sábado, 7 de maio de 2011

Gerônimo é o símbolo vivo da rebeldia contra a opressão da burguesia estadunidense





070511_geronimoPCB -Via ODIARIO.INFO [Antônio Carlos Mazzeo] ... e deve ser perpetuamente executado.

Acordamos com as novas revelações sobre as ações estadunidenses que culminaram no assassinato de Bin Laden. As notícias, apesar de estarrecedoras - torturas em Guantanamo, invasões de território estrangeiro, execução sumária do inimigo desarmado e já dominado, violência armada contra mulheres e crianças - , não constituem novidades em se tratando dos EUA, com larga trajetória de mentiras e violência para fundamentar e legitimar suas agressões imperialistas. At last but not list , a nota chocante é o "codinome" atribuido ao maior inimigo dos EUA depois de Hitler..... Geronimo!
Geronimo foi um dos três grandes chefes dos povos originais norte-americanos da região do México e do Novo México (dentre eles, os Jicarillas, os Mescaleiros e os Chiricahuas, e ainda os Kiowa, White Mountain e os Tontos), juntamente com Cochise e Mangas Coloradas (Dasoda-Hae), a quem os estadunidenses e a elite mexicana chamavam genericamente de Apaches. Geronimo foi o mais aguerrido líder dos povos originais da região, que combateu tanto o governo estadunidense como o mexicano em defesa de seus territórios. Preso em 1886, acabou morrendo de pneumonia em 1909, na prisão insalubre do forte Sill, em Oklahoma.
Historicamente, os governos estadunidenses jamais reconheceram a legitimidade da luta dos povos originais pela integridade de seus territórios e de suas culturas. Ao contrário, todo o esforço foi e continua sendo o de estigmatizar e criminalizar a resistência desses povos. Não somente no período em que reprimiram duramente as rebeliões indígenas como contemporaneamente. Há que se recordar que o tratamento dado a esses povos foi o mais cruel eantirepublicano possível. Lembremos, como exemplo, que o chefe Mangas Coloradas foi aprisionado e morto sob tortura, em 1863.
Essa postura em relação aos Povos Originais e a não coincidente atribuição a Bin Laden o codinome de Geronimo nos possibilitam refletir sobre a característica do liberalismo presente na tradição estadunidense. Tanto Marx como Weber viam os Estados Unidos da América como a expressão mais acabada do liberalismo. Marx, na perspectiva do desenvolvimento possível e limitado da emancipação política burguesa; Weber como o tipo ideal perfeito do racional-legal da modernidade, porque ao liberalismo acrescenta-se a ética protestante.
Mas é exatamente esse elemento da ética protestante que marca a diferença, quando analisamos a trajetória política estadunidense. Não que em países de tradição católica o liberalismo apresentou-se com rosto mais hominizado. Como ressaltou Bobbio, na maior parte de sua história o liberalismo não foi democrático, pois o liberalismo em seus inícios legitimou a escravidão e depois o desfrute do trabalhador assalariado. Mas voltando aos EUA, como enfatizou Losurdo, Tocqueville quando analisou a democracia na América, excluiu e segregou os que já eram excluídos e segregados, quer dizer, os negros e os índios, ignorando a construção da democracia dos senhores. Melhor dizendo, a democracia timocrática materializada na alternância de poder de dois partidos, o Republicano e o Democrata, ambos fundados e no poder desde o século XIX.
Os EUA como nenhum outro país vinculou o liberalismo com imperialismo, aprofundando a mistificação da concepção igualitária genérica, "pecado original" da forma societal burguesa, já evidenciada por Marx em seus escritos de juventude. O liberalismo, como face político-ideológica da forma societária burguesa em sua fase imperialista, amplia a desigualdade da democracia formal para o plano internacional. Se originalmente a estrutura societal do liberalismo implica na situação de cidadão de vida pública e de burguês ou proletário na vida privada, com o imperialismo essa condição transforma-se em cidadão do núcleo central do capitalismo e cidadão de segunda classe das periferias. Ambos explorados, ambos fragmentados em classes sociais, mas os da periferia com quase nenhum direito do que deveria ser a igualdade genérica.
Mesmo nos EUA o assim chamado "Estado de direito" não é plenamente aplicado. Apesar da emergência de um segmento da população negra à condição de pequeno-burgueses e mesmo burgueses, integrados na estrutura produtiva capitalista e em sua ordem jurídico-política, em sua maioria esmagadora, negros, índios e latinoamericanos continuam à margem da plenitude da democracia dos senhores, em que pese a presença de um negro na presidência da república, que age politicamente em consonância com os clássicos interesses da timocracia branca estadunidense.
O emblemático, no caso da ação contra Bin laden, é ter sido atribuído ao inimigo mortal dos EUA o nome de Geronimo, eterno ícone da rebeldia e do inconformismo, inimigo de morte da plutocracia burguesa estadunidense. Esse fato expressa como o núcleo burguês ainda vê e trata os trabalhadores, em particular, os não WASP (brancos, anglo-saxões e protestantes). Nunca perdoaram os negros rebeldes, condenados tanto pela estrutura jurídica estadunidense como pela Ku Kux Klan. Não perdoaram os 8 mártires de Chicago assassinados em 1886, não perdoaram e executaram os líderes operários Sacco e Vanzzetti, montando a farsa de um crime que nunca existiu. Executaram em processo forjado o casal Rosemberg, assassinaram Malcolm X e tantos outros.
Geronimo é um símbolo vivo que encarna a rebelião contra a opressão e por isso mesmo deve ser perpetuamente executado. Na lógica perversa da burguesia estadunidense prevalece a lei bíblica do olho por olho, onde a ética protestante fundamentalista mistura-se com a visão mítica de "povo" eleito para defender a "liberdade" e o "direito" de ser burguês e de oprimir os povos.

A barbárie e a estupidez jornalística no caso da morte de bin Laden

internacional
Darth Vader perde

Elaine Tavares no Correio do Brasil

Imaginem vocês se um pequeno operativo do exército cubano entrasse em Miami e atacasse a casa onde vive Posada Carriles, o terrorista responsável pela explosão de várias bombas em hotéis cubanos e pela derrubada de um avião que matou 73 pessoas. Imagine que esse operativo assassinasse o tal terrorista em terras estadunidenses. Que lhes parece que aconteceria? O mundo inteiro se levantaria em uníssono condenando o ataque.
Haveria especialistas em direito internacional alegando que um país não pode adentrar com um grupo de militares em outro país livre, que isso se configura em quebra da soberania, ou ato de guerra. Possivelmente Cuba seria retaliada e, com certeza, invadida por tropas estadunidenses por ter cometido o crime de invasão. Seria um escândalo internacional e os jornalistas de todo mundo anunciariam a notícia como um crime bárbaro e sem justificativa.
Mas, como foi os Estados Unidos que entrou no Paquistão, isso parece coisa muito natural. Nenhuma palavra sobre quebra de soberania, sobre invasão ilegal, sobre o absurdo de um assassinato. Pelo que se sabe, até mesmo os mais sanguinários carrascos nazistas foram julgados. Osama não. Foi assassinato e o Prêmio Nobel da Paz inaugurou mais uma novidade: o crime de vingança agora é legal. Pressuposto perigoso demais nestes tempos em que os EUA são a polícia do mundo.
Agora imagine mais uma coisa insólita. O governo elege um inimigo número um, caça esse inimigo por uma década, faz dele a própria imagem do demônio, evitando dizer, é claro, que foi um demônio criado pelo próprio serviço secreto estadunidense. Aí, um belo dia, seus soldados aguerridos encontram esse homem, com toda a sede de vingança que lhes foi incutida. E esses soldados matam o “demônio”. Então, por respeito, eles realizam todos os preceitos da religião do “demônio”. Lavam o corpo, enrolam em um lençol branco e o jogam no mar. Ora, se era Osama o próprio mal encarnado, porque raios os soldados iriam respeitar sua religião? Que história mais sem pé e sem cabeça.
E, tendo encontrado o inimigo mais procurado, nenhuma foto do corpo? Nenhum vestígio? Ah, sim, um exame de DNA, feito pelos agentes da CIA. Bueno, acredite quem quiser.
O mais vexatório nisso tudo é ouvir os jornalistas de todo mundo repetindo a notícia sem que qualquer prova concreta seja apresentada. Acreditar na declaração de agentes da CIA é coisa muito pueril. Seria ingênuo se não se soubesse da profunda submissão e colonialismo do jornalismo mundial.
Olha, eu sei lá, mas o que vi na televisão chegou às raias do absurdo. Sendo verdade ou mentira o que aconteceu, ambas as coisas são absolutamente impensáveis num mundo em que imperam o tal do “estado de direito”. Não há mais limites para o império. Definitivamente são tempos sombrios. E pelo que se vê, voltamos ao tempo do farwest, só que agora, o céu é o limite. Pelo menos para o império.
Darth Vader é fichinha!
Elaine Tavares é jornalista.