quinta-feira, 15 de abril de 2010

A luta esta começando.....

Debate em SP: a internet pode enfrentar o PIG?


 De Nelson Canesin, do Sindicato dos Bancários de São Paulo:
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Em 2010 o PIG (Partido da Imprensa Golpista) vai jogar mais sujo ainda para tentar fazer valer seus interesses e eleger o presidente do interesse deles.
No fórum “Democracia e Liberdade de Expressão”, os perdigueiros do PIG mostraram seus dentes e afirmaram com todas as letras que farão campanha para José Serra e que “ouvir o outro lado da notícia é besteira”.
Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) confirmou que a entidade faz papel de oposição ao governo e com isso PIG ganhou um novo apelido na blogosfera: “Partido da Dona Judith”. 
O  Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região vem manifestando seu compromisso com a necessidade de se articular meios alternativos de comunicação para se contrapor ao poder de uma dezena de famílias que controlam a quase totalidade da mídia brasileira, transformando a informação em negócio e de defesa de seus interesses. 
A internet é ainda um grande espaço democrático de disputa de idéias e os blogueiros vem construindo uma alternativa ao poder do PIG.
Para debater esse tema, o Sindicato realiza nesta quinta-feira (15/04), em comemoração aos 87 anos de sua fundação, um debate entre os blogueiros Rodrigo Vianna (site Escrivinhador), Eduardo Guimarães (blog Cidadania.com) e Luiz Cláudio Marcolino, presidente do Sindicato.
O debate será transmitido on-line via webtv pelo site do Sindicato dos bancários www.spbancarios.com.br pelo site do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC www.smabc.org.br pelo site da Confederação Nacional dos Metalúrgicos www.cnmcut.org.br e pela Rede Brasil Atual www.redebrasilatual.com.br

Tema:  O Papel da Internet na Democratização da Informação
Local:  Sindicato dos Bancários - Rua São Bento, 413 - auditório azul - Centro - São Paulo/SP
Dia: 15 de abril (quinta-feira)
horário:  pontualmente às 19 horas

A Igreja Católica e a Pedofilia...até quando a impunidade?


Vítimas de pedofilia contam rotina de medo sob o rigor da Igreja na Irlanda

Ernani Lemos e Juliana Yonezawa | Dublin

Ex-internos de instituições dirigidas por padres e freiras católicos nos anos 1940 e 1950 na Irlanda dizem ainda ter pesadelos com os abusos sofridos e prometem lutar pela punição dos culpados, mesmo décadas depois
“A Irlanda deveria se envergonhar para sempre por permitir que tal barbaridade acontecesse a qualquer ser humano. Eu amo meu país e nunca vou deixar de amar. Eu sou católico e continuarei sendo. Independentemente de ir ou não à igreja. Mas eu jamais vou perdoar as pessoas que fizeram aquelas atrocidades comigo e com meus irmãos”, diz Michael O’Brien.

“A única forma que eu tenho de descrever aquelas instituições é dizer que são piores do que prisões e similares aos campos de concentração da Alemanha. A rotina era rigorosa e muito dura. Nós passamos fome e sofremos de malnutrição. Eles deveriam nos preparar para a vida, nos educar e ensinar uma profissão. Em vez disso, só nos infligiram punições e o dogma religioso”, conta Christopher Heaphy.

As palavras ásperas e carregadas de rancor são de dois auto-intitulados “sobreviventes” dos abusos sexuais e da violência praticados contra crianças por membros da Igreja Católica na Irlanda. Sentados na poltrona de um hotel em Dublin, O’Brien e Heaphy contam ao Opera Mundi, em detalhes, o horror que passaram em instituições infantis dirigidas por religiosos nas décadas de 1940 e 1950.


Christopher Heaphy (à esquerda) e Michael O’Brien (à direita), foram vítimas de abusos em escolas católicas

“Eles não nos tratavam como crianças, nem mesmo como seres humanos. Nós éramos tratados como animais”, desabafa O’Brien. Aos 77 anos de idade, o irlandês de Tipperary dedica a vida à luta pelos direitos das vítimas dos abusos. Em 1999, ele criou a associação Right for Peace – uma organização de pessoas que viveram situações semelhantes nos abrigos infantis, orfanatos e reformatórios católicos da Irlanda. O’Brien foi parar em uma dessas instituições em 1941, quando tinha 8 anos, logo após a morte da mãe. Ele e os sete irmãos foram tirados do pai e colocados em diferentes internatos. “Eu fui abusado desde o instante em que entrei naquele lugar. Sexualmente, fisicamente, mentalmente e verbalmente. Todos os dias, sem nenhuma razão. E não foram apenas os castigos e os abusos. Eles tiraram de nós as nossas famílias. Isso é imperdoável. O crime contra uma criança inocente é o pior crime que alguém pode cometer”, relata.

Michael O’Brien era semi-analfabeto quando deixou a Escola Industrial São José (St Joseph’s Industrial School), aos 16 anos. “Após oito anos de internato, minha mentalidade era a de uma criança. Eu não sabia nada sobre o mundo. Não sabia o que era mulher ou dinheiro. Não imaginava que poderia comprar coisas. Não estava pronto para a vida, porque eles não faziam o que deveriam fazer, que era nos educar”. Mesmo com tantas lembranças ruins, o ex-interno se considera um dos sortudos. Ele serviu ao exército e aprendeu a ler sozinho, usando livros que encontrava nos quartéis e alojamentos. Mais tarde, trabalhou como funcionário público, virou político e conseguiu ser eleito prefeito da cidade de Clonmel, onde nasceu. O’Brien casou-se há 55 anos, tem quatro filhos, 11 netos e seis bisnetos. Mesmo com uma vida aparentemente bem estruturada, ele diz que não se sente uma pessoa normal e que não consegue passar um único dia sequer sem se lembrar dos maus tratos da infância. “Vou fazê-los pagar enquanto eu viver, não perdoando. Vou lutar para que haja reparação até o dia em que eu morrer. Lutar para que não aconteça de novo. Nunca serei feliz enquanto não houver justiça”, promete.

Christopher Heaphy, de 65 anos, líder da associação Right of Place, também se dedica em tempo integral a buscar punição para os culpados e reparação às vítimas dos abusos. Ele perdeu a mãe quando tinha 5 anos de idade e foi enviado para a Escola Industrial Greenmount em Cork, sul da Irlanda. “O governo poderia ter ajudado meu pai a cuidar de mim e dos meus dois irmãos. Em vez disso, eles nos arrancaram de casa e nos trancaram em instituições”, desabafa.


Christopher Heaphy tinha pesadelos com as lembranças de infância marcada por abusos de padres

Enquanto conta sobre o passado, com a voz calma e delicada, Cristopher se emociona com os momentos que marcaram a vida dele: “Vivíamos sob terror e medo todos os dias. Eu me reprimi. Saí de lá e não falava. Mal lia ou escrevia. Estava sempre amedrontado. Precisei superar muitas dificuldades na vida. Nunca contei à minha esposa sobre os abusos. Ela não entendia por que eu dava pulos e chutes na cama durante a noite. A verdade é que eu ainda tinha a impressão de que aqueles homens vinham colocar a mão debaixo das minhas cobertas para me molestar enquanto eu dormia”.

Hoje, o irlandês tem três filhos e foi abandonado pela primeira esposa por causa do comportamento estranho que tinha em casa. “Agradeço por ela ter ido embora e levado as crianças. Eu era um estranho para eles. Na época, eu não podia dar o amor que eles precisavam. O triste é saber que hoje, depois de quase 30 anos, eu mal conheço meus filhos. Não pude vivenciar a alegria de vê-los crescendo”.

Heaphy se formou em engenharia aos 58 anos de idade, mas se acha muito velho para trabalhar na área. Para ele, são três os principais culpados pelos abusos cometidos contra as crianças: o governo, por fracassar em proteger os cidadãos; a Igreja, por ter protegido os sacerdotes; e os próprios religiosos que dirigiam as instituições infantis. “Eles cometeram os crimes contra nós. Os crimes foram denunciados na época, mas a Igreja só protegeu a si mesma. Não protegeu as crianças. E, agora, todos deveriam enfrentar as implicações legais dos direitos civis que quebraram”, defende o ex-interno. O governo irlandês indenizou os “sobreviventes” com uma reparação média de 63 mil euros. A Igreja não pagou nada.

Instituições

As escolas industriais na Irlanda foram instituições para onde eram levadas crianças sem pais ou das quais os parentes não tinham condições de cuidar. As entidades eram dirigidas por ordens religiosas da Igreja Católica e recebiam ajuda financeira do governo para dar educação e ensinar uma profissão aos menores. Mas, na prática, segundo relatos dos ex-internos, pouco se ensinava nas salas de aula. O Estado era responsável pelas escolas, mas, de acordo com as associações de sobreviventes, os Ministérios da Educação, da Saúde e da Justiça jamais fiscalizaram as condições de ensino, de higiene ou de comportamento nos locais. O governo irlandês admitiu as falhas recentemente, ao indenizar as vítimas dos maus tratos.

Desde 1930, milhares de crianças passaram pelas cerca de 250 escolas industriais da Irlanda. O contato com a família era perdido, já que a visita dos parentes era desencorajada. Os internos só eram liberados ao completar 16 anos. Cristopher Heaphy foi uma exceção. Aos 12 anos, o garoto foi espancado por um religioso e, durante uma rara visita, conseguiu mostrar ao pai as cicatrizes e machucados. O pai o levou à Justiça e o então ministro Jack Lynch assinou uma ordem liberando o garoto da instituição. A escola foi fechada três anos depois. Mais tarde, Lynch se tornou primeiro-ministro da Irlanda, mas pouco fez para mudar o que acontecia dentro dos muros de várias outras entidades para crianças.

Ao falar sobre as escolas industriais, tanto Heaphy quanto O’Brien se referem ao “tempo em que servimos naqueles lugares”. Para ambos, foi uma época de puro sofrimento, sem nenhuma boa lembrança.

“Eu nunca tive um julgamento, nunca fui legalmente representado. E acabei tirado do conforto da minha casa e jogado naquele lugar, como se fosse um assassino. Já as pessoas que me violentaram nunca foram punidas nem levadas ao tribunal”, lamenta O’Brien. “O crime era tão horrível que ninguém acreditava. Era desumano. Animalesco. E nós não podíamos fazer nada, a não ser esperar pela próxima pessoa a nos chamar para cometer a mesma violência de novo. Eu espero que você nunca testemunhe algo semelhante ao que eu passei”, completa.

As escolas industriais foram fechadas nos anos 1990 e substituídas por escolas para menores delinquentes. Atualmente, há apenas cinco em funcionamento em todo o pais. Os crimes dos quais membros da Igreja Católica são acusados de cometer contra crianças durante mais de 60 anos teriam acontecido também em orfanatos, reformatórios e em sacristias de igrejas. Ordens religiosas como os Christian Brothers (Irmãos Cristãos) chefiavam muitos desses locais.

Segundo investigações, meninas irlandesas teriam sofrido menos abusos sexuais. Mas eram frequentemente molestadas moralmente, humilhadas e espancadas em instituições dirigidas por freiras, como as da ordem Sisters of Mercy (Irmãs da Piedade). Há também relatos de trabalhos forçados em instituições femininas, como os Magdalene Asylums (Orfanatos de Madalena). As entidades que abrigavam mulheres consideradas socialmente degradadas ficaram famosas em outros países quando foram retratadas no cinema em 2002 no filme Em Nome de Deus (The Magdalene Sisters), de Peter Mullan. O último abrigo da irmandade em Dublin foi fechado em 1996.

Religião

Antigamente, na Irlanda, havia uma tradição forte quanto à profissão dos homens: qualquer um que decidisse ser médico ou padre teria o futuro garantido. Quando um filho decidia ser sacerdote, a família não precisava mais se preocupar. Ele teria a melhor educação, as melhores roupas, uma boa moradia e tudo mais de que precisasse. Cristopher Heaphy aponta isso como um dos fatores que podem ter levado a tantos abusos por membros da Igreja. “Esses homens foram supervalorizados. Nós os colocamos em pedestais onde eles jamais deveriam estar. Por isso, eles se sentiam superiores e com direito de fazer tudo o que achassem certo”, comenta.

Entretanto, o engenheiro não perdeu a religiosidade. “Eu acredito em Deus. A Igreja é uma instituição gerenciada por homens. Quem cometeu os crimes são pessoas e elas devem responder por isso. Mas eu ainda vou à missa. Minha relação com Deus é direta, cara a cara. Não há um padre entre nós”.

A postura de Michael O’Brien é semelhante. “Eu não vou à igreja. Mas sempre serei católico por um único motivo: minha mãe me batizou na igreja católica. E isso eu devo a ela”, explica. “Mas não tenho motivos para ir à igreja. Muitos padres iam à minha casa conversar e beber uísque quando eu era prefeito. Depois que eu deixei o cargo e resolvi contar sobre os abusos, eles fingem que não me conhecem”, lamenta.

Sofrimento como rotina

De acordo com os relatos, nas escolas industriais as crianças eram acordadas às 6h. Mesmo no inverno, elas usavam roupas curtas e, por vezes, não tinham sapatos. Antes da missa das 7h, todos tinham de tomar café da manhã: um pedaço de pão mergulhado num galão que misturava água e geleia. Em seguida, todos deveriam estudar até a hora do almoço. Na prática, crianças amedrontadas eram obrigadas a ficar sentadas em suas mesas por horas, sem falar e sem aprender nada. Se alguém era questionado e desse a resposta errada, tinha que ir à frente da sala, tirar a roupa e apanhar do ‘professor’ diante de todos os colegas. No meio da ‘aula’, alguns padres apareciam para tirar vários alunos das classes. Os menores eram levados para o campo, onde trabalhavam recolhendo pedras, batatas e outros vegetais.

“Não bastava trabalhar e obedecer. Os castigos eram severos e sem motivo. Nós éramos atirados em uma banheira de água fria. Depois tínhamos que tirar a roupa e subir uma escada, enquanto um adulto nos batia com uma vara. Não havia razão para aquilo. Eles eram sádicos”, diz Heaphy. O’Brien completa: “Nós éramos tirados da cama no meio da noite para apanhar com a vara. Eles batiam em qualquer parte do corpo. Por quê? Eu acho que aquilo dava a eles satisfação sexual”.

Ao chegar às escolas industriais, os garotos tinham o cabelo raspado e ganhavam um número. Os nomes eram esquecidos e aquela era a nova identidade deles. “O espancamento não era suficiente, eles queriam nos humilhar. Os padres nos chutavam enquanto andávamos pelos corredores e diziam que não éramos ninguém, que nunca seríamos nada. Aquilo era um abuso mental. Nós tínhamos medo o tempo todo”, lembra o engenheiro.

“Havia o abuso mental, o abuso psicológico, o abuso físico... mas nada se compara ao abuso sexual. Sujo, nojento, asqueroso. Um homem me violentou brutalmente no meu primeiro dia naquele lugar e depois me bateu, dizendo que eu era culpado pelo que tinha acontecido, que eu era o diabo trazendo tentação. O pior foi ver o mesmo homem me dar a comunhão na missa da próxima manhã. Depois de me estuprar, ele colocou a hóstia em minha boca”, desabafa o ex-prefeito.

Heaphy conta que viveu situações semelhantes: “Em um instante eu tinha o padre me ensinando religião. No próximo minuto, ele estava arrancando as minhas roupas e estuprando meu pequeno corpo inocente. Isso causou problemas psicológicos que me perseguem durante toda a vida”.

Quando confrontadas com evidencias de abuso sexual, as autoridades transferiam as crianças para outras instituições, onde elas poderiam ser abusadas novamente.

Suicídio

As lembranças e os pesadelos que perseguem as vítimas dos abusos muitas vezes conseguem acabar com a vida dessas pessoas. O’Brien confessa ter tentado se matar uma vez. “Eu voltava dirigindo de Dublin para Clonmel e quis destruir o carro para acabar de vez com o sofrimento. Estava completamente desesperado, me sentindo como um pedaço de sujeira. Só não terminei com a dor naquele momento porque minha mulher estava ao meu lado e me convenceu a não fazer aquela besteira”, relata.

Heaphy foi mais longe. Aos 29 anos, passou por um momento de desespero e cortou as veias sanguíneas do braço. A hemorragia não foi suficiente para matá-lo. “Eu fiz isso por causa dos crimes psicológicos. Eu continuo indo ao analista a cada duas semanas até hoje, mas nunca vou me livrar disso. Às vezes eu paro e penso que esse não é um corpo para estar dentro. Em um momento eu estou alegre e, no instante seguinte, algo me lembra o que aconteceu e a vida perde o sentido”.

Outros ex-internos não tiveram a mesma sorte. Por questões de privacidade, as associações de vítimas trabalham para manter em sigilo as identidades, mas sabe-se que muitos chegaram a cometer suicídio após anos de tormento.

Escândalo

Os casos de violência contra internos das escolas industriais ficaram amplamente conhecidos em maio de 2009, quando o juiz Sean Ryan divulgou um relatório de 2600 páginas contendo o resultado de nove anos de trabalho da Comissão de Investigação de Abuso Infantil na Irlanda. A Comissão ouviu o testemunho de mais de 250 ex-internos e oficiais dessas instituições. O documento afirma que durante 60 anos, da década de 30 até o fechamento das escolas nos anos 90, mais de 2 mil meninos e meninas foram espancados, violentados e humilhados por padres e freiras. Irlandeses que atualmente vivem em países como Austrália e Estados Unidos voltaram para casa para contar sobre a infância de terror e intimidação. O relatório classifica como ‘endemia’ a rotina de estupro e molestação nas entidades gerenciadas pela igreja católica. Representantes da igreja conseguiram adiar a divulgação do texto por várias vezes e garantiram o direito de anonimato das pessoas citadas no documento como culpadas pelos abusos, mesmo em casos de indivíduos julgados e condenados por ataques físicos e sexuais contra crianças. A manobra revoltou as vítimas. “Eu lutei 10 anos da minha vida para tudo isso vir à tona. Eu fiquei exposto e expus minha família. E agora ninguém será punido. É muito triste”, lamenta Michael O’Brien.

Igreja

A proporção do caso preocupou as lideranças da igreja católica. No começo desse ano, bispos irlandeses foram chamados ao Vaticano para explicar como estavam lidando com a questão da violência infantil. Em 19 de março, o Papa divulgou uma carta dirigida aos católicos da Irlanda. No texto, Bento XVI se diz profundamente perturbado com as informações sobre o abuso sofrido pelas crianças. O chefe da Igreja pede desculpas pelo que ele chama de “traição, pecado e atos criminosos”. O conteúdo da carta, no entanto, não foi tão bem recebido pelos irlandeses. “Nós aceitamos as desculpas do Papa. Isso não é um problema. Acontece que a maior parte da carta foi nada mais do que uma demonstração de solidariedade aos bispos, cardeais e padres que falharam com o país. O texto foi dirigido a eles, para mantê-los dentro da igreja”, comenta Heaphy. O’Brien tem opinião parecida: “A carta trouxe uma desculpa que me deixou feliz. Mas o principal ponto do documento é a própria Igreja. É pedir aos bispos para unir a igreja, para salvar a instituição. Não há nenhuma preocupação em salvar as pessoas abusadas pelos membros da Igreja”.

Ainda no mês de março, o cardeal primaz da Irlanda pediu perdão por ocultar os casos de abuso sexual no clero. Sean Brady se disse envergonhado por não ter defendido valores que prega para os fiéis. Ele admitiu que, em 1975, pediu a vítimas da violência que mantivessem silêncio. As associações de ex-internos ficaram revoltadas e começaram um movimento pela renúncia do Arcebispo. Em 31 de março, Brady se reuniu com líderes das vítimas e prometeu uma investigação nacional sobre todas as denúncias. O representante máximo da igreja católica na Irlanda afirmou, no entanto, que só renuncia se o Papa pedir. A decisão do cardeal é aguardada para o fim de maio.

*Texto e fotos.

A UDR ataca...todo cuidado é pouco...

A imagem do MST segundo a CNA

Jeansley Lima

Logo depois da aprovação do requerimento de abertura de uma nova CPMI no Congresso Nacional contra o MST, a Confederação Nacional de Agricultura (CNA) encomendou uma pesquisa ao Ibope, que ouviu 2002 pessoas de todas as regiões do país, entre os dias 12 a 16 de novembro de 2009. Para criar um novo fato político para tentar desmoralizar o MST, a pesquisa CNA/Ibope contou com a habitual complacência das principais emissoras de TV e dos grandes jornais impressos para sua divulgação. O destaque foi que 60% dos brasileiros desaprovam o MST.
 
A pesquisa aponta dados que sequer foram divulgados. Somente 20% dos entrevistados afirmaram conhecer bem o MST, enquanto 73% declararam conhecer pouco. Não se sabe ao certo a definição do que é “conhecer bem o MST”, contudo, podemos fazer algumas suposições. A primeira é que os entrevistados de algum modo já tiveram em algum assentamento/acampamento do MST, conhecem o seu funcionamento e as experiências de produção agrícola, ou os processos educativos e culturais desenvolvidos. Com isso, teriam elementos para opinar a respeito. Outra hipótese – e a mais provável - é que os entrevistados acompanham a cobertura da mídia, especialmente da televisão, sobre o MST e, portanto, estão seguros do que afirmam sobre o assunto.
 
Dessa maneira, levando em conta o modo como a mídia cobre os conflitos agrários, a luta do MST e sua relação com o governo e a sociedade é plausível entender o motivo por que 53% dos entrevistados associam o MST à violência. Afinal, não seria por só verem o movimento representado dessa maneira na TV?
 
A velhinha de Taubaté já seria capaz de prever os resultados de uma pesquisa encomendada pela senadora Kátia Abreu (DEM/TO), postulante a líder dos ruralistas no Congresso Nacional, a respeito do MST. E esta não é apenas uma dedução simplista. O caráter panfletário e manipulador da pesquisa são expostos em algumas questões, que revelam as suas verdadeiras intenções.
 
Vejamos, por exemplo, a pergunta se o entrevistado concorda ou discorda que “quem já possui propriedade hoje tem o direito de escolher se quer ou não produzir nela”, ou se o mesmo está de acordo com a seguinte frase: “o que lhe pertence ninguém pode tomar”. Como a grande maioria dos entrevistados concordou com tais assertivas, 77% e 87% respectivamente, a CNA pretende reiterar que a ocupação de terra é um crime - por entender que a propriedade, para todos os efeitos, é inviolável - e que a população recrimina essa ação, por isso o MST deve ser investigado e para isso conta com o suposto suporte popular.
 
 Além de tratar questões políticas e sociais com uma perspectiva dissimulada, a pesquisa pretende tentar legitimar a violência dos proprietários rurais para defenderem suas terras. Nesse ponto, a pretensão ruralista deu com os burros n’água. Cerca de 60% dos entrevistados não concordam que os proprietários rurais utilizem dos seus meios para evitar as ocupações (ou seja, repudiam jagunços e grupos armados). Somente 4% concordam que os ruralistas devem usar dos seus próprios recursos para garantir a reintegração da terra.
 
 
 
A maioria acredita que a solução da questão está a cargo do governo e da justiça. Para quem historicamente se dispõe da arbitrariedade e da violência para tratar as questões sociais, os contratantes da pesquisa devem ter ficado desapontados com o resultado.
 
Na pesquisa, há mais uma tentativa desesperada dos ruralistas de relacionar o governo Lula ao MST, insinuando que as ocupações de terra são financiadas com recursos públicos. Porém, 35% dos entrevistados acreditam que o governo federal é desfavorável ao MST, dado superado apenas pela mídia, 40%, e o Congresso Nacional, 41%.
 
 Assim, os dados indicam que a população não acredita na tese defendida pelos ruralistas, que deseja que o governo federal e a sociedade sejam contrários ao MST tanto quanto a eles. No que se refere à ocupação das terras, mesmo que sejam latifúndios improdutivos, terras griladas, ou propriedades que desenvolvem atividades ilegais, como o trabalho escravo, 68% dos entrevistados discordam desse tipo de ação do MST.
 
 Embora 29% afirmam que a finalidade desta ação seja para assentar as famílias que estão acampadas, enquanto 66% acreditam que serve para pressionar o governo para fazer a reforma agrária. Os ruralistas tentam convencer a população que a ocupação é um crime. Por isso, devem ser combatidas com rigor, a ponto de utilizar deste argumento para a todo custo aprovar um projeto de lei que torna a ocupação de terra um crime hediondo, como o seqüestro, latrocínio e o tráfico de drogas.
 
E para deleite da Kátia Abreu, Ronaldo Caiado e quejandos, a pesquisa alcançou a auge esperado no seguinte item: 82% dos entrevistados afirmaram ser a favor da CPMI e 11% contra. Nesse sentido, os ruralistas entendem que a população reprova o MST e concorda que todas as tentativas de investigação, pois se trata de um movimento criminoso.
 
A pesquisa também pondera ao seu público sobre os objetivos do MST, que segundo o Ibope são três: a luta pela terra; a distribuição de renda e a busca por uma sociedade mais justa e igualitária. Em termos gerais, a CNA gostaria de saber se o seu discurso conservador e contra os pobres tinha ressonância na sociedade, ou se a causa do MST era vista popularmente como justa. E 88% dos entrevistados concordam com os objetivos descritos, apesar de 57% desconfiarem que o MST esteja lutando para tais fins. Enquanto 58% acham que o MST é legítimo porque são trabalhadores querendo terra para trabalhar e morar, mas que não têm condições de pagar por ela.
 
Assim, os ruralistas se defrontam com a legitimidade da reforma agrária na sociedade e que a maioria da população considera justa a sua causa. Daí se justifica a incessante tentativa de usarem o artifício de criminalizar os movimentos sociais e suas lideranças, julgando-os incapazes para atingir tal fim. Apesar de utilizar variados instrumentos para tentar impedir o avanço da reforma agrária, a bancada ruralista não conseguiu o argumento necessário para inviabilizar um projeto social que conceba uma sociedade mais justa e igual e não conta com o apoio da população brasileira.
 
- Jeansley Lima, 32 anos, é mestre em História Social pela Universidade de Brasília.