sábado, 2 de outubro de 2010

O bom combate



Brizola Neto no Tijolaço

Não tenho pesquisas, nem trackings, nem grupos de análises. Não tenho, sequer, experiência acumulada de disputas eleitorais. Mas há algo em mim que, a esta altura, com o corpo cansado, a garganta rouca e, permitam a expressão da minha avó, os nervos em pandarecos, despeja em meu sangue uma grande dose de tranqüilidade.
Fizemos o que tínhamos o que fazer. Jamais nos entregamos. Nunca tergiversamos. Não houve um minuto sequer de vacilação.
Dúvidas? Sempre as tivemos. Um ser humano, com os anos, aprende que a dúvida não é sinônimo de vacilação, mas uma sadia abertura mental que nos afasta da pretensão de sermos donos da verdade. Alguns, infelizmente, trilham o caminho inverso. Nosso adversário, por exemplo, não hesita em considerar-se o mais sábio, o mais preparado, aquele que já não precisa ouvir porque tem sempre uma certeza para falar.
Lembro-me de meu avô contando porque não se juntou, nos anos 40, aos jovens universitários do PCB. Ele dizia: “olha, me incomodava que eles sempre tivessem a verdade pronta, que vinha impressa nos polígrafos”. Polígrafo, naquele tempo, era o mimeógrafo no qual se reproduziam os panfletos.
Não sou um homem de grande preparo teórico, embora o ache importantíssimo e procure sempre melhorá-lo. Ajo mais com a sensibilidade, procurando juntar aquilo que tenho como princípio às coisas que sinto e absorvo do sentimento difuso e sincero da população. Posso errar, e erro, por humano. Mas penso que a lucidez não é uma virtude individual. À razão do indivíduo nunca pode deixar de somar-se a sabedoria coletiva.
Porque não somos entes isolados. O ser humano, sempre se diz , é um animal social. Temos o brilho dos indivíduos, mas também possuímos o instinto dos rebanhos.
A sociedade move-se ora com cautela, ora numa marcha acelerada e irresistível.
Vínhamos assim. Mas a elite, aquela que historicamente tange o povo brasileiro segundo sua conveniência, chegou a pregar-nos um susto. Não nos deteve, mas é forçoso admitir que nos fez andar mais lentamente.
Chegamos então ao momento decisivo em que iremos tomar um caminho.
No Sul, temos uma expressão conhecida como “boi sinuelo”: aqueles que servem de referência à marcha coletiva.
Tudo indica que amanhã cruzaremos o rio. Se não for assim, teremos que nos reagrupar e vamos depender, mais fortemente, de que essa grande e indócil sociedade possa identificar seus líderes e segui-los.
Hoje, durante todo o dia, cada um de nós deve empregar sua energia, sua inteligência, seu sentimento de igualdade na tarefa de chamar, um por um, cada brasileira e brasileiro a cruzar o rio que nos separa do amanhã.
Se vamos conseguir? Acho que sim. Em meio a poeira da política, a milhões deslumbra o horizonte da história, esta impalpável chama que ilumina o olhar da humanidade.
Agora, ou daqui a pouco, iremos ao encontro dela. Seu chamado silencioso magnetiza uma parte de nós que vai além do racional, embora não o despreze. É algo que fala aos sentimentos instintivos das grandes massas humanas, que buscam a sobrevivência e a felicidade.
Um bom dia para todos, um dia em que vamos somar esforço e reflexão. Horas em que buscaremos a todo custo a vitória numa batalha, mas que não nos abaterá se nela não for vencida a guerra.
Temos o indispensável para vencer. Uma causa, uma bandeira, um orgulho que não se acaba de estarmos dando o melhor de cada um de nós pelo que é melhor para todos.
Vamos, ombro a ombro, com esse povo que não tem nada a não ser a certeza de que merece uma vida digna.
Bom combate, neste dia que nos resta.