quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Após “provocação”, Latuff é alvo de ameaça de morte: “Posso ser assassinado”

Após “provocação”, Latuff é alvo de ameaça de morte: “Posso ser assassinado”
Cartunista é alvo de mensagens ofensivas de admiradores da Rota e de policiais e reclama do “Estado policial”
Por Igor Carvalho
Imagem divulgada pela página “Fardados e Armados” no Facebook
O cartunista Carlos Latuff está sendo alvo de provocações e ameaças de morte desde que publicou, em seu perfil no Facebook, uma declaração sobre a morte do casal de policiais militares, que podem ter sido assassinado pelo filho. “Garoto mata seu pai, que era policial da Rota…esse menino precisa de duas coisas: atendimento psicológico e uma medalha”, disse o cartunista na rede social.
Latuff, em entrevista à Fórum, afirma que a frase foi uma “provocação”. “Esse tema é tabu. Não podemos tratar da violência policial no Brasil. Vivemos em um Estado policial, e nesse Estado você não pode ser crítico, senão é ameaçado”, afirma o cartunista.
Uma mulher, identificada como Cardia Ma, que trabalharia na OAB de São Paulo e que, em seu perfil no Facebook diz ter trabalhado na Polícia Militar, mandou uma mensagem a Latuff: “Vc é um lixo humano…cai na minha frente que vou te mostrar como tratar uma pessoa como vc…vou meter a .40 [arma] na tua cara.”
O brigadista Giovani da Silva Pereira afirmou, no seu perfil do Facebook, que se encontrar Latuff, “baixa ele”. A página “Fardados e Armados”, também na rede social, alertou seus seguidores sobre o cartunista. “Guerreiros do Sul – RS, SC e PR se esbarrarem com esse sujeito já sabem de quem se trata. Declaradamente contra as forças policiais esse LIXO maconheiro está festejando a morte da família do Sargento Pesseghini da ROTA/SP.”
Brigadista ameaça “baixa” Latuff
Na página “Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar Rota” outro alerta aos seguidores, em tom ofensivo. “O vagabundo cheira pó pelo lado errado e depois reclama que toma prensa da Polícia, Carlos Latuff sempre sendo infeliz, calado é um poeta”. Na sequência, nos comentários da publicação, muitas ameaças e ironias ao cartunista. Em um dos comentários, um dos admiradores da página sobre a Rota, afirma: “Se vc apoia esse lixo é terrorista igual e se é terrorista, tem mais é que morrer, lixo.”
Latuff afirma que não se arrepende da declaração e nem voltará atrás no que disse. “Quem quer fazer não ameaça, vai e faz. Mas estamos falando de uma polícia que mata mesmo. Não foi a primeira vez que recebo ameaças, se tratando da polícia, tudo pode acontecer, mas saibam que posso ser assassinado.”

Em memória de Friedrich Engels: Grande lutador e professor do proletariado moderno


070813 engels
Esquerda Marxista - [Vladímir Illich Ulíanov Lênin] 5 de agosto, completaram-se 118 anos da morte Friedrich Engels (Barmen, 28 de novembro de 1820 — Londres, 5 de agosto de 1895) , que com Karl Marx, estabeleceram as bases da luta pelo socialismo científico.

Juntos desvendaram os segredos da exploração capitalista e dotaram o proletariado internacional dos meios e instrumentos para vencer o capital e terminar com o regime da propriedade privada dos meios de produção.Como homenagem a este grande homem, republicamos um artigo de Lenin sobre sua morte. Uma excelente hora para reler seus trabalhos e aprender a compreender e transformar o mundo.
"Meu azar é que, desde o momento em que perdemos Marx, cumpre-me ter de representá-lo. Ao longo de minha vida, fiz aquilo para que fui talhado, i.e. tocar o segundo violino, e creio ter realizado meu papel de modo inteiramente tolerável. Tive sorte por haver tido um primeiro violino tão famoso como Marx. Porém, se agora devo representar, em questões de teoria, a posição de Marx, isso não poderá transcorrer sem que incida em alguns equívocos e ninguém percebe isso mais do que eu mesmo. Apenas quando os tempos ficarem algo mais movimentados, tornar-se-á bem sensível para todos nós então o que é que foi que perdemos com Marx. Nenhum de nós possui aquela sua visão de conjunto, consoante a qual haveria de tão rapidamente agir, em determinado momento, adotando sempre a decisão correta e indo imediatamente ao ponto decisivo. Em tempos de calmaria, ocorreu, possivelmente, de os eventos terem-me dado razão em relação a Marx, porém, nos momentos revolucionários, seu julgamento era praticamente infalível."
Carta de Friedrich Engels a Johann Philipp Becker[2]
"Que tocha da razão deixou de arder!
Que coração deixou de bater!"
Nikolai Alekseievitch Nekrassov[3]
Em 5 de agosto de 1895, segundo o antigo calendário 24 de julho, faleceu na cidade de Londres, Friedrich Engels.
Depois de seu amigo Karl Marx (falecido em 1883), Engels foi o mais notável cientista e professor do proletariado moderno de todo o mundo civilizado.
A partir do momento em que o destino aproximou Karl Marx e Friedrich Engels, os dois amigos devotaram o trabalho de suas vidas a uma causa comum.
Por isso, para que entendamos o que fez Friedrich Engels pelo proletariado, há que ter uma ideia clara do significado dos ensinamentos e da obra de Marx para o desenvolvimento do movimento contemporâneo da classe trabalhadora.
Marx e Engels foram os primeiros a demonstrar que a classe trabalhadora e suas reivindicações constituem um produto necessário do presente sistema econômico que, juntamente com a burguesia, cria e organiza, de maneira inevitável, o proletariado.
Demonstraram que não são as tentativas de pessoas individuais bem intencionadas, mas sim a luta de classes do proletariado organizado que libertará a humanidade dos males que presentemente a oprimem.
Em seus trabalhos científicos, Marx e Engels foram os primeiros a esclarecer que o socialismo não é uma invenção de sonhadores, senão o objetivo final e o resultado necessário do desenvolvimento das forças produtivas da sociedade moderna.
Toda a história registrada até os dias de hoje tem sido a história da luta de classes, da sequência da dominação e da vitória de certas classes sociais sobre outras.
E isso continuará sendo assim até que os fundamentos da luta de classes e da dominação de classe – a propriedade privada e a desordenada produção social – desapareçam.
Os interesses do proletariado exigem a destruição desses fundamentos e, sendo assim, a luta de classes consciente dos trabalhadores organizados há de ser dirigida contra esses últimos.
Toda a luta de classes é, porém, uma luta política.
Essas concepções de Marx e Engels foram acolhidas, na atualidade, por todo o proletariado que se encontra lutando por sua emancipação.
Porém, quando nos anos 40 do século XIX, esses dois amigos interviram na produção literária socialista e nos movimentos sociais daquela época seus pontos vistas eram inteiramente novidadeiros.
Havia, então, muitas pessoas talentosas e sem talento, honestas e desonestas, que, absorvidas pela luta em prol de liberdade política, contra o despotismo dos monarcas, autoridades policiais e padres, deixavam de ver o antagonismo, existente entre os interesses da burguesia e os do proletariado.
Tais pessoas não admitiam a ideia de os trabalhadores atuarem como força social independente.
Por outro lado, existiam muitos sonhadores – alguns deles verdadeiros gênios – que pensavam ser apenas necessário convencer os governantes e as classes dominadoras da injustiça da ordem social contemporânea para que fossem, então, facilmente estabelecidas a paz e o bem geral sobre a face da terra. Sonhavam com um socialismo sem lutas.
Por fim, quase todos os socialistas daquela época e os amigos da classe trabalhadora entreviam, geralmente, no proletariado apenas uma úlcera e observavam aterrorizados como essa úlcera crescia, concomitantemente com o crescimento da indústria.
Por essa razão, todos eles conjecturavam dos meios para deter o desenvolvimento da indústria e do proletariado, para fazer parar "a roda da história".
Opondo-se a esse temor generalizado, nutrido ante o desenvolvimento do proletariado, Marx e Engels depositavam, pelo contrário, todas as suas esperanças no contínuo desenvolvimento deste.
Quanto mais proletários houver, tanto maior a sua força enquanto classe revolucionária, tanto mais próximo e possível há de se tornar o socialismo.
Os serviços prestados por Marx e Engels à classe trabalhadora podem ser expressos em poucas palavras da seguinte forma: Ambos ensinaram a classe trabalhadora a conhecer-se a si mesma, tornando-se consciente de si mesma, e, assim procedendo, substituíram os sonhos pela ciência.
É por esse motivo que o nome e a vida de Engels devem ser conhecidos por todos os trabalhadores.
Eis por que, em nossa compilação de ensaios, cujo objetivo é o de despertar a consciência de classe dos trabalhadores da Rússia – objetivo esse também o de todas as nossas publicações -, temos de fornecer um bosquejo da vida e da obra de Friedrich Engels, um dos dois grandes professores do proletariado moderno.
Engels nasceu em 1820, na cidade de Barmen, Província do Reno do Reino da Prússia. Seu pai foi um fabricante. Em 1838, sem ter completado seus estudos ginasiais, Engels foi forçado, por circunstâncias devidas à sua vida familiar, a começar a trabalhar como empregado, em uma casa comercial, na cidade de Bremen.
As atividades comerciais não impediram Engels de dar continuidade à sua educação científica e política. Ainda quando se achava no ginásio, havia passado a odiar a autocracia e a tirania dos burocratas.
Os estudos da filosofia levaram-no a seguir adiante. Naquela época, o ensino da doutrina de Hegel dominava a filosofia alemã e Engels tornou-se um de seus discípulos.
Embora o próprio Hegel tivesse sido um venerador do Estado Prussiano autocrático, a cujo serviço se colocara na qualidade de Professor da Universidade de Berlim, a doutrina de Hegel era revolucionária.
A fé de Hegel na razão humana e nos Direitos do homem, bem como a tese fundamental da filosofia hegeliana de que o universo encontra-se submetido a um permanente processo de mudanças e desenvolvimento, levaram alguns dos discípulos do filósofo de Berlim – aqueles que se haviam recusado a aceitar a situação então existente – à ideia de que a luta contra essa mesma situação, a luta contra as injustiças existentes e o mal dominante, achava-se, igualmente, enraizada na lei universal do desenvolvimento eterno.
Se todas as coisas se desenvolvem, se determinadas instituições são substituídas por outras, por que deveriam subsistir por todo o sempre a autocracia do Reino da Prússia ou o Czarismo da Rússia, o enriquecimento de uma minoria insignificante a expensas da maioria esmagadora ou ainda a dominação da burguesia sobre o povo?
A filosofia de Hegel falava do desenvolvimento do espírito e das ideias: era uma filosofia idealista. A partir do desenvolvimento do espírito, conduzia ao desenvolvimento da natureza, do ser humano e das relações humanas e sociais. Preservando a ideia de Hegel sobre o eterno processo de desenvolvimento, Marx e Engels rechaçaram, porém, sua concepção idealista preconcebida[4].
Dedicando-se ao estudo da vida, viram que não é o desenvolvimento do espírito que explica o desenvolvimento da natureza, mas sim, inversamente, que cumpre explicar o espírito a partir da natureza, da matéria...
Diferentemente de Hegel e outros hegelianos, Marx e Engels eram materialistas.
Contemplando o mundo e a humanidade de modo materialista, aperceberam-se do fato de que, tal como as causas materiais subjazem a todos os fenômenos naturais, também o desenvolvimento da sociedade humana é condicionado pelo desenvolvimento das forças materiais, das forças produtivas.
Do desenvolvimento das forças produtivas dependem as relações que os homens mantêm, uns com os outros, na produção das coisas, imprescindíveis à satisfação das necessidades humanas.
Nessas relações, reside a elucidação de todos os fenômenos, relacionados com a vida social, as aspirações humanas, as ideias e as leis.
O desenvolvimento das forças produtivas cria relações sociais que se baseiam na propriedade privada.
Porém, vemos, agora, que esse próprio desenvolvimento das forças produtivas priva a maioria dos seres humanos de sua propriedade, concentrando-a nas mãos de uma ínfima minoria.
Ele suprime a propriedade, base da moderna ordem social, tendendo, por si mesmo, para o próprio objetivo que os socialistas fixaram para si mesmos.
Tudo que os socialistas têm a fazer é entender qual é a força social que, devido à sua posição na sociedade moderna, encontra-se interessada em realizar o socialismo, imprimindo, então, a essa força a consciência de seus interesses e de sua tarefa histórica.
A força em questão é o proletariado.
Engels veio a conhecer o proletariado na Inglaterra, em Manchester, no centro da indústria inglesa, onde se alojou em 1842, quando começou a trabalhar em uma firma comercial, da qual seu pai era um dos acionistas.
Aqui, Engels não se cingiu às atividades do escritório da firma, mas sim peregrinou pelos bairros miseráveis em que os trabalhadores achavam-se amontoados, testemunhando, com seus próprios olhos, a pobreza e indigência dos que trabalhavam.
Além disso, não se restringiu a formular suas observações pessoais.
Leu tudo aquilo que havia sido revelado antes dele acerca da condição da classe trabalhadora britânica e estudou, detidamente, todos os documentos oficiais aos quais podia ter acesso.
O produto desses estudos e observações foi o livro de sua autoria, surgido em 1845, sob o seguinte título: "A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra."[5]
Já mencionamos acima qual foi grande mérito de Engels, por ter redigido o livro em destaque. Mesmo antes de Engels, muitas pessoas haviam descrito os sofrimentos do proletariado e realçado a necessidade de prestar-lhe ajuda. Engels foi, porém, o primeiro a dizer que o proletariado não é apenas uma classe que sofre, senão também que, na realidade, é a vergonhosa condição econômica do proletariado que o conduz, irresistivelmente, a marchar para diante, forçando-o a lutar em prol de sua emancipação definitiva.
Assim, é o proletariado em luta que há de ajudar-se a si mesmo. O movimento político da classe trabalhadora há de inevitavelmente conduzir os trabalhadores à compreensão de que sua única salvação encontra-se no socialismo.
Por outro lado, o socialismo tornar-se-á uma força apenas quando converter-se em objetivo da luta política da classe trabalhadora.
Eis as principais ideias do livro de Engels sobre a situação da classe trabalhadora na Inglaterra, ideias essas que, agora, surgem acolhidas por todos os proletários que raciocinam e combatem, mas que, outrora, revelavam-se inteiramente novas.
Tais ideias foram apresentadas em um livro, redigido em estilo cativante e permeado de imagens autênticas e comoventes da miséria do proletariado da Inglaterra. O livro em apreço representou uma terrível peça de acusação do capitalismo e da burguesia, produzindo profunda impressão. O livro de Engels passou a ser citado por todos os lados, como sendo a obra que melhor fornecia um quadro da situação do proletariado moderno.
E, com efeito, nem antes nem depois de 1845 produziu-se um quadro literário tão marcante e fidedigno sobre a miséria da classe trabalhadora. Apenas na Inglaterra, Engels tornou-se socialista.
Em Manchester, estabeleceu contatos com pessoas que atuavam no movimento operário britânico, naquele momento histórico, e começou a escrever para publicações socialistas, editadas na Inglaterra.
Em 1844, quando voltava à Alemanha, conheceu Marx, em Paris, com quem já havia iniciado a troca de correspondências. Em Paris, sob a influência da vida e dos socialistas franceses, também Marx havia-se tornado socialista. Nessa cidade, os dois amigos escreveram juntos um livro, dotado do seguinte título: "A Sagrada Família"[6]
O livro em destaque, que surgiu um ano antes do aparecimento de "A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra" e foi redigido, na sua maior parte, por Marx, contém os fundamentos do socialismo materialista revolucionário, cujas principais ideias apresentamos acima.
"A Sagrada Família" é uma referência jocosa feita aos Irmãos Bauer e seus seguidores filósofos. Esses senhores pregavam uma doutrina crítica, situada acima de toda a realidade, acima dos partidos e da política, que rejeitava toda a atividade prática, vislumbrando apenas "criticamente" o mundo circunjacente e os eventos que nele se processavam. Os Senhores Bauer deitavam os seus olhos desdenhosamente sobre o proletariado, considerando-o como massa despojada de espírito crítico.
Marx e Engels opuseram-se, vigorosamente, a essa tendência absurda e nociva.
Em nome da pessoa humana real – em nome do trabalhador, pisoteado pelas classes dominantes e o Estado – exigiram não a contemplação, senão a luta, a ser travada em prol de uma melhor ordem social.
Evidentemente, consideraram o proletariado como força capaz de impulsionar essa luta, estando por ela interessado.
Mesmo antes do surgimento de "A Sagrada Família", Engels publicara nos "Anais Franco-Alemães" de Marx e Ruge seu "Ensaio Crítico sobre Economia Política", em que examinou os principais fenômenos da ordem econômica contemporânea, desde um ponto de vista socialista, focalizando-os como consequências necessárias da dominação da propriedade privada.[7]
O contato que Marx estabeleceu com Engels representou, indubitavelmente, uma importante contribuição para a sua decisão de ocupar-se com o estudo da econômica política, ciência essa na qual sua obra veio a produzir verdadeira revolução.
De 1845 a 1847, Engels viveu em Bruxelas e Paris, combinando trabalho científico e atividades práticas, empreendidas junto a trabalhadores alemães de ambas essas cidades.
Aqui, Marx e Engels estabeleceram contato com o grupo clandestino alemão "Liga dos Comunistas", que os encarregou da exposição dos principais princípios do socialismo que haviam elaborado[8]. Referida exposição surgiu apresentada no famoso « Manifesto do Partido Comunista » de Marx e Engels, publicado em 1848.
Surgindo na forma de uma pequenina brochura, vale por livros inteiros: até os dias de hoje, seu espírito inspira e dirige todo o proletariado organizado e combatente do mundo civilizado.
A Revolução de 1848 que irrompeu, primeiramente, na França e, então, expandiu-se por outros países da Europa Ocidental, reconduziu Marx e Engels a seu país de origem.
Na Prússia Renana, assumiram o jornal democrático "Neue Rheinische Zeitung (Nova Gazeta Renana)", publicado na cidade de Colônia[9]. Os dois amigos constituíam o coração e a alma de todas as aspirações democrático-revolucionárias no Reino da Prússia.
Combateram até às últimas consequências em defesa da liberdade e dos interesses do povo contra as forças da reação. Estas, como sabemos, acabaram triunfando. O "Neue Rheinische Zeitung (Nova Gazeta Renana)" foi proibido. Marx, que durante seu exílio havia perdido sua cidadania prussiana, foi deportado.
Engels participou da Insurreição Armada Popular, combatendo pela liberdade em três batalhas. Depois da derrota dos insurgentes revolucionários, fugiu, através da Suíça, para Londres. Marx também se instalou em Londres.
Engels logo voltou a trabalhar como empregado de escritório e, a seguir, tornou-se acionista da firma comercial de Manchester, na qual atuara, ao longo dos anos 40. Até 1870, viveu em Manchester, enquanto Marx vivia em Londres. Porém, esse fato não impediu que ambos mantivessem um intercâmbio de ideias extremamente vivo: correspondiam-se praticamente todos os dias.
Nessa sua correspondência, os dois amigos intercambiavam pontos de vista e descobertas, continuando a colaborar na elaboração do socialismo científico.
Em 1870, Engels mudou-se para Londres e a vida intelectual que ambos impulsionavam em conjunto, marcada pelo caráter mais laborioso, continuou até 1883, quando Marx faleceu.
Da parte de Marx, o fruto desse processo foi "O Capital", o maior trabalho de Economia Política de nossa era e, da parte de Engels, um número de trabalhos, quer de grande, quer de pequena dimensão.
Marx escreveu sobre a análise dos complexos fenômenos da economia capitalista. Engels, por sua vez, em trabalhos redigidos com simplicidade e frequentemente em tom de polêmica, tratou de problemas científicos de ordem mais geral e de diversos fenômenos do passado e do presente, consoante a lógica da concepção materialista da história e a teoria econômica de Marx.
Entre os trabalhos de Engels, insta mencionar os seguintes:
· O trabalho polêmico dirigido contra Dühring, examinando problemas nimiamente importantes, no domínio da filosofia, ciências naturais e sociologia[10];
· "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado", traduzido em língua russa, publicado em São Petersburgo, 3ª edição de 1895;
· "Ludwig Feuerbach", tradução russa e notas de G. Plekhanov, Genebra, 1892;
· Um artigo sobre a Política Externa do Governo Russo, traduzido em russo, no "Sotsial-Demokrat" (O Social-Democrata)[11];
· Esplêndidos artigos tratando da "A Questão da Habitação"[12] ;
· E, finalmente, dois pequenos, porém valiosos, artigos sobre o desenvolvimento econômico da Rússia, "Friedrich Engels sobre a Rússia", traduzido em língua russa por Zassulitch, Genebra, 1894[13].
Marx faleceu antes que pudesse elaborar os retoques finais de seu vasto trabalho sobre o capital. Contudo, o esboço do material já se encontrava finalizado e, após a morte de seu amigo, Engels empreendeu a pesada tarefa de preparar e publicar o Livro II e o Livro III de "O Capital". Publicou o Livro II, em 1885, e o Livro III, em 1894 (sua morte impediu-o de preparar a publicação do Livro IV).[14]
A publicação desses dois livros exigiu-lhe a prestação de uma colossal quantidade de trabalho. Adler, socialdemocrata austríaco, observou, corretamente, que, ao publicar o Livro II e Livro III de « o Capital », Engels erigiu um majestoso monumento ao gênio que fora seu amigo, um monumento no qual, sem expressamente pretendê-lo, insculpiu indelevelmente o seu próprio nome. Com efeito, esses dois livros de «O Capital» constituem o trabalho de dois homens: Marx e Engels.
Lendas da Antiguidade contêm vários exemplos comoventes de amizade. O proletariado europeu pode afirmar que sua ciência foi criada por dois sábios e lutadores, cujo relacionamento de um para com o outro sobre passa as mais comoventes histórias da Antiguidade sobre a amizade entre os homens.
Engels sempre – e, geralmente, de modo inteiramente correto – colocava a si mesmo em uma posição posterior a de Marx. Certa vez, escreveu a um velho amigo: "No tempo em que Marx viveu, eu tocava o segundo violino."[15]
Seu apreço por Marx, enquanto este viveu, e sua reverência à memória de Marx eram ilimitados. Esse lutador pertinaz e pensador austero possuía uma alma profundamente amável.
No exílio, depois do movimento de 1848-1849, Marx e Engels não ficaram enclausurados na pesquisa científica. Em 1864, Marx fundou a Associação Internacional dos Trabalhadores e dirigiu essa organização por toda uma década.[16]
Também Engels participou ativamente nas atividades da organização em foco.
O trabalho da Associação Internacional dos Trabalhadores que, consoante a ideia de Marx, unificou proletários de todos os países, foi de gigantesco significado para o desenvolvimento do movimento da classe trabalhadora.
Porém, mesmo com o encerramento da Associação Internacional dos Trabalhadores, ocorrido no curso dos anos 70, o papel de unificação, desempenhado por Marx e Engels, não deixou de existir.
Pelo contrário: vale dizer que sua importância enquanto dirigentes espirituais do movimento da classe trabalhadora cresceu continuadamente, porquanto o próprio movimento floresceu ininterruptamente.
Depois da morte de Marx, Engels prosseguiu sozinho como conselheiro e dirigente dos socialistas europeus. Seus conselhos e diretivas eram procurados tanto pelos socialistas alemães, cuja força amplificou-se rápida e solidamente – a despeito das perseguições governamentais -, quanto pelos representantes dos países atrasados, tais quais os espanhóis, romenos e russos, os quais foram obrigados a refletir e sopesar acerca de seus primeiros passos. Todos eles aproveitavam o rico cabedal de conhecimentos e experiências do velho Engels.
Marx e Engels conheciam ambos a língua russa e liam livros em russo, ao mesmo tempo em que possuíam vivaz interesse por esse país. Acompanhavam o movimento revolucionário russo com simpatia e mantinham contato com revolucionários russos.
Ambos se tornaram socialistas, depois de haverem sido democratas, de modo que o sentimento democrático de ódio ao despotismo político nos dois era extraordinariamente intenso.
O imediato sentimento político, associado à profunda compreensão teórica acerca da conexão, existente entre o despotismo político e a opressão econômica, bem como sua rica experiência de vida, tornaram Marx e Engels incomumente sensíveis, na esfera da política.
É por isso que a luta heroica, travada por um punhado de revolucionários russos contra o governo czarista todo-poderoso, encontrou a mais viva ressonância nos corações desses provados revolucionários.
De outra parte, a tendência de dar as costas – mercê das ilusórias vantagens econômicas - à tarefa mais importante e imediata dos socialistas russos, nomeadamente a conquista da liberdade política, surgia naturalmente suspeita aos seus olhos e foi, até mesmo, por eles considerada como uma traição direta da grande causa da revolução social.
"A emancipação dos trabalhadores deve ser obra da própria classe trabalhadora", prelecionaram constantemente Marx e Engels. Porém, a fim de lutar por sua emancipação econômica, o proletariado tem de conquistar para si próprio certos direitos políticos.
Ademais, Marx e Engels entenderam, claramente, que uma Revolução política na Rússia haveria de ser também de tremenda importância para o movimento da classe trabalhadora da Europa Ocidental.
A Rússia autocrática sempre foi um bastião da reação europeia, em geral. A posição internacional extraordinariamente favorável, desfrutada pela Rússia por decorrência da Guerra de 1870 – país esse que, por muito tempo, semeou discórdia entre a Alemanha e a França – nada fez senão incrementar evidentemente a importância da Rússia autocrática, enquanto força reacionária.
Apenas uma Rússia livre, uma Rússia que não careça de oprimir poloneses, finlandeses, alemães, armênios e outras pequenas nações nem de atiçar, constantemente, a França e a Alemanha a lutarem uma contra a outra, permitiria à Europa moderna, redimida dos fardos da guerra, respirar livremente, enfraquecendo todos os elementos reacionários da Europa, fortalecendo a classe trabalhadora europeia.
Eis por que Engels aspirou, ardentemente, à introdução da liberdade política na Rússia, pois isso também favoreceria o movimento da classe trabalhadora no ocidente.
Com a morte de Engels, os revolucionários russos perderam seu melhor amigo.
Honremos, pois, a memória de Friedrich Engels, grande lutador e professor do proletariado!
[1] Publicado por Lenin em "Rabotnik (O Trabalhador)", Nº 1/2, março de 1896.
[2] FRIEDRICH ENGELS, "Carta a Johann Philipp Becker" (5/10/1884).
[3] Versos extraídos da poesia de NIKOLAI ALEXEIEVITCH NEKRASSOV redigida "Em Memória de Dobroliubov" e usados por Lenin na epígrafe de seu ensaio dedicado a Friedrich Engels.
[4] Nessa passagem, Lenin escreve ao pé da página: "Marx e Engels destacaram, por diversas vezes, que muito deviam em seu desenvolvimento intelectual aos grandes filósofos alemães e, em particular, a Hegel. Sem a filosofia alemã, dizia Engels, não existiria o socialismo científico".
[5] "A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra", novembro 1844 – Março 1845.
[6] "A Sagrada Família ou a Crítica da Crítica Crítica contra Bruno Bauer e Consortes", setembro/novembro 1844.
[7] "Esboços para uma Crítica da Economia Nacional", revista "Anais Franco-Alemães", janeiro de 1844 A revista "Anais Franco-Alemães" foi fundada por Karl Marx e Arnold Ruge, em Paris. Editou-se apenas um número (duplo), em fevereiro de 1844, em língua alemã. Nesse número, surgiram publicados os ensaios de Marx, intitulados "Sobre a Questão Judia" e "Para a Crítica da Filosofia do Direito de Hegel", bem como os ensaios de Engels, "Esboços para uma Crítica da Economia Nacional" e "A Situação da Inglaterra".
[8] A Liga dos Comunistas foi fundada em junho de 1847, em Londres, durante a Conferência da Liga dos Justos que aprovou, por proposta de Marx e Engels, a conversão da Liga em Liga dos Comunistas. A antiga palavra-de-ordem da Liga dos Justos, "Todos os Seres Humanos são Irmãos", foi, então, substituída por "Proletários de Todo o Mundo, Uni-vos!". A Liga dos Comunistas continuou existindo até novembro de 1852. ENGELS escreveu "Sobre a História da Liga dos Comunistas", em 1885.
[9] A "Nova Gazeta Renana" foi editada de 1° de junho de 1848 a 19 de maio de 1849, na cidade de Colônia, sob a direção de Karl Marx e Friedrich Engels. Seu redator-chefe era Karl Marx.
[10] Lenin fez a seguinte nota de pé de página: "Trata-se de um livro extraordinariamente instrutivo e rico de conteúdo. Dele traduziu-se para a língua russa apenas uma pequena parte que contém um esboço histórico do desenvolvimento do socialismo."
[11] "A Política Exterior do Czarismo Russo", dezembro de 1889 – fevereiro de 1890.
[12] "Sobre a Questão da Habitação", junho de 1872/fevereiro de 1873.
[13] "Questões Sociais da Rússia", 1894, Karl Marx e Friedrich Engels.
[14] Conforme indicação de Engels, Lenin chamou o livro quatro de "O Capital" de "Teorias da Mais-Valia". No prefácio ao livro dois de "O Capital", Engels escreveu: "Reservo-me o direito de publicar a parte crítica desse manuscrito sob a forma de Livro IV de "O Capital", após a remoção de diversas passagens já exauridas no Livro II e no Livro III."
[15] "Carta de Engels a Johann Philipp Becker", 15/10/1884.
[16] A Associação Internacional dos Trabalhadores (I Internacional) foi a primeira organização internacional do proletariado mundial. Foi fundada em Londres, no outono de 1864, por iniciativa de Karl Marx. A I Internacional deixou praticamente de existir em 1872, vindo a ser formalmente dissolvida em 1876.

Mídia Ninja: 'Tomar posição sem vestir manto da falsa imparcialidade da grande mídia'


Mídia Ninja: 'Tomar posição sem vestir manto da falsa imparcialidade da grande mídia'

O ao vivo sem pós-produção da Mídia Ninja é capaz de despertar debates sem o aval da mesma mídia que está, hoje, enxugando suas redações e precarizando seus funcionários. Em entrevista à Carta Maior, os ninjas reclamam da falta de um marco regulatório da mídia e dizem que "a ausência de regulação dificulta o exercício da liberdade de expressão da população."

A simultânea crise e consolidação dos veículos tradicionais também recebe no seu seio mídias agora reconhecidas como alternativas. Com modo de expor particular: o fato tal como ele se dá e "se dando". O "ao vivo" sem pós-produção. O debate, então, é aberto obrigatoriamente sem aval da mesma grande mídia que está, hoje, enxugando suas redações e precarizando seus funcionários. 


Desponta um grupo dentre estes que são conhecidos como meios alternativos de informação: o Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação). O grupo cedeu entrevista por e-mail à Carta Maior e nos contou sobre sua configuração e posição políticas. 



A iniciativa fala de dar poder aos novos protagonistas da realidade brasileira, mas também o posicionamento do mercado e Estado traz questionamentos que deverão seguir no horizonte dessa mídia que mesmo incipiente tem seu importante papel. Aprofundar e efetivar a liberdade de expressão para além do capital passa a ser hoje uma das principais pautas da expansão da democracia.



Carta Maior: Quando se iniciaram as atividades do grupo? Quantas pessoas participam do grupo e como são coordenadas suas atividades?



Mídia Ninja: O Ninja surge a partir de um acúmulo de mais de 15 anos de produção midialivrista no Brasil, de experiências que vão desde os fanzines e da blogosfera ao Fora do Eixo, rede que está em mais de 200 cidade no país e vem desenvolvendo tecnologias de comunicação e produção de conteúdo há 7 anos. Nesse processo aproximou de si outras redes, coletivos, jornalistas e midialivristas que, juntos, deram início a um projeto que ao mesmo tempo conseguiu que se fortalecesse um veiculo independente, como também catalisar uma rede de comunicação autônoma que usufrui dos frutos e ferramentas desenvolvidas durante esse histórico.



Hoje ele é uma rede descentralizada de comunicadores que buscam novas possibilidades de produção e distribuição de informação. São milhares de pessoas usando a lógica colaborativa de compartilhamento que emerge da sociedade em rede como premissa e ferramenta. A iniciativa veio à tona há meses atrás, durante a cobertura do Fórum Mundial de Mídia Livre na Tunísia. Desde então, o Ninja vem realizando coberturas por todo Brasil, apresentando pautas e abordagens omitidas na mídia tradicional.



CM: Qual, na opinião de vocês, é a função das narrativas independentes? De que maneira vocês quiseram retratar os atos e protestos dos últimos dois meses?



MN: A função das narrativas independentes é dar poder a cada vez mais gente para contar histórias a partir do ponto de vista do que estão vivendo. Mais do que uma ferramenta, é uma noção que ajuda a dimensionar a comunicação como serviço de utilidade pública.



Além de comunicadores, somos ativistas também. Quando fomos fazer a cobertura da vinda do Papa ao Brasil por exemplo, direcionamos o nosso olhar para entender quem era contra a visita de Francisco, não contra a religião, mas que protestava pela ausência de um Estado laico.



Logo, as nossas coberturas sempre explicitarão aquilo que de fato estamos vendo e vivendo. Nós também tomamos bombas em protesto, dois de nós já foram presos apenas por estar exercendo o direito à comunicação. Quando fazemos a cobertura de um protesto indígena ou quilombola, estamos de fato envolvido com aquela pauta, não se ganha legitimidade com quem está nas ruas apenas com discurso, a nossa prática de mídia precisa estar com a frequência modulada com o espaço-tempo da nossa geração.



CM: O que pensam do Marco Regulatório da Mídia? Como vocês veem o problema da mídia no Brasil?



MN: A ausência de regulação dificulta o exercício da liberdade de expressão da população, e favorece a existência de oligopólios que tanto comprometem a pluralidade nos conteúdos que são veiculados quanto a independência nas pautas.



Outro ponto: a falta de um marco regulatório não condiz com o contexto político, que apresenta o empoderamento de uma nova geração de protagonistas. As possibilidades que temos com a tecnologia disponível hoje em dia e as possibilidades de democratização da produção de conteúdo também não são contempladas.



É dever do estado também promover a diversidade de opiniões. Uma lei contribuiria necessariamente para a não criminalização dos movimentos sociais, por exemplo. Além de garantir a diversidade e o direito de manifestação e liberdade de expressão, distribuindo de forma mais equânime e democrática o recurso público ou o espectro eletromagnético.



Da forma que está hoje, a Globo recebe uma porcentagem gigantesca das verbas de publicidade do governo e uma emissora como a Jovem Pan ocupa uma faixa de espectro equivalente a de centenas de rádios comunitárias.



CM: De que maneira vocês se colocam no debate político hoje?



MN: A mídia livre é um ato político, e todo ato precede necessariamente de um debate. Tomar uma posição diante do que estamos cobrindo sem vestir o manto da falsa imparcialidade da grande mídia já é uma forma de se colocar.