitos com o resultado da manifestação. Encerramos a noite num bar das redondezas, falando de política e mídia. O deputado Protógenes Queiroz deu as caras e se dispôs a criar uma CPI da Globo, ao que respondemos que daríamos nosso apoio, mas que, dessa vez, tinha que ser pra valer. Não adianta só colher assinaturas. Tem de ser efetivamente criada e conduzida com coragem, não por nenhum "Odarelo".
 Mais importante que tudo, porém, é que produzimos um ato político que por si só pode ajudar a conscientizar as pessoas de que a concentração da mídia, do jeito que existe no Brasil, representa um perigo à nossa estabilidade democrática. Porque a nossa mídia é golpista, reacionária e anti-trabalhista, de um lado; e detém um poder financeiro monstruoso, de outro. A concentração apavorante da mídia brasileira em mãos de meia dúzia de herdeiros da ditadura é uma anomalia que os amantes da democracia devem combater com todas as suas forças.
 A presidenta Dilma tem de entender que, se não combater a mídia golpista, não vai conseguir fazer o Brasil avançar. A mídia já está patrocinando greves patronais de caminhoneiros, possivelmente está em conluio com alguns industriais para sabotar a economia, tenta manipular o sentido das manifestações, tudo para trazer a direita de volta ao poder em 2014.
 O plebiscito proposto pela presidenta, por exemplo, pode vir a se tornar um tiro no pé sem uma nova e mais ousada estratégia de comunicação, e sem um contraponto decente à Globo. A Vênus Platinada, que é a líder do principal partido conservador, quer enterrar o plebiscito, para desmoralizar o governo. Ou então levá-lo adiante, mas dominar o debate, fazendo aprovar seus itens mais nocivos ao povo, como o voto distrital.
 Como uma amiga, presente à manifestação, me disse, enquanto observava orgulhosamente as pessoas protestando na porta da Globo: essa é mãe de todas as batalhas!
Fonte: Blog de Miguel do Rosário

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

"A vaquinha dos petistas"!!


O que a “vaquinha” por Genoíno e Delúbio ensina? O que o PT esqueceu…

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Os jornais não disfarçam seu espanto com as doações públicas para que José Genoíno, primeiro, e agora Delúbio Soares paguem as multas que receberam do Supremo Tribunal Federal.
Claro que pode até haver alguma mutreta de algum depósito feito por gente “muy amiga” para desmoralizar a arrecadação de fundos, e é bom que se verifique isso.
Mas nenhuma eventual “armadilha” nesta “vaquinha” esconde o seu principal ensinamento.
Se o protagonismo de José Genoíno nas lutas contra a ditadura, seu drama pessoal de saúde e a comovente solidariedade de sua família – sua filha Miruna tornou-se um símbolo de integridade e amor filial – o que poderia explicar o apoio público de Delúbio Soares, um colaborador de segundo escalão do PT e o que mais foi vilanizado em toda essa história do chamado “mensalão”.
A lição preciosa deste episódio é algo que, ao longo do tempo, boa parte da direção do PT parece ter se esquecido.
A de que existe uma militância política que não precisa ser paga – e que até paga, ela própria, do jeito que pode – para apoiar um partido, porque apóia as ideias e o significado destas ideias sobre a vida dos brasileiros.
A de que existe, fora da mídia e do mercado, gente que tem opinião e valores, que entende que existe uma luta de afirmação deste país e que está aí, pronta e ansiosa por quem a mobilize por uma causa, mesmo que a espinhosa causa de apoiar quem foi condenado num processo que, embora político até a medula, foi sentenciado num tribunal.
A “vaquinha” não foi contra a justiça nem por piedade humana.
Foi um gesto político, mostrando que há milhares de pessoas prontas a deixar seu conforto, seus interesses pessoais e a se expor, corajosamente, por uma causa que não é a figura de Delúbio ou mesmo a de José Genoíno, com todo o brilho e respeito que ela merece.
A causa é o processo de transformação do Brasil.
Pela qual, meu deus, parece que muitos dirigentes políticos, acham inútil levantar orgulhosamente a bandeira.
Reduzem a política a acordos, posições, verbas, favores, influência e – sejamos sinceros – recursos para candidaturas.
É claro que na prevalência dantesca  que o dinheiro assumiu na vida política brasileira, só um tolo teria a ilusão de que uma campanha – sobretudo as majoritárias – pudesse funcionar apenas com “vaquinhas”.
Os grandes doadores, com a impureza de intenções com que doam, continuarão a ser fonte essencial de financiamento de campanhas, enquanto não se adotar o financiamento público que a direita tanto combate.
As pequenas doações desta “vaquinha”, porém, revelam algo além de seu valor monetário e que não deve ser comemorado, mas ser, sim, objeto de reflexão.
Há quanto tempo o PT e o governo que, sob sua legenda, o povo brasileiro elegeu e reelegeu, não faz uma “vaquinha cívica” pelas causas que o levaram até lá?
Há quanto tempo não se dirigem à opinião pública para dizer que precisam da pequena mobilização que cada um pode dar para criar um caudal de vontade que sustente as mudanças?
Onde está a polêmica, a contestação ao que o coro da mídia diz – como disse dos acusados no “mensalão” – de que tudo está errado e o status quo é perverso, mau e contrário aos direitos do povo brasileiro?
Não é preciso ser radical ou furioso, mas é preciso ser firme e claro.
Os líderes políticos – e os governos que sob sua liderança se erigem – têm um papel didático e mobilizador a desempenhar para com o povo brasileiro.
Sem bandeiras, ele não se une, mas está pronto a unir-se quando estas se levantam, mesmo que absolutamente “contra a maré”, como ocorreu nestes casos.
Precisamos, urgentemente, de uma “vaquinha cívica” pelo Brasil.
Pelo projeto de afirmação que se expressa no desenvolvimento, onde o Estado – e apenas ele – é o fio condutor de políticas eficazes e justas, porque o “santo mercado” é, historicamente, incapaz e mesquinho para tudo o que não seja dinheiro rápido e cego para qualquer visão estratégica de Nação.
Assistimos o Estado brasileiro e suas ferramentas de progresso econômico – a Petrobras, o BNDES, a Caixa, a Eletrobras, o Banco Central – serem diariamente massacradas nos jornais e nas tevês e não vemos, quase nunca fora das campanhas eleitorais, buscar-se a solidariedade da população.
Uma solidariedade que existe e que vive adormecida pela incapacidade – ou opção errônea – de não ser anunciada aos quatro ventos, em lugar de serem gaguejadas explicações e “desculpas” aos senhores do poder real: o poder econômico.
Uma solidariedade que precisa ser despertada, sob pena de que também os nossos sonhos venham a ser condenados.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Magnoli, a Kátia Abreu de cuecas


Magnoli, a Kátia Abreu de cuecas


Por José Ribamar Bessa Freire
05/01/2014 – Diário do Amazonas
Demétrio Magnoli, doutor em Geografia, nunca pisou o chão da aldeia Tenharim em Humaitá, sul do Amazonas, invadida neste natal por madeireiros e outros bichos ferozes. Nunca cheirou carne moqueada de anta cozida no leite de castanha, nem saboreou essa iguaria refinada da culinária Kagwahiva. Jamais ouviu narrativas, poesia ou o som melodioso da flauta Yrerua tocada na Casa Ritual – a Ôga Tymãnu Torywa Ropira. Nem assistiu a festa tradicional – o Mboatava. Para falar a verdade, ele nunca viu um índio Tenharim em toda sua vida, nem nu, nem de tanga ou em traje a rigor. Nunca.
Não sabe o que perdeu. Não importa. O papa também nunca esteve no inferno, nem viu o diabo chupando manga, mas discorre sobre o tema. Desta forma, Magnoli se sentiu à vontade para escrever, na quinta feira, A Guerra do Gentio, no Globo (02/01), no qual comenta o recente conflito, numa área que desconhece e dá palpites sobre a identidade de índios, que nunca viu. Quando a gente carece de experiência e de vivência pessoal, procura as fontes ou quem estudou o assunto. O papa, por exemplo, lê a Bíblia e os teólogos. O que leu Magnoli sobre os Tenharim?
Nada de consistente. Muita gente boa escreveu sobre eles, com uma reconhecida produção etnográfica. Nimuendaju descreveu os Parintintin, com quem conviveu nos anos 1920, no rio Madeira. O gringo Waud Kracke redigiu a tese na Universidade de Chicago, nos anos 1970, depois de gravar os cantos e narrativas na língua Kagwahiva, que aprendeu a falar. Miguel Angel Menéndez viajou pelo Tapajós para a tese de doutorado na USP, no final dos anos 1980. Edmundo Peggion fez uma etnografia dos Tenharim e defendeu sua tese sobre a organização Kagwahiva, na USP, publicada em 2011.
Cacique motoqueiro
O geógrafo Magnoli, formado também pela USP, nem seu souza. Ignora-os, assim como desconhece a documentação dos arquivos. Menciona os jesuítas e o ciclo da borracha, sem apoio de qualquer fonte histórica. Não consultou na Biblioteca de Évora o manuscrito de Manoel Ferreyra, que percorreu a região em meados do séc. XVIII. Para isso, nem precisa viajar a Portugal. Basta ir ao Museu do Índio, no Rio, onde estão também microfilmes de relatórios do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) dos anos 1920-30 redigidos pelo inspetor Bento Lemos, que fornece dados históricos sobre os Tenharim e outros povos Kagwahiva, conhecidos até 1920 pelo nome genérico de Parintintin.
Ou seja, o cara não pesquisou nos arquivos, não leu os antropólogos, nunca ouviu um Tenharim, mas usa a página nobre de um jornal de circulação nacional para cagar regras – essa é a expressão – sobre os Kagwahiva. Pontifica sobre eles num texto que pretende ser infalível como uma encíclica. Insinua que a morte de Ivan Tenharim, na estrada, foi acidente de trânsito como quer a polícia, e não assassinado em uma emboscada como afirmam os índios. Aliás, segundo ele, o “cacique motoqueiro” nem índio é. Rouba-lhe a identidade depois de morto, falando urbi et orbe como o papa:
“O cacique motoqueiro dos Tenharim, as aldeias indígenas que vivem de rendas de pedágios clandestinos, os índios terena e guarani que cultivam melancias em “terras sagradas”para vendê-las no mercado não são “povos da floresta”, mas brasileiros pobres de origem indígena”.
Demétrio dixit. Qual o critério que ele usa para do alto das suas tamancas trombetear quem é índio e quem não é? O mercado. Eis aí: o mercado opera o milagre da transfiguração de índios em ‘brasileiros pobres’. Vendeu uma melancia? Então deixou de ser índio – afirma o contundente Magnoli. Sem o respaldo das ciências sociais, seu discurso deriva para o senso comum. E o senso comum, no caso, se chama Kátia Abreu, senadora, pecuarista e articulista do caderno Mercado da Folha de São Paulo, porta-voz do agronegócio.
Cartilha de Kátia
Magnoli reza pela cartilha de Katia Abreu, a quem segue como um cachorrinho a seu amo. Copia dela ipsis litteris, sem aspas, até a negação da identidade indígena. Só troca ‘silvícola’ por ‘gentio’, mas a ‘matriz epistemológica’ é a mesma: o interesse do agronegócio nas terras indígenas. Se a venda de uma melancia transforma o ‘gentio’ em ‘brasileiro pobre’, então a terra onde a plantou deixa de ser indígena e fica assim liberada para os donos da soja, da cana e do gado. Magnoli não questiona a terra concentrada em mãos de um único fazendeiro, mas o faz quando se trata de comunidades indígenas, manifestando maliciosamente fingida dúvida:
“Muita terra para pouco índio”, diz uma sabedoria popular cada vez mais difundida, mesmo se equivocada” – escreve Magnoli. Que ‘sabedoria’ é essa? Que ‘popular’ é esse? Quem difunde? Se é equivocada, porque ele e outros formadores de opinião espalham tal equívoco? Magnoli repete a mesma lenga-lenga da Katia Abreu – a terra é secundária, o que os índios, “necessitam é, sobretudo, de postos de saúde e escolas públicas”. Critica o termo oficial “desintrusão” para descrever a remoção de todos os não índios das terras indígenas, porque não aceita chamá-los de “intrusos”.
Uma vez mais reproduz o discurso de Kátia Abreu que igualmente não conhece os índios nem de vivência, nem de leitura ou pesquisa, mas também caga regras, que Magnoli copia e o leitor lê, comprando gato por lebre. Copia até o método – a “abreugrafia” – que consiste em dispensar o trabalho de campo e o contato direto com os índios, que nunca são ouvidos contrariando uma regra básica do jornalismo. Reforça preconceitos boçais e chega a ofender os índios quando reproduz acriticamente o discurso do “senso comum”:
“Edvan Fritz, almoxarife, deu um passo conceitual adiante: “Eles [os índios] vêm à cidade, enchem a cara, fazem baderna e fica por isso. Índio é protegido pelo governo que nem bicho, então tem de ficar no mato, não tem que viver em dois mundos, no nosso e no deles” – escreve Magnoli.
O outro lado
É isso que Magnoli transcreve. No entanto, o bom jornalismo manda ouvir o outro lado. Por que quando no “outro lado” estão os índios, quase nunca eles são ouvidos, mesmo quando são bilíngues e falam português? Duas excelentes jornalistas – Elaíze Farias e Kátia Brasil – publicaram no portal Amazônia Real, a entrevista do índio Ivanildo Tenharim, refugiado no quartel do Exército em Humaitá, depois da invasão à aldeia, onde ele dá a sua versão sobre os recentes ataques:
“Existem muitos madeireiros que têm raiva da gente porque eles não podem invadir a reserva para tirar madeira. Tempos atrás, com as operações da Funai e de outros órgãos, eles tiveram carros e tratores apreendidos e ficaram com mais raiva. O que eles fizeram foi aproveitar o momento para se unirem contra nós, se articulando com a população. Foram eles que bancaram o protesto de sexta-feira, quando invadiram as aldeias”.
A Polícia confirma as informações do índio: “Identificamos fazendeiros, madeireiros e funcionários tentando invadir a Terra Indígena Tenharim – declarou o tenente coronel Everton Cruz. A expedição punitiva que saiu de Apuí no dia 26 de dezembro contou com 29 caminhonetes “para fazer buscas aos três homens desaparecidos” – informou o delegado Robson Janes, que apontou também a presença de madeireiros e fazendeiros. Para a líder indígena Margarida Tenharim as acusações de que os três homens foram mortos por índios não tem provas: “É um absurdo. Não fazemos isso”.
Mas a voz dos índios não encontra eco no espaço do jornal gerenciado por Demétrio Magnoli, que aproveita para atacar Lula e o que chama de lulismo, responsáveis – segundo ele – pelos conflitos. Desrespeita, além disso, Dilma Rousseff, a quem denomina depreciativamente de “presidente de direito”, em oposição a Lula que seria o “presidente de facto”. Seu ataque é tão rasteiro e primário que, lendo-o, dá vontade de votar na Dilma, mesmo sabendo de que Kátia Abreu faz parte de sua base aliada. Desconfio que se trata de propaganda subliminar.
Demétrio Magnoli, militante de esquerda do grupo trotskista Liberdade e Luta (LIBELU) nos anos 1980, não ouve o outro lado porque trocou de lado. Agora quem dá as cartas para ele é o agronegócio. Madalena arrependida, Demétrio Magnoli podia ser a Kátia Abreu de paletó e gravata, mas é a Kátia de cueca, que ficaria limpa se lavada nas águas ainda claras do igarapé Preto da aldeia Tenharim.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Nação-pobreza: como os EUA criaram um pântano de baixos salários




Durante décadas, ambos os partidos norte-americanos suplantaram um impulso para salários mais elevados com auxílios públicos bem-intencionados. O resultado: calamidade.

Por Joan Walsh*, na revista Salon


 
Foto: NBC News
2013 é o ano em que muitos norte-americanos descobriram a crise dos trabalhadores pobres. E essa também é a crise dos pobres que vivem de benefícios. Isso é difícil para nós: os norte-americanos que notoriamente detestamos assistencialismo, a menos que seja chamado de outra coisa e/ou nos beneficie pessoalmente. Nós achamos que isso é para os preguiçosos, vagabundos e para pessoas que não fazem a sua parte.

Portanto, não temos certeza de como lidar com o fato de que um quarto das pessoas que têm emprego hoje ganham tão pouco dinheiro que elas também recebem alguma forma de assistência pública, ou benefícios – uma proporção que é muito maior em alguns dos setores de maior crescimento da força de trabalho. Ou que 60% dos adultos beneficiários de auxilio alimentação estão empregados.

Um total de 52% das famílias dos trabalhadores de fast-food recebe assistência pública – a maior parte dela vem do Medicaid [1], vale-refeição e do crédito de imposto sobre rendimento (EITC) [2] – até a quantia de US$7 bilhões anuais, de acordo com uma nova pesquisa do Centro de Pesquisa do Trabalho da Universidade da Califórnia-Berkeley e da Universidade de Illinois.

Segundo o estudo, somente os trabalhadores do McDonald's recebem US$ 1,2 bilhão em ajuda pública. Essa é uma indústria, a propósito, que no ano passado faturou US$ 7,44 bilhões em lucros, paga US$ 52,7 milhões aos seus altos executivos e distribuiu 7,7 bilhões em dividendos e reaquisição de ações. Mesmo assim, “o recebimento de recursos públicos é a regra, e não a exceção, para essa força de trabalho", concluiu o estudo.

Depois, há o Wal-Mart, que, como Josh Eidelson, da Salon, informou recentemente, vangloriou-se numa conferência do Goldman Sachs que "mais de 475 mil" de seus 1,3 milhão de trabalhadores ganham mais de US$ 25mil por ano – o que nos permite inferir que quase 60% ganham menos.

Os democratas do Comitê de Educação e Força de Trabalho estimaram que as gigantescas cadeias de varejo de baixo custo beneficiam-se de muitos bilhões de dólares em financiamentos de assistência pública; um "hipermercado" do Wisconsin custa aos contribuintes pelo menos US$ 1 milhão por ano em assistência pública para as famílias dos trabalhadores. Lembre-se, também, que seis membros da família Walton possuem a riqueza equivalente a de 48 milhões de norte-americanos juntos.

Mas não é só fast-food e Wal-Mart: um em cada três caixas de banco recebe assistência pública, revelou o Committee for Better Banks, na semana passada, a um custo de quase US$ 1 bilhão por ano em ajuda federal, estadual e local. É isso mesmo: uma das indústrias mais rentáveis, privilegiadas e de alto prestígio do país, a do ramo bancário, paga a um setor de seus trabalhadores salários chocantemente baixos e depende dos contribuintes para tirá-los da pobreza. Só em Nova York, 40% dos caixas de banco e seus familiares recebem assistência pública, custando US$ 112 milhões em benefícios estaduais e federais.

Os CEOs dos bancos ganham vários milhões de dólares em bônus quando os lucros aumentam, enquanto milhões de caixas são tão pobres que recebem assistência social. Há algo de errado nisso.

A repulsa pelas empresas rentáveis que pagam salários em nível de pobreza está ajudando a alimentar uma onda de organização há muito esperada e a protestar em nome dos trabalhadores com baixos salários, desde greves de trabalhadores de fast-food que varreram o país até protestos contra o Wal-Mart nessa temporada de férias. Os contribuintes recuam diante da ideia, mas também muitos trabalhadores. "Eu pensei que eu poderia me virar por conta própria. Isso não aconteceu”, disse a funcionária do Wal-Mart Aubretia Edick, ao Huffington Post, que ganha US$ 11,70 por hora e ainda recebe assistência pública. É por isso que ela se juntou a uma greve de um dia. "O Wal-Mart não paga o meu salário", disse. "Você paga o meu salário."

Os EUA agora tem a maior proporção de trabalhadores com baixos salários do mundo desenvolvido, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Um em cada quatro norte-americanos ganha menos de dois terços do salário médio, que é a mesma proporção que depende da ajuda pública. Está se tornando mais amplamente aceito que a disseminação e persistência de empregos de baixos salários esteja por trás do aumento da desigualdade de renda e redução da mobilidade social. O que é menos conhecido é o papel que os democratas têm desempenhado na criação dessa armadilha.

Aumento da desigualdade

Em seu discurso amplamente admirado sobre a desigualdade de renda, do dia 4 de dezembro, o presidente Obama parecia compartilhar todas essas preocupações.

"Nós sabemos que há os trabalhadores do aeroporto, os trabalhadores de fast-food, os auxiliares de enfermagem e os vendedores do varejo que trabalham duro e ainda vivem na pobreza ou um pouco acima dela", disse ele.

Baseado em grande parte naquele discurso e em alguns sussurros vindos da Ala Oeste da Casa Branca, a revista Político anunciou na sexta-feira (13) "O presidente Obama volta-se para a esquerda". Mas, à parte de dizer mais uma vez que é hora de aumentar o salário mínimo, o presidente ainda não colocou muita força em uma agenda de “esquerda” para os trabalhadores com baixos salários.

Também seria bom que Obama reconhecesse: o fato de que tantos norte-americanos "trabalham duro e ainda estão vivendo na pobreza ou um pouco acima dela" e que recebem assistência pública não é apenas um acidente infeliz. É o resultado de uma política pública apoiada por muitos democratas – e ele não tem feito muito para mudá-la ou desafiá-la. Na verdade, o presidente do Conselho de Assessores Econômicos de Obama fez a sua defesa mais vigorosa.

A verdade é que um consenso bipartidário que surgiu na década de 1990 dizia que um emprego, praticamente qualquer emprego, era melhor do que a assistência pública a longo prazo para os chamados adultos "capacitados fisicamente", incluindo as mães com crianças pequenas. Isso levou à controversa reforma da legislação da previdência, que teve ramificações muito além do domínio dos benefícios sociais.

Os republicanos exigiam trabalho de beneficiários da previdência social, a maioria dos democratas concordou, mas exigiu um novo suporte para trabalhadores de baixa renda: uma expansão do EITC, Medicaid e elegibilidade do vale-refeição mais amplos, novos (embora não suficientes) subsídios para cuidados infantis. (Como senador do estado de Illinois, Obama era crítico da ideia, mas, mais tarde, aprovou o acordo.) Os novos programas de apoio também ajudaram milhões de trabalhadores de baixa renda, que nunca tinham necessitado de benefícios; enquanto os salários continuaram estagnando e até mesmo diminuindo, mais pessoas passaram a ser elegíveis.

Mas quando os defensores trabalhistas começaram a perceber e protestar que os empregadores estavam contando com os contribuintes para apoiar a sua força de trabalho há uma década, alguns liberais lhes disseram para não se preocuparem com isso. Respondendo a uma onda anterior de organização contra as práticas trabalhistas do Wal-Mart, o presidente do Conselho de Assessores Econômicos (CEA, na sigla em inglês) do presidente Obama, Jason Furman, escreveu um artigo muito influente em 2005 intitulado "Wal-Mart: uma historia de sucesso progressista" (Oito anos depois, isso soa como se ele estivesse debochando de nós.) O ex-conselheiro econômico de Clinton argumentou que os preços baixos das grandes redes ajudaram os pobres, e que a dependência de seus funcionários à assistência pública não foi um erro, mas uma característica da política social progressista.

Furman reconheceu o presidente Clinton como aquele que presidiu "a transformação da nossa rede de segurança social de um suporte para os indigentes para um sistema que faz o trabalho pagar (…) expansões em apoio aos trabalhadores de baixa renda, incluindo um crédito de imposto sobre rendimento (EITC) mais generoso e esforços para garantir que as crianças não perdessem o seu Medicaid se seus pais conseguissem um emprego de baixa remuneração". Essencialmente, a dependência dos empregados do Wal-Mart em tais programas representou uma boa política social-democrata, Furman argumentou. E em uma troca memorável com Barbara Ehrenreich no site Slate, ele repreendeu os críticos progressistas do Wal-Mart por "brincar com os instintos primitivos antibenefício, antigoverno, anti-imposto de alguns conservadores". (Deixe para um democrata da era Clinton culpar os progressistas pelos bem estabelecidos "instintos primitivos antibenefícios" da direita.)

Embora o artigo de Furman sobre o Wal-Mart seja de oito anos atrás, ele foi amplamente citado como uma razão para os progressistas para questionar a sua nomeação como presidente do CEA no início deste ano (embora economistas progressistas desde Jared Bernstein a Paul Krugman endossaram a sua seleção). Apenas alguns meses atrás, quando a câmara municipal de Washington aprovou uma lei exigindo que grandes varejistas não-sindicalizados pagassem um salário mínimo de 12,50 dólares por hora, o Wal-Mart enviou aos repórteres o artigo de Furman na defesa.

Curiosamente, eu nunca vi Furman defender ou qualificar ou atualizar o artigo, mesmo em face de uma nova onda de movimentos anti-Wal-Mart. Eu não estava completamente confortável em usar um documento de oito anos de idade para defender seus pontos de vista, então pedi aos funcionários de comunicação da Casa Branca se ele falaria comigo sobre isso. Eu não obtive resposta.

Como social-democrata, eu não acho que Furman esteja errado em defender o papel dos programas sociais em melhorar a vida dos trabalhadores de baixa renda. Muitos progressistas acreditam que devemos separar o plano de saúde do emprego por completo, por exemplo, e torná-lo um benefício universal pago por impostos corporativos e impostos de valores máximos, mais as contribuições individuais de escala móvel. Em todo o mundo desenvolvido, os trabalhadores de quase todos os níveis podem contar com planos de saúde, puericultura, formação profissional e de treinamento, e até mesmo (em níveis salariais mais baixos) suplementos salariais financiados pelo governo.

Mas não é calvinismo punitivo ou vergonha dos benefícios em questionar até que ponto que agora é certo que trabalhadores de baixa renda tenham que contar com o vale-refeição e outras intervenções públicas, muitas vezes por um longo tempo, talvez permanentemente. Por não exigirem também aumentos regulares do salário mínimo ou colocar mais força na organização sindical, os democratas ajudaram a criar um vasto conjunto de empregos de baixos salários que paira um pouco acima da linha de pobreza, e às vezes ainda abaixo dela, graças à assistência pública, e não tem a força econômica e política para melhorar os salários e as condições de trabalho. Isso não pode ser bom para ninguém.

Na verdade, a noção de que tantos milhões de pessoas trabalham tão duro e ainda são pobres o suficiente para receber ajuda pública está aumentando: ela ajuda a mostrar que os salários baixos, não a falta de esforço ou "dependência", são, em parte, aquilo que está fazendo encolher a classe média. Não apenas os contribuintes, mas também os trabalhadores de baixa renda acham que sair da pobreza, com a ajuda de vale-refeição, Medicaid e o EITC, deve ser apenas uma vitória temporária a caminho de um lugar sólido no mercado de trabalho onde o trabalho é devidamente remunerado.

Eu certamente não estou demonizando a assistência pública. Nós ainda gastamos uma ninharia para ajudar os trabalhadores de baixos salários em comparação com o apoio social desfrutado por seus pares em outras nações prósperas. Os progressistas certamente estão orgulhosos de um estudo recente que mostrou que os programas de combate à pobreza, de fato, tiram as pessoas da pobreza – cerca de um quarto dos americanos viveriam abaixo da linha da pobreza se não fosse pelo apoio social, em oposição a um triste 16 por cento hoje. Isso deve obliterar a história infundada de Reagan de que "nós lutamos uma guerra contra a pobreza, e a pobreza venceu".

Mas a cada dólar que o contribuinte paga para subsidiar as empresas que pagam salários de miséria é um dólar não gasto em programas de primeira infância, na construção de universidades ou no financiamento da educação universitária. Sim, precisamos de redes de segurança, mas também precisamos de escadas de oportunidade. O gasto do governo que construiu a classe média depois da Segunda Guerra Mundial foi em educação e pesquisa, e foi apoiado pela mais eficaz iniciativa antipobreza do New Deal: a Lei Wagner, que facilitou a organização sindical.

Hoje, temos uma rede de segurança puída, mas essas escadas de oportunidade são ainda mais frágeis e pouco confiáveis. Nós simplesmente não estamos construindo-as – e é por isso que nós estamos enfrentando uma crise de desigualdade de renda e uma estagnação da mobilidade social, que costumava ser o coração do sonho americano.

Questão trabalhista

O presidente Obama pareceu reconhecer ao menos alguma conexão entre a proliferação de empregos de baixos salários e a crise de desigualdade de renda em seu discurso marcante de 4 de dezembro. Condenando o aumento do número de postos de trabalho que pagam salários a nível de pobreza, ele declarou que "já está mais do que na hora de aumentar o salário mínimo que, em termos reais, agora está abaixo de onde estava quando Harry Truman estava no governo", e acrescentou que "está em tempo de garantir que as nossas leis coletivas de negociação funcionem como deveriam, e assim os sindicatos terão condições de concorrência equitativas para organizar um acordo melhor para os trabalhadores e melhores salários para a classe média". Ele também se comprometeu a reconstruir as "escadas de oportunidade" que fizeram a sua família e milhões de outras, incluindo a minha, subir da classe trabalhadora para a classe média. Dado o balanço de extrema-direita do Partido Republicano, no entanto, não é provável que ele seja capaz de fazer muito disso acontecer.

O que me leva ao outro problema dos trabalhadores de baixa renda que estão sendo obrigados a depender da assistência pública: eles são, infelizmente, vulneráveis a serem bode expiatório político e política baixa. O deputado Paul Ryan chama a rede de segurança de "rede de praia", o que é horrível quando sabemos que muitas pessoas tem pelo menos um, e talvez dois, empregos e ainda permanecem pobres. Mitt Romney investiu contra os 47% dos norte-americanos que não pagam imposto de renda federal, o que inclui milhões de trabalhadores de baixa renda que recebem o crédito fiscal dos rendimentos auferidos (EITC), mesmo que esse tenha sido uma ideia republicana, assinada em lei pelo presidente Gerald Ford e expandida por ambos os presidentes Bush.

Mas os republicanos não estão fazendo pressão para aumentar o salário mínimo ou tornar mais fácil para os trabalhadores de baixa renda organizar sindicatos. A resposta deles é retirar a rede de segurança dos trabalhadores sem a construção de escadas que os fariam subir. E com cortes do vale-refeição, eles estão conseguindo o que eles querem.

Neste momento, a melhor resposta é um movimento operário revigorado em nome dos trabalhadores com baixos salários, e é revitalizando vê-lo se desenvolver. Em um nível, é surpreendente que tenha levado tanto tempo. Muitos empregos de baixos salários têm a vantagem de serem de base territorial, eles não podem se mudar para países em desenvolvimento. Os drones não vão entregar o seu hambúrguer do McDonald's num futuro próximo, e o Wal-Mart não pode vender tudo online, senão ele iria. Os caixas de banco já foram dizimados por caixas eletrônicos e pelos serviços bancários online; aqueles que ainda têm emprego os têm porque são necessários.

Mas também seria importante para mais pessoas – mais democratas – reconhecer o papel que a política tem desempenhado na criação desse pântano de empregos de baixos salários que tem sido um pouco menos miserável devido aos subsídios públicos. Como a desigualdade de renda aumentou, a mobilidade social, marca registrada dos EUA, diminuiu. A crise dos empregos de baixos salários é cada vez mais reconhecida como parte daquilo que está ampliando a desigualdade e retardando a mobilidade social. No quinto ano de sua presidência, Obama está ficando melhor em descrever o problema, mas ele precisa fazer mais para apoiar os trabalhadores que estão tentando pressionar por soluções.

Notas:

1. Medicaid: programa de assistência médica dos EUA para famílias e indivíduos de baixa renda.

2.Earned Income Tax Credit: crédito recebido através do imposto de renda federal dado para trabalhadores ou casais – principalmente aqueles com filhos menores de idade.

*É editor, jornalista e blogueiro

Tradução: Moisés Sbardelotto

Monsanto e o poder do veneno


Monsanto e o poder do veneno

Editorial do jornal Brasil de Fato: via blog do MIRO


Os ratos alimentados, a vida toda, com o milho transgênico da Monsanto desenvolveram câncer, problemas hepático-renais e morte prematura em índices bem superiores aos que receberam outro tipo de alimentação. 

Um estudo publicado em 2012, liderado pelo pesquisador francês Gilles-Éric Séralini, mostrou que 50% dos machos e 70% das fêmeas morreram de forma prematura, contra, respectivamente, 30% e 20% dos do grupo que não comeram o milho do Monsanto. 

Se não bastasse a gravidade da denúncia, uma vez que o milho é um dos principais alimentos dos seres humanos, o caso explicitou a outra face da gigante empresa estadunidense do agronegócio: sua ingerência política nos âmbitos científicos. 

A revista, a Food and Chemical Toxicology, mesmo reconhecendo que o artigo de Séralini é sério e não apresenta incorreções, se retratou da sua publicação, dizendo que o estudo não é conclusivo. 

A retratação ocorreu depois de uma agressiva campanha contra o trabalho do pesquisador francês e, pasmem, após a revista ter contratado como editor especial Richard Goodman, ex-funcionário da Monsanto! 

Não faltaram espaços nos meios de comunicação para cientistas, dos centros de pesquisas financiados pela Monsanto, pela Syngente e pela Bayer, repetirem críticas – parciais e inexatas – apenas horas depois da publicação do artigo. 

A agência de notícias Adital, que publicou essas informações, não esqueceu de lembrar que o mesmo tipo de perseguição sofreu o mexicano Ignacio Chapela, quando publicou na revista Nature um artigo em que denunciava que o milho camponês da região de Oaxaca/México havia sido contaminado pelo transgênico da Monsanto. 

A repetição dessa prática fez com que a Unión de Científicos Comprometidos con la Sociedad emitisse um comunicado condenando a pressão que as empresas transnacionais fazem para que as revista científicas se retratem dos estudos que confirmam danos à saúde pelo consumo dos seus produtos. 

O Prêmio Nobel de Medicina/ 2013, Randy Schkman, já havia alertado sobre a promiscuidade das revistas científicas com os grandes grupos empresariais, causando danos à ciência. 

Em julho, a ONG europeia, protetora do meio ambiente, Amigos da Terra e a Federação para meio Ambiente e Proteção à Natureza Deutschland (BUND) se prepararam para apresentar um estudo sobre os efeitos do herbicida glifosato no corpo humano. Os herbicidas que contêm glifosato são carros-chefe da Monsanto. O estudo seria apresentado em 18 países. Misteriosamente, dois dias antes da publicação do estudo, um vírus paralisou o computador do principal organizador do evento. Em nenhum momento se responsabilizou a Monsanto pelo ocorrido. 

No entanto, não são desconhecidas as estreitas relações que essa empresa mantém com serviços secretos estadunidenses, com as forças armadas, em empresas de segurança privadas e, principalmente, junto ao governo dos EUA. 

É possível que as relações que a empresa mantém com esse poderoso aparato, com inimaginável capacidade investigativa e repressiva, tenham vínculos com os numerosos relatos de ataques cibernéticos regulares, com padrão profissional, que sofrem os críticos da Monsanto. 

Com todo esse poderio políticoeconômico, a empresa estadunidenses foi mencionada, inúmeras vezes, com uma ativa coautora do golpe de Estado paraguaio, em junho de 2012, que afastou o presidente democraticamente eleito, Fernando Lugo. 

O educador Juan Diaz Bordenavce, falecido em novembro de 2012, escreveu que, entre os dez fatores que serviram como detonadores do golpe, estava o “aumento da proibição de sementes transgênicas, o que poderia afetar os enormes lucros da multinacional norte-americana Monsanto”. 

Com o passar dos dias, evidenciou- se ainda mais a participação das transnacionais Monsanto e Cargill, em conluio com a oligarquia latifundiária, as elites empresariais e sua mídia, na execução do golpe. 

Essa folha corrida da Monsanto é mais um elemento favorável à Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4650, proposta no STF pela OAB, solicitando fim das doações de campanha eleitoral por pessoas jurídicas. 

Não causa surpresa ver que ministros do STF, safos, como Gilmar Mendes, se posicionem contrários à ação da OAB. Os campos de atuação e os interesses comuns ficam cada vez mais evidenciados.