sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Álvaro Uribe: O Senhor da guerra

agência PRENSA LATINA
  
Com temerária conduta e absoluto desenfado, o ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe Vélez declarou há alguns dias, num seminário sobre temas vinculados ao conflito armado de seu país, na Universidade de Antioquia que "não teve tempo na presidência para atacar militarmente à República Bolivariana da Venezuela".

  As preocupações do presidente Hugo Chávez Frias em relação à política agressiva e militarista do governo de Uribe Vélez não eram infundadas.

Também prova a impunidade com a qual atua Uribe pois nem o Poder Judicial nem o Legislativo pediram conta de tamanho delito ao colocar o país à beira de uma guerra e mostra seu caráter aventureiro.

Ademais isso explica a abertura do governo colombiano à colaboração militar com os Estados Unidos a partir de seu primeiro mandato que começou a 7 de agosto de 2002 e as razões pelas quais, violando a Constituição de 91, assinou acordos militares com os sucessivos governos estadunidenses.

Ao extremo de aceitar o estabelecimento permanente de forças militares norte-americanas em sete bases enclavadas no território colombiano e que não só são um perigo hoje para a Republica Bolivariana da Venezuela, mas também apontam a qualquer outro país de nossa região e especialmente da América do Sul e do Caribe se algum não é do agrado de Washington.

A opinião pública deve conhecer as verdadeiras motivações de Uribe Vélez para sustentar a política guerreirista batizada com o nome de "segurança democrática".

Sua essência residia em subordinar a política interior e exterior aos interesses dos Estados Unidos e assim evitar que Washington fizesse valer o expediente que as autoridades do país do norte abriram contra ele em uma lista de extraditáveis de 1991 com o número 82.

Revista Newsweek deu a conhecer no começo de 2003 a lista de pessoas a solicitar em extradição entregues pela U.S Intelligence Tied Colombia: Uribe to Drug Trade in 91 Report.
Segundo a publicação "N 82 ALVARO URIBE VELEZ POLITICO E SENADOR COLOMBIANO DEDICADO A COLABORAR COM O CARTEL DE MEDELLIN NOS ALTOS NÍVEIS DO GOVERNO. URIBE SE VINCULOU A UM NEGÓCIO ENVOLVIDO NAS ATIVIDADES DOS NARCÓTICOS NOS ESTADOS UNIDOS.
SEU PAI FOI ASSASSINADO NA COLÔMBIA POR SUAS CONEXÕES COM OS NARCOTRAFICANTES. URIBE TEM TRABALHADO PARA O CARTEL DE MEDELLIN E É AMIGO INTIMO DE PABLO ESCOBAR GAVIRIA".
É evidente que em troca de evitar seu ajuizamento e extradição, Uribe entregou o país aos Estados Unidos.
A escura e tenebrosa política de "segurança democrática" esteve baseada no pagamento de recompensa por delações, extorsões e crimes políticos cometidos por bandos paramilitares, agrupados sob o nome de Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), a serviço do governo e particularmente de Uribe Vélez com o respaldo de poderosos meios de comunicações nacionais propriedade dos grandes oligarcas e magnatas do país e dos sistemas mediáticos das multinacionais norte-americanas e europeias.

Estas fizeram crer à opinião publica nacional e estrangeira que com a dita política se tinha conseguido pacificar o país, debilitar a insurgência colombiana, transitar livremente pelas estradas e caminhos sem ser molestado pela guerrilha, opinião que hoje segue argumentando o ex-presidente para criticar o atual Governo de não continuar sua "segurança democrática".

Também questiona um possível gerenciamento de paz do presidente Juan Manuel Santos e realiza uma forte campanha para convocar uma Assembleia Constituinte com o objetivo de se habilitar e assim conseguir sua possível aspiração presidencial e se reeleger em 2014.

Com a ruptura do processo de paz que se desenvolvia entre as forças insurgentes das FARC-EP e o governo de Andrés Pastrana Arango em fevereiro de 2002, o novo governo instalado na Casa de Nariño começou a desenvolver uma implacável política de hostilidade não só às forças insurgentes, como também ao movimento social e político colombiano.

As cifras durante os dois períodos de governo e de acordo com informações de organizações de Direitos Humanos assinalam em 70 mil os desaparecidos e três mil os jovens assassinados que eram feitos prisioneiros em cidades e campos e, depois de mortos, eram uniformizados e apresentados como guerrilheiros caídos em combate, o que se conhece como os "falsos positivos" executados por setores criminosos das Forças Militares.

Enquanto mais de três milhões de colombianos foram deslocados de suas terras no período uribista, há mais de oito mil presos políticos nas prisões acusados de guerrilheiros, enquanto as FARC-EP e o ELN admitem a identidade de só mil encarcerados, o resto são militantes de organizações populares e de esquerda presos por manter uma opinião política opositora.

Mais de 300 sindicalistas e dirigentes populares foram assassinados durante os oito anos do governo presidido por Uribe Vélez. Um balanço de governo nada diferente ao sucedido durante a ditadura de Pinochet no Chile.

O verdadeiramente objetivo é que o governo de Uribe Vélez, nem debilitou a guerrilha, nem pacificou o país, nem resolveu o livre trânsito pelas estradas colombianas.

Foi a guerrilha das FARC-EP a que desde 10 de janeiro de 2002, ainda antes de que se cancelassem as conversas com o Governo, decidiu retirar suas frentes guerrilheiras à profundidade da selva; colunas e forças e passaram da guerra regular à guerra de guerrilha e até hoje mantêm suas forças em constante movimento.

Isso eliminou praticamente suas incursões e detenções nas estradas, por isso Uribe não pode reivindicar como um sucesso de seu Governo o livre trânsito da população.

No meio de 2003, o início do conhecido Plano Patriota terminou em um grande fracasso pois militarmente a guerrilha não foi derrotada, a morte natural do Chefe das FARC-EP, Manuel Marulanda, e o criminoso bombardeio ao acampamento de Raúl Reyes em território equatoriano em franca violação ao direito internacional e as posteriores quedas dos comandantes Iván Rios, Jorge Briceño e Alfonso Cano, não afetaram o curso de ação da guerrilha e demonstraram tal organicidade que resulta muito difícil admitir a debilidade das ditas forças guerrilheiras.

Por mais que manipule e declare à rede de rádio Caracol que durante seu Governo "se desmobilizaram entre 17 ou 18 mil guerrilheiros", se essa cifra fosse verdadeira, a guerrilha se teria extinguido e, por outra parte, onde estão esses reinseridos?

Uribe mente descaradamente e suas declarações à jornalista Diana Calderón estão muito bem orientadas a desinformar a opinião publica nacional e internacional, obstruir o atual Governo e ofender a inteligência do povo colombiano.

É evidente que na Colômbia o que se requer é um processo de diálogo e negociação ao conflito social e armado que ali existe há 50 anos, pois não conseguirão a derrota militar da insurgência e esse interesse do presidente Santos de iniciar um processo de paz é o que está tratando de evitar Uribe.

O ex-mandatário tem uma forte vocação para a guerra pois sabe que num palco de paz, seria desnudado todo o horror a que foi submetido o povo colombiano durante seu governo.

* Jornalista, politólogo e analista de temas internacionais. Colaborador da Prensa Latina