segunda-feira, 11 de agosto de 2014

redecastorphoto: ISIL consolida-se

ISIL consolida-se


1/8/2014, [*] Patrick Cockburn, LRB, vol. 36, n. 16, p.
3-5
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Fosse qual fosse o objetivo de os EUA terem invadido o Iraque em 2003 e
de tantos esforços para derrubar Assad na Síria desde 2011, com certeza não o
fizeram para ver surgir um estado jihadista que só faz crescer no norte do
Iraque e Síria, comandado por movimento cem vezes maior e muito mais bem
organizado que a al-Qaeda de Osama bin Laden. A guerra ao terror, pela qual se
feriram de morte as liberdades civis e na qual se consumiram centenas de
bilhões de dólares, falhou miseravelmente.


Presença do ISIS/ISIL na Síria e no Iraque
Com a atenção do mundo focada em Ucrânia e Gaza, o Estado
Islâmico no Iraque e Síria (ing. ISIL) capturou um terço da Síria além
do um quarto do Iraque que já capturara em junho. As fronteiras do novo
califato [1] declarado dia 29/6/2014
pelo ISIL estão crescendo dia a dia e já cobrem superfície maior que a
Grã-Bretanha e habitada por pelo menos 6 milhões de pessoas, população maior
que da Dinamarca, Finlândia ou Irlanda.




Em poucas semanas de combates na Síria o ISIL já se
estabeleceu como força dominante da oposição síria, deslocando a afiliada
oficial da al-Qaeda, Frente al-Nusra, na província de Deir Ezzor, rica em
petróleo, depois de executar seu comandante local, quando tentava fugir. No
norte da Síria, cerca de 5 mil combatentes do ISIL estão usando tanques
e artilharia que capturaram do exército iraquiano em Mosul, para sitiar meio
milhão de curdos no enclave onde vivem em Kobani, na fronteira turca. 




Na Síria central, perto de Palmyra, ISIL combateu
contra o exército sírio para assumir o controle do campo de gás de al-Shaer, um
dos maiores do país, num ataque surpresa que deixou cerca de 300 soldados e
civis mortos. O exército precisou de vários contra-ataques, até que finalmente
retomou o controle do campo de gás, mas o ISIL está controlando grande
parte da produção de gás e petróleo da Síria. O Califato é pobre e isolado, mas
seus poços de petróleo e as estradas que controlam garantem-lhe renda
considerável, além do que a guerra permite saquear.




O nascimento do novo estado é a mudança mais radical na
geografia política do Oriente Médio desde que o Acordo Sykes-Picot foi
implementado no fim da Iª Guerra Mundial. 




Acordo Sykes-Picot - 1916 (Oriente Médio)
Contudo, essa transformação explosiva criou
surpreendentemente pouco alarme internacional, nem mesmo entre os que, no
Iraque e Síria, ainda não estão sendo governados pelo ISIL. Políticos e
diplomatas tendem a tratar o ISIL como se fosse uma espécie de partido
beduíno que surge repentinamente em pleno deserto, vence vitórias espetaculares
e em seguida recolhe-se para suas fortalezas, deixando o status quo
praticamente inalterado. É cenário possível, mas cada dia menos provável, à
medida que o ISIL consolida o próprio poder numa área que rapidamente se
vai estendendo do Irã ao Mediterrâneo.




A própria velocidade e o inesperado do surgimento e da
ascensão têm induzido líderes regionais e ocidentais a desejar que a queda do ISIL
e a implosão do Califato sejam igualmente rápidas e dramáticas. Mas tudo sugere
que não passe de pensamento desejante, e a tendência parece ser que tudo ande
na direção exatamente oposta, com os opositores do ISIL mais fracos dia
a dia e cada vez menos capazes de resistir: no Iraque o exército não dá sinais
de ter-se recuperado das derrotas iniciais e ainda não conseguiu um único
contra-ataque bem-sucedido; na Síria, outros grupos de oposição, inclusive os
experientes combatentes da Frente al-Nusra e de Ahrar al-Sham, estão
desmoralizados e em desintegração, acossados de um lado pelo ISIL e, do
outro, pelo governo Assad. 




Karen Koning Abuzayd
Karen Koning Abuzayd, membro da Comissão de Inquérito da
ONU sobre a Síria, diz que cada vez mais rebeldes sírios desertam para unir-se
ao ISIL:




Eles veem que é melhor; são mais fortes, vencem batalhas, tomam
territórios. Eles dizem “eles têm dinheiro, podem nos dar treinamento”.




É má notícia para o governo, que em 2012 e 2013 resistiu
com sacrifício a assalto que recebeu de rebeldes muito menos bem treinados,
organizados e armados que o ISIL; e que enfrentará dificuldades reais
para impedir que as força do Califato avancem para oeste.




Em Bagdá houve choque e horror dia 10/6/2014, ante a queda
de Mosul; e as pessoas perceberam que caminhões carregados de bandidos armados
do ISIL estavam a uma hora de distância, de carro. Mas em vez de
assaltar Bagdá, o ISIL tomou quase toda a província de Anbar, a grande
província sunita que se estende pelo oeste do Iraque, na duas margens do rio
Eufrates. Em Bagdá, com população de sete milhões, majoritariamente xiitas, as
pessoas sabem o que esperar, se os assassinos antixiitas do ISIL
capturarem a cidade; mas agarram-se à esperança de que a calamidade ainda não
aconteceu.




Tivemos medo do desastre militar inicial, mas quem vive em Bagdá já se
acostumou com crises ao longo dos últimos 35 anos
– disse uma mulher.




Mesmo com o ISIL às portas dali, os políticos iraquianos
continuaram com seus joguinhos, ocupados só com substituir o desacreditado primeiro-ministro
Nouri al-Maliki.




É verdadeiramente surreal, se se ouve qualquer líder político em Bagdá,
ele fala como se já não tivessem perdido metade do país
− disse um ex-ministro iraquiano.




Ali al-Sistani
Voluntários partiram para o front depois de uma fatwa emitida pelo Grande Aiatolá  Ali al-Sistani, o mais influente clérigo
xiita do Iraque. Mas esses combatentes já estão voltando para casa, reclamando
que passaram fome e foram obrigados a usar as próprias armas e a pagar pela
própria munição. O único grande contra-ataque lançado pelo exército regular e a
recém organizada milícia local xiita foi ação desastrada em Tikrit, dia
15/7/2014, quando foram emboscados e derrotados com pesadas baixas. Não há
nenhum sinal de que a natureza disfuncional do exército iraquiano tenha mudado.




Usaram só um helicóptero para dar apoio às tropas em Tikrit. Queria só
saber: o que, afinal, aconteceu aos 140 helicópteros que o estado iraquiano
comprou em anos recentes?
– disse o ex-ministro.




O mais provável é que o dinheiro para pagar os 139
helicópteros que faltam tenha sido roubado. Há muitos estados completamente
corruptos no mundo, mas poucos põem a mãos em US$ 100 bilhões, da venda de petróleo,
por ano, para roubar. O principal objetivo de muitos oficiais sempre foi ter a
maior mochila possível; e pouco se incomodam se os grupos jihadistas fizerem o
mesmo. Conheci um empresário turco em Bagdá que contou que tivera um grande
contrato de construção em Mosul ao longo dos últimos alguns anos. O emir local
ou líder do ISIL, ainda conhecido então como al-Qaeda no Iraque, pedia US$
500 mil dólares por mês, como “dinheiro de proteção”.




Cansei de denunciar a extorsão ao governo em Bagdá. Nunca fizeram nem
jamais fariam coisa alguma, exceto dizer que eu podia acrescentar ao contrato o
dinheiro que pagava à al-Qaeda
– disse-me o empresário.




O emir acabou morto logo depois, e seu sucessor exigiu que
o dinheiro de proteção aumentasse para US$ 1 milhão por mês. O empresário
recusou-se a pagar; um de seus empregados iraquianos foi assassinado; e o homem
mudou-se, com sua equipe turca e suas máquinas, para a Turquia.




Tempos depois, recebi mensagem da al-Qaeda dizendo que o preço voltara aos
US$ 500 mil dólares e eu podia retornar
– contou-me ele.




Aconteceu pouco antes de o ISIL capturar a cidade.




ISIS/ISIL desfila na conquista de Mosul
Ante esses fracassos, a maioria xiita do Iraque tem-se
consolado com duas crenças que, se confirmadas, indicarão que a atual situação
não é tão perigosa quanto parece. Dizem que os sunitas do Iraque revoltaram-se,
e os combatentes do ISIL não passam de tropa de choque, ou uma espécie
de combatentes de vanguarda de um levante provocado pelas políticas e ações
antissunitas de Maliki. Tão logo Maliki seja substituído, como quase com
certeza será, Bagdá oferecerá aos sunitas um novo acordo de partilha de poder
com autonomia regional semelhante à de que os curdos gozam. Então, as tribos
sunitas, ex-oficiais militares e Baathistas que permitiram que o ISIL
assumisse a liderança da revolta sunita voltar-se-ão contra aqueles seus
ferozes aliados. Apesar dos muitos sinais do contrário, xiitas de todos os
níveis têm investido muita fé nesse mito, de que o ISIL é fraco e pode
ser facilmente descartado por sunitas moderados, tão logo tenham alcançado o que
querem. Um xiita disse-me:




É possível até que o ISIL nem exista, de fato. 




Desgraçadamente, não apenas o ISIL existe, como,
ainda pior, é organização eficiente e cruel, que não tem intenção alguma de
esperar pela traição dos seus aliados sunitas. Em Mosul já exigiu que todos os
combatentes da oposição jurassem fidelidade ao Califato ou depusessem armas. No
final de junho, início de julho, prenderam algo entre 15 e 20 comandantes do
tempo de Saddam Hussein, inclusive dois generais. Grupos que exibiam fotos de
Saddam receberam ordens para recolhê-las, ou enfrentar a punição. 




Não me parece provável que o resto da oposição militar sunita consiga
levantar-se com sucesso contra o
ISIL. Se quiserem fazê-lo,
melhor agirem rápido, antes que o
ISIL torne-se forte demais − disse 
Aymenn al-Tamimi, especialista em grupos jihadistas.




Disse também que a ala supostamente mais moderada da
oposição sunita nada fizera, quando os remanescentes da comunidade cristã em
Mosul foram forçados a fugir, depois que o ISIL decretou que ou se
convertessem ao Islã, ou pagassem um imposto especial, ou seriam executados.
Membros de outras seitas e grupos étnicos denunciados como xiitas ou
politeístas têm sido perseguidos, aprisionados e assassinados. Já vai longe o
momento em que a oposição não-ISIL poderia ter tentado qualquer tipo de
confrontação.




Campos de petróleo & gás no Iraque
Os xiitas iraquianos têm mais uma explicação de por que o
exército desintegrou-se: porque teria sido apunhalado pelas costas pelos
curdos. No esforço para afastar de si a culpa, Maliki tem dito que Erbil, a
capital curda, “é quartel-general do ISIL, de Baathistas, da al-Qaeda e
de terroristas”. Muitos xiitas acreditam nisso: fá-los sentir que as suas
forças de segurança (em termos nominais 350 mil soldados e 650 mil policiais)
falharam porque foram traídas, não porque se recusaram a lutar. Um iraquiano me
disse que esteve num jantar de Iftar durante o Ramadã, com uma centena de
profissionais xiitas, a maioria médicos e engenheiros, e todos aceitavam como
correta a teoria de “os curdos nos apunhalaram pelas costas” para explicar tudo
que saiu errado. 




Massoud Barzan
A confrontação com os curdos é importante, porque torna
possível criar uma frente unitária contra o ISIL. O líder curdo, Massoud
Barzani, aproveitou-se da saída do exército iraquiano para tomar todos os
territórios, inclusive a cidade de Kirkuk, objeto de disputa entre curdos e
árabes desde 2003. Tem agora uma fronteira comum de 600 milhas com o
Califato e é um aliado óbvio para Bagdá, onde os curdos participam do governo.
Ao fazer dos curdos e seu bode expiatório, Maliki garante que os xiitas não
tenham aliados na luta deles contra o ISIL se o ISIL retomar seu
ataque na direção de Bagdá. A fragilidade militar do governo de Bagdá foi
surpresa para o ISIL e seus aliados sunitas. É pouco provável que se
satisfaçam com autonomia regional para províncias sunitas e parte maior na
partilha de empregos e da renda do petróleo. O levante deles está convertido em
ampla contrarrevolução que visa a retomar o poder em todo o Iraque.




No momento, Bagdá vive sob pouco convicta atmosfera de
guerra, como Londres ou Paris no final de 1939 ou início de 1940, e por razões
similares. As pessoas temeram batalha terrível pela capital depois da queda de
Mosul, mas não aconteceu até agora, e os otimistas esperam que não aconteça
nunca. A vida é menos confortável que antes, em alguns dias só há quatro horas
de eletricidade, mas pelo menos a guerra ainda não chegou ao coração da cidade.
Seja como for, algum tipo de ataque militar, direto ou indireto, provavelmente
acontecerá, tão logo o ISIL tenha consolidado seu controle sobre o
território que acaba de conquistar: o grupo vê suas vitórias como inspiradas
por Deus. Creem no processo de matar ou expulsar xiitas, mais do que de
negociar com eles, como já demonstraram em Mosul. Alguns líderes xiitas podem
estar supondo e considerando que os EUA ou o Irã sempre intervirão para salvar
Bagdá, mas essas potências, hoje, relutam em pôr os pés no pântano iraquiano e
apoiar um governo disfuncional.




Os líderes xiitas do Iraque ainda não se renderam ao fato
de que seu tempo de dominação sobre o estado iraquiano até que os EUA
derrubaram Saddam Hussein acabou-se, ou dele só resta bem pouca coisa. Acabou
por causa da própria incompetência e corrupção dos xiitas e porque o levante
sunita na Síria em 2011 desestabilizou o equilíbrio sectário do poder no
Iraque. Três anos depois, a vitória sunita no Iraque liderada pelo ISIL ameaça
romper o impasse militar na Síria.




Situação Geral no Iraque (6/8/2014)

(clique no "link" para aumentar)
Assad tem conseguido avançar lenta mas firmemente contra
uma oposição cada vez mais fraca: em Damasco e arredores, nas montanhas
Qalamoun e na fronteira do Líbano e em Homs, forças do governo têm avançado
devagar, mas já estão bem perto de cercar o encave rebelde em Aleppo. Mas as
tropas de combate de Assad são visivelmente pouco densas em solo, têm de evitar
grande número de baixas e só podem combater num front de cada vez. A tática do governo é devastar um distrito onde
estejam os rebeldes com fogo de artilharia e bombardeio de helicópteros, forçar
a maior parte da população a deixar a área, vedar o que já é um mar de ruínas
e, afinal, forçar os rebeldes à rendição. Mas a chegada de grandes números de
combatentes bem armados do ISIL, ainda movidos pelo entusiasmo de
sucessos recentes, será novo e perigoso desafio que Assad terá de enfrentar.
Eles já arrasaram duas importantes guarnições do exército sírio no leste, no
final de julho (uma teoria conspiracional, para a qual muito contribuíram o
restante da oposição síria e diplomatas ocidentais, segundo a qual o ISIL
e Assad estariam mancomunados, já se comprovou absolutamente falsa).




É possível que ISIL decida avançar sobre Aleppo, em
vez de avançar para Bagdá: é alvo mais vulnerável e com menos probabilidade de
desencadear intervenção internacional. Assim se criará um dilema para o
ocidente e seus aliados regionais – Arábia Saudita e Turquia: sua política
oficial visa a derrubar Assad, mas o ISIL vai-se convertendo na segunda
mais poderosa força militar na Síria. Se Assad cair, o Califato estará em boa
posição para ocupar o lugar dele. 




Situação Geral na Síria de 17 - 25/7/2014
(clique no "link" para aumentar)
Como os líderes xiitas em Bagdá, os EUA e aliados
responderam com mergulho num universo de fantasia, ao crescimento do ISIL.
Tentam convencer-se (e fazer-crer) que estariam alimentando uma ‘'terceira
força'’ de rebeldes sírios moderados para combater contra simultaneamente Assad
e ISIL, embora, em conversas privadas, diplomatas ocidentais admitam que
tal grupo realmente não existe fora de um poucos bolsões sob ataque. Aymenn
al-Tamimi confirmou que essa oposição apoiada pelo ocidente “está mais e mais
fraca, a cada dia”; acredita que fornecer-lhe mais armas não fará qualquer
grande diferença. A Jordânia, pressionada por EUA e Arábia Saudita, deve
garantir plataforma de lançamento para essa aventura arriscada, mas já está
procurando meio para “tirar o corpo”.




A Jordânia tem medo do ISIL disse, em Amã, um funcionário da Jordânia. – A maioria dos jordanianos deseja que Assad
vença essa guerra
. Disse também que a
Jordânia tem de enfrentar a pressão de acomodar grande número de refugiados
sírios
, o equivalente a toda a
população do México mudar-se, em um ano, para os EUA.




********************




Os pais adotivos do ISIL e de outros movimentos de
sunitas jihadistas no Iraque e na Síria são a Arábia Saudita, as monarquias do
Golfo e a Turquia. Não significa que os jihadistas não tenham fortes raízes
locais, mais o crescimento dos movimentos foi crucialmente apoiado por
potências sunitas externas. A ajuda de sauditas e qataris é basicamente
financeira, em geral mediante doações privadas, que Richard Dearlove,
ex-diretor do MI6, diz que foram essenciais para que o ISIL tomasse as províncias sunitas no norte do Iraque: Essas coisas não acontecem espontaneamente.
Em conferência em Londres, em julho, ele disse que




(...)
a política saudita para os jihadistas tem dois motivos contraditórios: medo de
ter jihadistas operando dentro da Arábia Saudita; e um desejo de usá-los contra
potências xiitas fora da Arábia Saudita
. Disse que: (...) os sauditas são profundamente atraídos a
favor de qualquer militância com chances de efetivamente desafiar o xiismo
. 




É bem pouco provável que a comunidade sunita como um todo,
no Iraque, se tivesse aliado ao ISIL sem o apoio que a Arábia Saudita
deu direta ou indiretamente a muitos movimentos sunitas. O mesmo vale para a
Síria, onde o príncipe Bandar bin Sultan, ex-embaixador dos sauditas em
Washington e chefe da inteligência saudita de 2012 até fevereiro de 2014,
estava fazendo todo o possível para garantir apoio à oposição jihadista, até
ser demitido. Agora, assustados ante o que ajudaram a criar, os sauditas tentam
mover-se agora noutra direção, prendendo voluntários jihadistas, mais do que
fingindo que não veem quando partem para Síria e Iraque. Mas pode ser tarde
demais.




Os jihadistas sauditas não têm grande amor pela Casa de
Saud. Dia 23/7/2014, o ISIL lançou um ataque contra um dos últimos
quartéis do exército sírio na província de Raqqa, no norte. Começou com um
ataque de suicida em carro-bomba. O veículo era dirigido por um saudita, Khatab
al-Najdi, que colou, nas janelas do carro, fotos de três mulheres presas em
prisões sauditas; uma delas, Hila al-Kasir, sua sobrinha. 




Fronteira Líbano-Síria - Religiões
O papel da Turquia tem sido diferente, mas não menos
significativo que o da Arábia Saudita, ajudando o ISIL e outros grupos
jihadistas. A mais importante ação da Turquia tem sido manter aberta sua
fronteira de mais de 800
quilômetros, com a Síria. Com isso, ISIL,
al-Nusra e outros grupos da oposição têm sempre uma saída/entrada pela
retaguarda, por onde receber homens e armas. Os pontos de passagem na fronteira
têm sido locais da disputas mais encarniçadas durante a “guerra civil dos
rebeldes, dentro da guerra civil”. Muitos jihadistas estrangeiros cruzaram a
Turquia na viagem rumo à Síria e ao Iraque. É difícil obter números precisos,
mas o Ministério do Interior do Marrocos disse recentemente que 1.122
jihadistas marroquinos haviam entrado na Síria, incluídos os 900 que viajaram
em 2013, 200 dos quais foram mortos. A segurança iraquiana suspeita de que a
inteligência militar turca tenha-se envolvido profundamente na ajuda ao ISIL,
quando se reconstituía, em 2011. Relatos que chegam da fronteira turca informam
que o ISIL já não é bem-vindo; mas com as armas capturadas do exército
iraquiano e a tomada de campos de petróleo e gás sírios, o ISIL já não
carece tanto de ajuda externa.




Para EUA, Grã-Bretanha e demais potências ocidentais, o
crescimento do ISIL e do Califato é desastre total, absoluto.
 




Fosse qual fosse o objetivo de terem invadido o Iraque em
2003 e de tantos esforços para derrubar Assad na Síria desde 2011, com certeza
não o fizeram para ver surgir um estado jihadista que só faz crescer no norte
do Iraque e Síria, comandado por movimento cem vezes maior e muito mais bem
organizado que a al-Qaeda de Osama bin Laden. A guerra ao terror, pela qual se
feriram de morte as liberdades civis e na qual se consumiram centenas de
bilhões de dólares, falhou miseravelmente. 




A crença de que o ISIL estaria interessado só em
lutas de “muçulmanos contra muçulmanos” é mais um exemplo de pensamento
delirante desejante: o ISIL já mostrou que combaterá contra qualquer um
que não se renda à sua variante puritana, pervertida e violenta de islamismo. A
grande diferença ente o ISIL e a al-Qaeda é que é movimento militar bem
organizado, que se dedica a selecionar cuidadosamente os próprios alvos e o
momento ótimo para atacá-los.




Em Bagdá, muitos contam com que os excessos do ISIL
– explodir mesquitas e violar santuários, como em Younis (Jonah) em Mosul –
acabará por levar os sunitas a se afastarem do movimento. É possível que
aconteça, no longo prazo; mas opor-se ao ISIL é extremamente perigoso e,
por sua brutalidade, está podendo oferecer vitórias a uma comunidade sunita
sempre perseguida e derrotada. Até os sunitas em Mosul, que não gostam deles,
temem um retorno de algum governo iraquiano vingativo dominado por xiitas. Até
aqui, a resposta de Bagdá ante a própria derrota foi bombardear Mosul e Tikrit
indiscriminadamente, o que indica claramente à população local que o governo de
Maliki não está preocupado nem com a sobrevivência de civis. O medo não mudará,
nem se Maliki for substituído por um primeiro-ministro mais conciliador. 




Em Mosul, um sunita, pouco depois de um míssil disparado
por forças do governo explodir na cidade, escreveu-me:




Forças de Maliki já demoliram a Universidade de Tikrit. São só escombros e
confusão por toda a cidade. Se Maliki nos pegar em Mosul, matará todo mundo ou
criará uma multidão de refugiados. Rezem por nós.




Esse tipo de avaliação é frequente e indica que é cada vez
menos provável que os sunitas se levantem em oposição ao ISIL e seu
Califato.




Nasceu um estado: novo e aterrorizante.
___________________
[*] Patrick Cockburn (nasceu 05 de março de 1950) é um jornalista
irlandês que tem sido correspondente no Oriente Médio desde 1979 para o Financial
Times
e, atualmente, The Independent.
Está entre os comentaristas mais experientes no
Iraque; escreveu quatro livros sobre a história recente do país. Recebeu o
vários prêmios por seu trabalho incluindo o Prêmio Gellhorn Martha em 2005, o
Prêmio James Cameron em 2006 e o Prêmio Orwell de Jornalismo em 2009. Cockburn
escreveu três livros sobre o Iraque: One, Out of the Ashes: The Resurrection
of Saddam Hussein
, escrito em parceria com seu irmão Andrew Cockburn, antes
da guerra no Iraque. O mesmo livro foi mais tarde re-publicado na Grã-Bretanha
com o título:  Saddam Hussein: An
American Obsession
. Mais dois foram escritos por Patrick sozinho após a
invasão dos EUA e após a sua reportagem premiada do Iraque.
Escreve também para CounterPunch e London Review of Books.
__________________
Observação da
redecastorphoto


[1] Califato (neologismo)
termo tal como é escrito nas traduções do pessoal da Vila Vudu não
foi encontrado registro em nenhum dicionário na língua portuguesa que tenhamos tido
acesso Todos reproduzem, com mais ou menos detalhes, as definições de califado do Dicionário Houaiss a
seguir:


.


califado (Dicionário
Houaiss)


s.m. (1651)
1  jur no direito muçulmano, conjunto de princípios seguidos por
chefes políticos e religiosos após a morte de Maomé (c570-632) 2 dignidade
ou jurisdição ('poder') de califa 3 
p.met. área ou território governado por um califa 3.1  p.ext. governo de um califa 3.2  p.ext. tempo de duração do governo de
um califa
¤ etim califa + -ado.


Definições
semelhantes podem ser encontradas nos Dicionários Caldas Aulete e Laudelino
Freire
(Ed. A Noite) por nós consultados.




Existe um registro de “Califato” no Dicionário Nossa Língua
Portuguesa
que diz:




No momento não dispomos do significado
de califato
. Ou a grafia da palavra califato está incorreta ou essa palavra ainda não
foi adicionada ao nosso banco de dados.




Provavelmente
é um anglicismo derivado de califate:




Translation
and Meaning of califato in Almaany English-Portuguese Dictionary


califate:


califato, domínio de um califa


























Synonyms and
Antonymous of the Word califato in
Almaany dictionary

Magistério de Curitiba em greve....

Curitiba: professores fazem greve por aumento e plano de carreira


Professores da rede municipal de Curitiba iniciaram greve nesta segunda-feira (11) por reajuste e Plano de Cargos e Carreiras. De acordo com o Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (Simmac), a adesão ao movimento paralisou 90% das 184 escolas do município.


Sismmac
 Educadores saíram em passeata até a prefeitura de Curitiba
Educadores saíram em passeata até a prefeitura de Curitiba
 
Pela manhã, a categoria realizou ato em frente à Câmara Municipal de Vereadores e saiu em passeata até a prefeitura. Empunhando faixas e cartazes, os professores reivindicam aumento salarial e exigem a implantação imediata do Plano de Carreira, que garanta o crescimento linear por titulação e valorização.
A prefeitura propõe que o plano seja implantando em 27 meses, ou seja, mais de dois anos. A categoria, em assembleia, rejeitou a contraproposta: “27 meses não dá. Plano de Carreira já!”, é a palavra de ordem do Sindicato.
Segundo dirigentes, a perda que os profissionais acumularão nesse período é expressiva e chega a mais de R$ 17 mil para quem tem mais tempo de rede. Eles argumentam ainda que há uma defasagem de mais de 20 anos.
A categoria, que aprovou a greve dia 31 de julho, tentou, sem sucesso, audiência com o prefeito Gustavo Fruet para negociar a pauta antes do início da paralisação. Na tarde de hoje (11), representantes da categoria devem se reunir com a administração para tentar chegar a um acordo.
Fonte: Sindicato dos Professores de Curitiba

A reforma agrária aconteceu? — CartaCapital

A reforma agrária aconteceu?

Ainda que as redistribuições não tenham ocorrido como
propostas por lideranças da esquerda, rearranjos sociais autônomos
acabaram por realizá-las




 
por Rui Daher















Flickr/Alexandre Kuma




Plantador

Contamos com milhões de pequenas
propriedades rurais bem sucedidas no País. Sabem disso os que vivem lá
ou os que por ali passam de olhos e boa vontade abertos.
Na coluna da semana passada fiz referência ao
livro “A Crise Agrária”, de Alberto Passos Guimarães, escrito no final
da década de 1970. Através de conjunturas e estatísticas históricas e da
época, o autor projetava um futuro auspicioso para a agricultura no
Brasil.



A vitória, no entanto, só viria se as forças do campo promovessem uma
reforma agrária profunda e em moldes distributivos. Dicotomia polêmica e
frequente que dura até hoje.


Vista assim do alto, poderá parecer que apenas parte da profecia se
realizou. Escorados na ampliação da fronteira agrícola para os cerrados
de terras baratas, com tecnologias modernas aqui desenvolvidas ou vindas
de fabricantes multinacionais, concentrou-se a produção em culturas de
exportação e nos transformamos numa potência agrícola.


Muitas decorrências negativas? Sem dúvida. Algo natural em processos
amplos e agudos, ainda mais numa Federação de Corporações regida por
interesses pouco gerais.


Se vamos à lupa, percebemos que as “forças do campo”, como entendidas
pelo autor, parecem não terem sido suficientes para promover uma
reforma agrária de resultados produtivos e sociais efetivos.


Será?


A considerar como modelo de reforma agrária assentamentos
desassistidos, estigmatizados acampamentos de sem-terra, projetos
inacabados do governo e a imensa massa rural que nas últimas décadas se
deslocou para os centros urbanos, certamente não.


Arriscando-me a um muro poucas vezes frequentado, penso que não foi bem assim.


Ainda que as formas redistributivas no campo não tenham ocorrido nas
bases estudadas pelo autor e propostas por lideranças políticas e
eclesiásticas da esquerda, rearranjos sociais autônomos acabaram por
realizá-las. Vou mais longe: com resultados melhores do que se
conduzidas na forma de coletivos agrários.


Com exceção do excelente Globo Rural (TV e revista), o destaque nas folhas e telas cotidianas acaba sempre reservado aos grandalhões do agronegócio.


Grande equívoco. Contamos com milhões de pequenas propriedades rurais
bem sucedidas no País. Sabem disso os que vivem lá ou os que por ali
passam de olhos e boa vontade abertos.


Sim, enfrentam vários entraves. Situações climáticas adversas sem
garantia de seguro rural, burocracia nos financiamentos, insumos e
processamentos precificados em condições oligopolistas, armazenagem
insuficiente, comercialização concentrada em poucos receptores.


Suas dificuldades são maiores do que as dos beneficiários da escala
em áreas mais extensas, níveis de mecanização, acesso a formas
diferenciadas de financiamento, apropriação precoce das inovações
tecnológicas, poder de barganha na venda da colheita.


Mas, depois das transformações na economia do planeta, a partir da
década de 1980, seria possível impedir a concentração que ocorreu em
praticamente todos os setores?


O Censo Agropecuário do IBGE, com dados de 2006, revelou existirem
5,2 milhões de estabelecimentos agropecuários, com área média de 68
hectares. Em 1970, a média era de 60 hectares. Assim, se houve um
processo de concentração fundiária ele não é recente, fato reconhecido
no próprio livro de Alberto Guimarães.


Os agricultores brasileiros pequenos e médios superaram suas
dificuldades, evoluíram comprando ou arrendando áreas para plantio, e
permitiram a interiorização do desenvolvimento, fazendo surgirem
municípios prósperos com repercussões positivas nos demais setores da
economia.


No Brasil, são cultivados mais de 100 “produtos da terra”,
importantes por seus valores de produção e comercialização. Uns pelos
volumes que representam, outros pela agregação de valor que trazem.


Uma diversificação fantástica que relativiza o protagonismo que se dá
às grandes extensões de terras ou, como trata o livro “A Crise
Agrária”, latifúndios improdutivos ou capitalistas.


O levantamento Produção Agrícola Municipal, do IBGE, entre culturas
temporárias e permanentes, informa área plantada e colhida, quantidade
produzida, rendimento médio e valor da produção para as 64 culturas mais
importantes, em cada município brasileiro. Uma pesquisa que encanta e
surpreende.


Meu ponto: nada disso aconteceria sem que tivesse autogestado algum tipo de reforma agrária.


Até chegar aí foi doloroso o processo? Sim. Poderia ter sido melhor
como pensada pela esquerda, na década de 1970? Não sei. Muitos
campesinos ficaram fora do processo e hoje ralam sem terras e apoio? Com
certeza.


Mas que o panorama atual é completamente diferente do preconizado
quando se iniciou o arranque agrícola, isto é. Para arredondar o
processo, agora, bastam dar importância e aumentar os recursos
financeiros, técnicos e educacionais para os programas de agricultura
familiar.


Na próxima coluna, a corrida dos candidatos aos corredores do agronegócio. Se eu não mudar de ideia, é claro.