terça-feira, 30 de setembro de 2008

grande documentário...


Alfabeto Afegão
(Alefbay-e Afghan)


SINOPSE:

O talibã constituiu não apenas um regime político, mas uma cultura que deixou um legado de espoliação e desgraça. A educação foi negada a aproximadamente 95% das mulheres e 80% dos homens do Afeganistão, um processo que já havia tido início antes da chegada do talibã ao poder. Este documentário mostra a vida de crianças nas vilas da fronteira com o Irã e questiona por que elas não têm a oportunidade de estudar. Apenas poucas meninas freqüentam aulas do Unicef. À procura de um esclarecimento para os problemas culturais do Afeganistão, o diretor abertamente meneia sua bandeira: a ação militar não adianta, porque, embora possam destruir um regime político, bombas não são capazes de erradicar uma cultura.

INFORMAÇÕES SOBRE O FILME E O RELEASE:

Gênero: Documentário / Drama
Diretor: Mohsen Makhmalbaf
Duração: 46 minutos
Ano de Lançamento: 2002
País de Origem: Iran
Idioma do Áudio: Farsi
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0315148/

Qualidade de Vídeo:
DVD Rip
Vídeo Codec: XviD ISO MPEG-4
Vídeo Bitrate: 2008 Kbps
Áudio Codec: MP3
Áudio Bitrate: 129
Resolução: 592x448
Formato de Tela: Tela Cheia (4x3)
Frame Rate: 25.000 FPS
Tamanho: 700 Mb
Legendas: Em anexo


PREMIAÇÃO E CRITICA:

1. Thessaloniki 4th festival , Honorary Humanitarian Award (Greece) 2002

2. "Best Film Award"from Document ART International Film Festival, (Germany) 2002.

O Taliban já não era um regime político no Afeganistão, mas ainda era uma cultura. O bombardeamento pode arruinar um regime político, mas não pode mudar uma cultura. Você não pode livrar uma mulher que está aprisionada em um burqa com um míssil. A garota afegã precisa de educação. Ela não sabe que ela não sabe. Ela é prisioneira, mas ela não sabe que é prisioneira da pobreza, da ignorância, do preconceito, do chauvinismo machista e da superstição. 95% das mulheres e 80% dos homens no Afeganistão não têm a oportunidade de frequentar a escola mesmo depois do Taliban. O filme procura a chave perdida que consiga abrir a fechadura dos problemas culturais do Afeganistão.

Mohsen Makhmalbaf


DOWNLOADS ABAIXO:

Arquivo anexado Mohsen_Makhmalbaf___Afghan_Alphabet__2002_.torrent
Arquivo anexado Alefbay_e_afghan_PTBR.rar



A honra da terceira idade






A ONU consagra o 1º de outubro como Dia Internacional das Pessoas Idosas. Em todo o mundo, propõe que se reflita sobre os direitos e a missão própria das pessoas das chamadas "terceira e quarta idade". As pesquisas revelam que, em todo o mundo, a taxa de nascimentos tem diminuído, assim como o progresso da medicina tem evitado mortes, antes comuns. O resultado é que nos últimos 30 anos, mais do que dobrou o número das pessoas acima dos 60. No mundo, ultrapassam a cifra de 600 milhões e, no Brasil, 15% da população (27 milhões) tem mais de 65 anos.

As sociedades tradicionais como, comunidades indígenas e negras valorizam profundamente os anciãos, como detentores de uma sabedoria interior que se acumula à medida que as forças físicas vão diminuindo. As pessoas mais velhas são consideradas como portadoras privilegiadas do Espírito. Por isso, estas comunidades reservam sempre funções próprias para as pessoas mais velhas.Nas sociedades ditas modernas, organizadas em torno da produção e do lucro, quem não está mais no mercado se sente marginalizado e tende a envelhecer mais rapidamente. A família vive em torno das atividades e horários diferentes de cada um. Cada vez mais, o destino dos idosos é o asilo. Ali, as pessoas mais velhas recebem comida e cuidados básicos, mas, na maioria das vezes, se sentem isoladas e mesmo abandonadas. Uma pesquisa recente, feita por sociólogos da Universidade de Caxias do Sul, constatou que o sentimento de mais de 80% das pessoas idosas é de solidão e abandono.

Não adianta a medicina vencer doenças e conseguir que as pessoas vivam mais, se não se garantir qualidade de vida e verdadeira inserção dos idosos nos diversos níveis e tarefas da sociedade.

No romance Ninguém escreve ao coronel, de Gabriel Garcia Marques, o velho coronel, personagem principal do livro, espera, em vão, uma carta do governo lhe dando aposentadoria e pensão. A cada manhã, o coronel se olha no espelho, veste sua roupa mais pomposa e se põe à espera de uma correspondência que nunca chega. Todos sabem que não virá, inclusive sua mulher. Mas essa é a forma dele se manter vivo. Através daquele ritual de espera e ilusão, ao imaginar que a pensão continua sendo adiada, ele sente como se estivesse protelando a própria velhice.

Em seu clássico livro sobre a velhice, Simone de Beauvoir mostra, entre outras coisas, que o inconsciente não tem idade e que temos forte tendência a nos comportar, na velhice, como se jamais fôssemos velhos. Isso agrava o sofrimento de quem não se sente velho e percebe que os outros lhe vêem como idoso. Já na Roma antiga, em seu famoso tratado De Senectute (Da velhice), Cícero escrevia: "Tu envelheces quando começas a te considerar como uma pessoa velha". São raras as pessoas que, aos 60 anos, se consideram nessa condição. Mesmo depois dos 80 anos, muitos se sentem como se tivessem 50. Simone conclui: "Todo mundo quer viver por muito tempo, mas ninguém quer envelhecer". Os atuais cuidados e possibilidades de plásticas e terapias corporais aumentam ainda mais esta tendência. Entretanto, seja como for, ninguém escapa deste processo.

Uma amiga que mora em João Pessoa me contou que, nas eleições passadas, entrou na fila que havia na porta da seção eleitoral. De repente, um senhor saiu e, com a cultura de nordestino do interior que não disfarça as duras verdades da vida, falou claro e em uma linguagem que, hoje, não se costuma usar: "Atenção, velhinhos e velhinhas, podem passar à frente!". Sintomaticamente, ninguém se mexeu. Foi, então, que o homem apontou para a minha amiga: "A senhora não escutou? Pode vir!". Ela me contou isso, concluindo: "Assim, naquele dia, fiquei sabendo que era uma velhinha".

Há alguns anos, Ivan Lessa, jornalista brasileiro em Londres, conta em uma crônica que, aos 65 anos, a pessoa recebe do governo inglês o CV que não é o curriculum vitae e sim "Certificado de Velhice", ou a "Carteira de Velhinho", para o qual os ingleses "usam um eufemismo: 'Freedom Pass'. Passe da liberdade. Apesar de que dá direito a andar gratuitamente em transportes públicos e assegura a prioridade em certas filas desagradáveis, muitos preferem não recebê-lo. Não querem ser vistos como velhos. Outra amiga minha não tem nenhum problema com isso. Nem vê motivos para ter. Aos 88, essa grande educadora e mulher maravilhosa continua trabalhando incansavelmente na educação humana e artística das crianças de rua. Recentemente, me procurou com um novo projeto de vida e de trabalho. Ela imaginou a UPA, Universidade Popular das Artes e se sente feliz em organizar este novo trabalho.

Cada pessoa tem seu jeito de ser e de lidar com o cansaço da vida. O importante é descobrir que nunca é tarde para amar e para se consagrar a uma causa fundamental para a humanidade e para o planeta Terra. Toda a sociedade precisa valorizar os seus cidadãos mais idosos e receber deles o testemunho de sua sabedoria. No mundo antigo, já se sentindo idoso e em uma prisão por causa da fé, Paulo escreveu: "Combati o bom combate, concluí a minha carreira e mantive firme a fé" (Cf. 2 Tm 4, 7).


* Monge beneditino e escritor

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Reforma Ortográfica - Mudanças após o GreNal!

Texto de autoria desconhecida e postada no Orkut por Luciano Jalfim.

Hoje será assinada a reforma ortográfica da língua portuguesa, portanto prestem atenção: O "c" mudo que os portugueses usavam não mais será utilizado, por exemplo: O certo é GALÁTICOS e não GALÁCTICOS.

O apóstrofo continua em vigor, por exemplo: É D'Alessandro e não Dale Alessandro.
O k, y e o w são incorporados no nosso alfabeto, especialmente em nomes; como por exemplo: Poderia ser Nylmar, mas se foi batizado como NILMAR, assim continua sendo.
Da mesma forma a pessoa pode pedir um Kilo de Chocolate, mas não é correto dizer cuatro quilos, ou 4 kylos de chocolate.
O til sobre a letra N não é admitida no nosso idioma. Portanto GUIÑAZU não existe. É sonho... ou assombração para os outros.
O ch e o x seguem sendo usados, devendo ser observada a grafia correta: CHOCOLATE é com ch. CHOCOLATE COM QUATRO é considerado uma crueldade, sendo até admitido o uso do xis. O "x" no final do nome segue em vigor, ex.: Alex.
O acento no início das palavras paroxítonas terminadas em ditongo continuam sendo acentuadas: Exemplo: ÍNDIO. Embora aquele acento no alto possa parecer a supremacia do indígena quando salta entre alguns palermas.
Por tudo isso, seja você um professor ou um operário, deve aprender as mudanças no nosso idioma. Anunciam-se dois fatos importantes: O clássico do Operário do Mato Grosso x Operário da Azenha.
A última é ligada à crise do setor financeiro americano. Em vez de usar o cifrão $$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$, que é expressão do problema financeiro, sugerimos usar a mesma tecla, porém na minúscula e tudo se resolve, vejam só:
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OGM perde espaço em MT

Alto custo do glifosato e logística em favor das regiões oeste e noroeste do Estado fazem variedade retroceder na lavoura a cada safra. Tecnologia OGM que já foi vista como ‘salvação da lavoura’ se revela agora em MT, uma variedade cheia de ‘poréns’

Vedete das lavouras nas safras de 2004, 2005 e 2006, os transgênicos ou OGMs (organismos geneticamente modificados) começam a perder espaço para a soja convencional em Mato Grosso, principalmente na região oeste e noroeste, em lavouras localizadas em Campos de Júlio e Sapezal, por exemplo, onde a presença do grão OGM recua para cerca de 5% da área plantada. A elevação de até 70% nos preços do litro do glifosato – químico específico para este tipo de variedade – e a logística favorecida por meio dos portos de Itacoatiara e Santarém, fizeram com que os sojicultores retrocedessem no planejamento da cultura e optassem pela soja convencional, a isenta de trangenia.

Os portos que embarcam soja para Europa, localizados no Amazonas e Pará, respectivamente, só movimentam variedade convencional, obedecendo a exigência do seu mercado consumidor.

Por conta destes fatores, a soja geneticamente modificada vem sendo gradativamente substituída pela convencional, fenômeno que há dois anos não se observava em Mato Grosso. Hoje, apenas 5% do plantio na região oeste/noroeste são de soja transgênica. Nas regiões norte e leste, este percentual chega a 40% e, no sul, 75%.

“O produtor está fazendo as contas antes de plantar e está chegando à conclusão de que trabalhar com OGMs hoje sai muito caro”, aponta o diretor-executivo da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Marcelo Duarte Monteiro.

Aliada a este fator está a estratégia das tradings responsáveis pelo escoamento da produção das regiões oeste e noroeste de Mato Grosso – a Amaggi e a Cargill – que possuem um nicho de mercado bem pontual: o europeu, que via de regra, paga um pouco mais pela soja convencional a estas empresas exportadoras. Entretanto, o produtor não vê a cor do ‘dinheiro a mais’ pago pelos europeus. Quem ganha mesmo são as tradings, que criaram um sistema de escoamento próprio para o transporte da soja convencional. Normalmente, essas empresas não compram produtos OGMs para não misturá-los aos não-transgênicos (convencionais) e, assim, evitar a contaminação e o comprometimento da carga.

A via de escoamento, denominada “Corredor de Exportação Noroeste”, sai da região do Parecis por caminhão até Porto Velho (RO) e vai de balsa até ao porto de Itacoatiara, no Amazonas.

Os portos de Itacoatiara, da Amaggi, e Santarém, controlado pela Cargill, por exemplo, são exclusivos para o transporte de soja não-transgênica. Por isso, quem tem terra nas regiões oeste e noroeste de Mato Grosso acaba optando pelo plantio de não-transgênicos e vendendo para essas duas empresas, pela facilidade de escoamento.

Segundo dados da Aprosoja/MT, através desse corredor são transportados cerca de três milhões de toneladas por safra, para atender basicamente o mercado europeu, que tem preferência pela soja não-transgênica. Nesta transação, a trading recebe um ‘prêmio’ de US$ 60 a US$ 80 por tonelada, ‘faturamento extra’ de até US$ 240 milhões por safra. Mas o produtor não tem qualquer participação nesta diferença paga às empresas. Muito pelo contrário: se a soja for transgênica, o produtor é que tem de pagar um deságio de US$ 2 por saca às tradings.

A reportagem procurou a Cargill e a Amaggi, mas as tradings se negaram a dar informações, alegando ‘questões estratégicas’. A Amaggi, via assessoria de imprensa, informou que o presidente do grupo, Pedro Jacyr Bongiolo, “não gostaria de falar sobre este assunto, pois são informações estratégicas do Grupo que não podemos divulgar”.

Fatores

Para o presidente da Aprosoja/MT, Glauber Silveira, o cultivo de soja transgênica depende de três fatores básicos: preço do glifosato, variedades adaptadas à região e produtividade. “Os produtores estão colocando tudo isso na balança”, conta, apontando que a transgenia é vantagem do ponto de vista da operacionalidade, pois facilita o controle e manejo da lavoura. “Mas o problema é na hora de comprar o glifosato”.

Glauber informou que apesar do alto custo do glifosato, 40% da soja produzida em Mato Grosso é transgênico. “Mato Grosso ainda é um dos poucos estados que têm grande área de plantio de soja convencional. No Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, mais de 90% das áreas utilizam sementes transgênicas”.


Por Marcondes Maciel, da reportagem do Diário de Cuiabá, Domingo, 28 de setembro de 2008http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=328264

Chocolate galáctico: Inter 4x1 Grêmio (Brasileirão)

domingo, 28 de setembro de 2008

Wall Street, descanse em paz:

o fim de uma era




Wall Street. Duas palavras simples que, assim como Hollywood e Washington, conjuram um mundo. Um mundo de grandes egos. Um mundo onde pessoas adoram apostar com dinheiro emprestado. Um mundo de negócios realizados na corda-bamba, impulsionados por computadores.

Em busca de retornos cada vez maiores -e iates maiores, carros mais rápidos e coleções de arte mais caras para seus altos executivos- as firmas de Wall Street reforçaram suas mesas de negociação e contrataram gênios da física quântica para desenvolver programas à prova de falhas.

Os fundos hedge colocavam os mercadores no vermelho (a alta da coroa dinamarquesa) ou no preto (a queda do PIB da Tailândia). E firmas de private equity reuniam fundos gigantes e saíam em uma onda de compras, adquirindo empresas como se fossem uma segunda esposa comprando sapatos Jimmy Choo em liquidação.

Este mundo está em grande parte chegando ao fim.

O imenso pacote de resgate que está sendo debatido no Congresso poderá ter sucesso em estabilizar os mercados financeiros. Mas é tarde demais para ajudar firmas como Bear Stearns e Lehman Brothers, que já desapareceram. O Merrill Lynch, cujo touro de sua marca registrada simbolizava Wall Street para muitos americanos, está sendo absorvido pelo Bank of America, localizado a centenas de quilômetros de Nova York, em Charlotte, Carolina do Norte.

Para a maioria dos financistas que permanecem, com a exceção de alguns poucos superastros, os dias de dinheiro fácil e bônus gigantes são coisa do passado. O boom do crédito que levou ao crescimento explosivo de Wall Street secou. Os reguladores que ficaram de lado por muito tempo agora estão ávidos para refrear os bad boys de Wall Street e as práticas que se proliferaram nos últimos anos.

"Os dias aventureiros nos negócios das firmas de Wall Street, basicamente transformando a si mesmas em fundos hedge gigantes, acabaram. A verdade é que não eram tão bons", disse Andrew Kessler, um ex-administrador de fundo hedge. "Você não mais verá pessoal de nível médio ganhando um número de sete dígitos ou múltiplos números de sete dígitos que ninguém conseguia entender exatamente como conseguiram aquilo."

O início do fim é sentido mesmo nos corredores do elitista e conservador Goldman Sachs, que, entre seus pares de Wall Street, resumia e definia a cultura de alto risco, alto retorno.

O Goldman é uma firma que as outras firmas de Wall Street adoram odiar. Ele conta com alguns dos maiores fundos hedge e de private equity do mundo. Seus banqueiros de investimento são os mais inteligentes. Seus corretores, os melhores. São eles que ganham mais dinheiro em Wall Street, dando à firma o apelido de Goldmine (mina de ouro) Sachs. (Seus 30.522 funcionários ganharam em média US$ 600 mil no ano passado -uma média que inclui tanto secretárias quanto corretores.)

Apesar dos executivos de outras firmas torcerem secretamente para que o Goldman cometesse pelo menos um grande erro, ao mesmo tempo eles se esforçavam ao máximo para copiá-la.

Apesar do Goldman permanecer excelente na prestação de consultoria para fusões e na intermediação do lançamento de ações no mercado, o que ele faz melhor do que qualquer outra firma de Wall Street é negociar bens mobiliários. Isso envolve o uso de seus próprios fundos, assim como uma pilha de dinheiro emprestado, para fazer grandes apostas globais.

Outras firmas tentaram seguir seu exemplo, acumulando risco e mais risco, na tentativa de capturar uma pitada da mágica do Goldman e de seus lucros estelares trimestre após trimestre.

Ninguém chegou perto.

Enquanto a crise de crédito tomava Wall Street ao longo do ano passado, levando o Merrill, Citigroup e Lehman Brothers a sofrerem prejuízos pesados em grandes apostas em ativos ligados a hipotecas, o Goldman continuava navegando sem grandes problemas.

Em 2007, no mesmo ano em que o Citigroup e o Merrill demitiram seus presidentes-executivos, o Goldman registrou receita e lucros recordes e pagou a seu chefe, Lloyd C. Blankfein, US$ 68,7 milhões -o maior valor pago a um presidente-executivo de Wall Street.

Mas até mesmo o menino de ouro de Wall Street não conseguiu suportar a turbulência que sacudiu o sistema financeiro nas últimas semanas. Após os problemas no Lehman e no American International Group (AIG), e do Merrill ter acertado às pressas sua compra pelo Bank of America há duas semanas, as ações do Goldman sofreram um golpe.

A crise do AIG foi particularmente problemática. O Goldman era o maior parceiro de negócios do AIG, segundo várias pessoas ligadas à seguradora, que pediram anonimato por causa dos acordos de confidencialidade. O Goldman assegurou aos investidores que sua exposição ao AIG era imaterial, mas clientes e investidores nervosos abandonaram a firma, temerosos de que os bancos de investimento -mesmo um tão estimado quanto o Goldman- poderiam não sobreviver.

"O que aconteceu confirmou meu sentimento de que o Goldman Sachs, independente de quão bom fosse, não estava imune à sorte", disse John H. Gutfreund, o ex-presidente-executivo do Salomon Brothers.

Assim, no último fim de semana, diante de poucas opções, o Goldman Sachs engoliu a pílula amarga e se transformou, entre todas as coisas, em algo simples e ordinário: um banco de depósitos.

A ação não significa que o Goldman dará, tão cedo, torradeiras como brinde pela abertura de uma conta em uma agência em Wichita. Mas a mudança é um ataque à cultura do Goldman e ao âmago de seus lucros excepcionais nos últimos anos.

Nem todos acham que a máquina de fazer dinheiro do Goldman ficará totalmente restrita. Na semana passada, o Oráculo de Omaha, Warren E. Buffett, fez um investimento de US$ 5 bilhões no banco, e o Goldman levantou outros US$ 5 bilhões em uma oferta separada de ações.

Ainda assim, dizem muitas pessoas, diante de mudanças tão amplas, o Goldman Sachs poderá perder o que o tornava tão especial. Mas, até aí, poucas coisas permanecerão as mesmas em Wall Street.

Créditos:Vermelho

Fonte: The New York Times
Julie Creswell e Ben White
Tradução: Tradução: George El Khouri Andolfato
UOL Mídia Global

sábado, 27 de setembro de 2008

A carne é fraca?


Sim, a dieta vegetariana faz bem à saúde. Para isso, é preciso ter muita informação e suplementação adequada

Giuliana Reginatto

Banir o bife do prato, encher a geladeira de maçãs, alface e legumes. À primeira vista, o vegetarianismo parece ser apenas isso: uma dieta simples, cujo sucesso depende só de resistir às tentações da carne. Ser vegetariano, contudo, é uma opção mais complexa. Palavra de especialista. “Tirar a carne do cardápio não é garantia de alimentação saudável”, diz o nutricionista George Guimarães, pesquisador do tema.

Para preservar a saúde, o vegetariano deve se informar sobre o valor nutritivo dos alimentos, sozinho ou por meio de profissionais, de modo que consiga balancear sua refeição. “É trabalhoso, mas perfeitamente viável para todos: de atletas a executivos”, garante Guimarães. Experiência no assunto não lhe falta. Vegetariano desde os quatro anos, criou os filhos Lucas, 9 anos, e Lucius, 8, na mesma linha.

Os meninos da família Guimarães seguiram a linha vegana, uma das mais restritivas entre os vegetarianos, até os quatro anos: esse cardápio exclui, além das carnes, ovos e produtos à base de leite. “Por decisão da mãe, motivada pelo aspecto social, hoje eles são ovolactovegetarianos. Passaram a surgir situações complicadas: como ignorar o bolo da festinha do amigo, o queijo no macarrão na casa do colega?”, indaga.

Para Guimarães, crianças são mais sensíveis à questão. “Quando me dei conta de que comia bichos mortos, fiquei confuso”, lembra. O entretenimento infantil, aliás, já detectou esse viés emocional. No desenho Procurando Nemo há até um tubarão vegetariano. Em A Fuga das Galinhas, é impossível não vibrar quando as penosas vão à forra contra uma cruel exploradora de aves. Para os crescidinhos, vale a postura de Lisa, a pequena notável de Os Simpsons, que se recusa a comer ‘bichos mortos’.

Mesmo para um especialista em nutrição, apto a executar combinações certeiras entre os alimentos, há tarefas desafiadoras quando se trata de vegetarianismo. A principal delas é garantir o suprimento da vitamina B12. “Recomendamos, sobretudo ao vegano, fazer a suplementação da vitamina. Quanto ao ferro, feijão, melado de cana e castanhas são boas fontes.”

A orientação dietética de Guimarães encontra respaldo nas conclusões de vários profissionais da área médica: é consenso entre eles que a manutenção da saúde não depende do consumo de carne. Vegetarianos bem-informados costumam ser, aliás, menos suscetíveis a doenças cardiovasculares, diabete e certos tipos de câncer do que carnívoros. (leia mais no box na página seguinte).

Aliado à motivação nutricional, o argumento ecológico embutido na abstenção de carne tem ajudado a esverdear o prato de muita gente. Acusado de incentivar a devastação florestal e o efeito estufa, o comércio de carne tem recebido ataques até da ONU. No início do mês, a BBC divulgou um pronunciamento de seu principal cientista climático, Rajendra Pachauri, sobre o tema: “Comam menos carne. As pessoas estão reduzindo as jornadas de carro, ansiosas sobre suas pegadas de carbono, mas não percebem que mudar o que está no prato pode ter efeito maior”, disse.

No Brasil, o estilo verde tem despertado interesse. Segundo dados do grupo francês Ipsos, líder em pesquisas de opinião, 28% das pessoas entrevistadas no País disseram que “têm procurado comer menos carne”. Se o consumidor quer, o mercado oferece. O Carrefour, por exemplo, investe na linha Viver, com alimentos orgânicos, dietéticos ou à base de soja. Criada em 2006 com 80 produtos, dispõe hoje de 290 itens. Marcas famosas, como Sadia e Perdigão, já têm versões naturebas de suas delícias: de lasanhas sem queijo a hambúrguer de soja.

Veteranos do vegetarianismo, que descobriram o poder da comida da terra muito antes de a dieta cair nas graças de artistas e virar moda, comemoram o crescimento da onda verde. É o caso da cantora Patrícia Marx, que se interessou pelo assunto há 17 anos. “Há cinco anos não tinha isso tudo, ser vegetariano era mais difícil. O que me tocou, no início, foi o sofrimento dos animais, mas apesar da minha convicção, não fico fazendo sermão. Conto, porém, dos benefícios, inclusive estéticos: perdi sete quilos que jamais recuperei ao adotar essa dieta. Minha digestão melhorou, as dores de estômago sumiram”, relata.

Patrícia aderiu ao vegetarianismo de modo gradual. Aboliu primeiro a carne vermelha e, há nove anos, quando engravidou de Arthur, excluiu também aves e peixes. “Ficou mais fácil ser vegetariano. Encontro dezenas de restaurantes, há sanduíches vegetarianos até no supermercado. Esse estilo de vida vem conquistando o Brasil. Em 2002, quando morei em Londres, já havia até peito de peru feito de soja!”, lembra.

A ONU estima que 10% dos ingleses sejam vegetarianos. Para o Brasil, faltam dados específicos sobre o mundo verde. Há, porém, indicativos do crescente interesse pelo tema. “Recebo cerca de 5 mil visitas diárias em meu
site, o vegetarianismo. Vejo uma demanda cada vez maior por informações”, diz a socióloga Marly Winckler, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB).

Marly é gaúcha e aboliu a proteína animal há 25 anos, mas conta que antes foi até churrasqueira. “Tenho marca de cortes nos dedos. Quando mudei a dieta, vivia tendo de justificar minha escolha, me sentia um ET. Hoje é diferente: as pessoas é que tentam explicar porque ainda comem animais.”

Para evitar discussões indigestas, Marly escreveu em 1997 um livro introdutório ao assunto: Vegetarianismo - Elementos para uma conversa sobre. “Não gosto de patrulha. É preciso respeitar os demais. As pessoas já estão percebendo que há mais boi que gente no mundo. São 200 milhões! Falta conhecerem outros dados. Em estudos da SBV vimos, por exemplo, que o bandejão vegetariano traria uma economia de 30% para as empresas.”

No lar da apresentadora Fernanda Lima, o cardápio é meio a meio. “Só eu sou vegetariana. Meus filhos já começam a comer papinha de legumes cozidos em caldo de carne, mais tarde poderão escolher como querem se alimentar. Não é fácil ser vegetariano quando o sistema empurra você para o consumo exagerado de carnes. Essa foi uma das razões que me levaram a abrir o restaurante Maní, com 50% de opções vegetarianas e outros 50% de pratos com carnes”, conta.

Gaúcha, Fernanda é vegetariana há cinco anos e ainda se esforça para resistir aos prazeres da carne. “Foi difícil abandonar antigos hábitos. Gosto de churrasco e quando sinto o cheirinho me dá tanta vontade! O que incomoda é não saber quanto de hormônio é colocado nas carnes e quantas vezes aquilo já foi congelado e descongelado até chegar ao prato. Ao engravidar, senti muito desejo de carne e comi bastante. Aí, passava o dia sentindo um peso indigesto”, lembra. Ela percebeu, então, que a carne já passou do ponto em sua vida. “Sem carnes a digestão fica rápida e o intestino funciona perfeitamente”, conclui.

Para vegetarianos mais recentes, como Luis Godoy, 21 anos, que aderiu ao estilo há três anos, a geladeira sem carnes simboliza mais que uma dieta. Trata-se de um estilo de vida. “Vai além da tortura animal. O vegano colabora com o meio ambiente e com seu próprio corpo. Sinto a diferença na respiração, disposição e até no crescimento pessoal. Basta querer: hoje há muita informação.”

Amigos do publicitário Fábio Chaves, 26 anos, podem obter dados instantâneos sobre vegetarianismo. “Trago no bolso um folheto que fiz com dados da ONU. Não fico constrangido com piadas, o humor traz a chance de iniciar o assunto. Quando me perguntam sobre o porquê de não comer animais, eu rebato com outra questão: afinal, por que comê-los?”


OVOLACTOVEGETARIANO

A maior parte dos vegetarianos se enquadra nessa categoria. Inclui ovos e derivados de leite, o que diminui o risco de a pessoa vir a ter deficiência de proteína e cálcio. Há também o grupo dos lactovegetarianos, que admitem o consumo de derivados de leite, mas não incluem ovos na dieta. Já dentro da linha do ovovegetarianismo, o consumo de ovos é considerado permitido pelos adeptos.

FRUGÍVOROS
No frugivorismo, é permitido comer só frutas, nozes e alguns legumes. Há uma preocupação em não matar as plantas, consumindo só o que elas podem repor facilmente: os frutos. Existem ainda os simpatizantes do crudivorismo. Neste caso, nenhum dos alimentos, principalmente os brotos, são cozidos acima de 40ºC, ponto a partir do qual as enzimas dos vegetais começariam a ser destruídas.

VEGETARIANO RESTRITO
Não comem alimentos de origem animal em nome da saúde. Entre eles há os veganos, os mais radicais. Rejeitam carne, ovo, derivados de leite e produtos que imponham algum sacrifício ao animal: de mel a blusas lã - e até extratos à base de gordura animal presentes em certos cosméticos. Mais que dieta, veganismo é um estilo de vida. Alguns sequer vão ao cinema pois a película contém gelatina.

MACROBIÓTICA
Baseia-se na filosofia chinesa das forças complementares: yin e yang. O ‘yin’ é a força feminina e representa a tranqüilidade. O ‘yang’ é o lado masculino, a agressividade. Juntas, formam um todo equilibrado. Açúcar, chá, álcool, café e leite são alimentos ‘yin’. Entre os ‘yang’ estão queijos duros, peixe, ovos. Há alimentos com equilíbrio entre as forças: cereais integrais, frutas, sementes e legumes.

VERMELHO
Cardiologista e nutrólogo do Hospital do Coração, Daniel Magnoni confirma que a dieta vegetariana reduz a exposição a doenças cardiovasculares e diabete, mas alerta: “Carnes fornecem ferro, zinco e selênio em maior quantidade”, diz. Segundo ele, “dependendo do conhecimento científico do vegetariano, há grande risco de anemia e desnutrição.” Doutora em ciência dos alimentos pela USP e presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação, Silvia Cozzolino não indica a dieta para crianças. “A carne é essencial no crescimento. A criança com genética para medir 1m80 pode estacionar no 1m65, por exemplo. Além disso, o sistema imune fica mais vulnerável na falta de zinco. Para quem exclui leite, vale saber que ele é a melhor fonte de cálcio. Em adultos vegetarianos, fizemos estudos sobre níveis de zinco e ferro. Metade das mulheres mostraram carência nesses minerais. Por outro lado, sabemos que o churrasco libera substâncias cancerígenas. O bom é comer carne com moderação .”

VERDE
Coordenador do departamento de medicina da Sociedade Vegetariana Brasileira, Eric Slywitch garante que o único nutriente que pede atenção na falta de carne é a vitamina B12. “A falta dela existirá em toda dieta desequilibrada, com ou sem carne”, diz. Em compensação, os benefícios proporcionados pelos vegetais, segundo ele, compensam o cuidado com a B12. “O vegetariano tem diminuído em 88% o risco de câncer de intestino grosso e em 54% no caso do câncer de próstata”, afirma. Sobre a crítica contra a carência de ferro , Slywitch acredita haver exageros. “A carne tem cerca de 40% de ferro-eme, que é melhor absorvido pelo corpo, mas ela perde muito dele em seu congelamento e preparo. O ferro não-eme, de vegetais como feijão, é de absorção mais difícil, mas isso pode melhorar com boas combinações. Se o ferro for ingerido com vitamina C, há mais absorção; se for com chá preto há menos”, ensina. Mais dicas constam no livro dele: ‘Como combinar alimentação sem carne’, de 2006.

Congresso Vegetariano
Mais que aprender sobre nutrição, o vegetariano ganha dotes culinários espontaneamente. Afinal, para fugir do alface com tomate não raro é preciso ter doses de criatividade para cozinhar a própria comida. Este é o caso de Maria Laura Packer (foto), vegetariana há 27 anos. No 2º Congresso Vegetariano Brasileiro, que neste ano está sediado no Campus do Centro Universitário de Belo Horizonte e começa na próxima quinta-feira, ela traz receitas surpreendentes, com direito a tortas e brigadeiro - tudo sem leite ou ovos, já que Maria Laura, 49 anos, é vegana.

Autora do livro Vegetarianismo - Sustentando a Vida, Laura ministra cursos sobre ioga e vegetarianismo há 20 anos. “Não é só uma dieta, o veganismo envolve uma visão sociocultural do mundo, leva a novos interesses, traz uma busca espiritual muito grande. Nós nos transformamos naquilo que comemos. Se como algo fruto da crueldade, isso repercute na minha matéria mental. Não é à toa que o mundo anda tão violento e reativo. Pelo bem-estar pessoal, por ecologia ou pelos animais, o vegetarianismo é um ato de compaixão”, conclui. O congresso termina no próximo domingo.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

NÃO À CONCESSÃO DA REDE GLOBO...

Lamentável que nosso governo dito de "esquerda" renovou a concessão dessa rede de tv que discrimina, conspira e defende seus próprios interesses e do capital internacional em detrimento de nosso povo manipulado por programas imbecis como esse casseta e planeta e as novelas que mascaram a realidade...

GLOBO É PROCESSADA POR DISCRIMINAÇÃO

Por Eduardo Sá, da redação

Nesta terça-feira (16), o programa Casseta & Planeta apresentou um quadro chamado “Otário Eleitoral Gratuito”, cujo conteúdo levou o Grupo de Ação pela Cidadania de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais a abrir um processo na Procuradoria Regional dos Diretos dos Cidadãos de São Paulo contra a TV Globo de São Paulo por discriminação às pessoas deficientes.

Nesse quadro, um dos candidatos, apresentado com o nome “Tinoco, o homem toco”, retratado por um personagem sem braços nem pernas, declara: “Você me conhece: eu sou o Tinoco, o homem toco. Vote em mim, que eu não vou meter a mão; e se eu roubar não vou conseguir fugir”, de modo a debochar genericamente não só dos políticos, mas também das pessoas com deficiências físicas.

Veja o vídeo aqui.

Por se tratar de um programa transmitido em horário nobre numa emissora que obtém alto índice de audiência no país, a entidade fez a denúncia e entrou com processo devido à ofensa porque uma “chacota de uma pessoa com deficiência agride não apenas a imensa população deste segmento de nossa sociedade, mas todas e todos que lutam contra qualquer forma de discriminação”.

Nestas condições, a entidade recorreu à Constituição da República Federativa evidenciando que a emissora infringiu os artigos 1º, 3º e 5º nos incisos III, IV e XLI, nos quais são garantidos a dignidade humana, o não preconceito/discriminação e as liberdades fundamentais, respectivamente.

Grupo de Ação pela Cidadania de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais também recorreu ao artigo 17 da Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficência, promulgada pela ONU, que diz: “todo deficiente tem o direito a que sua integridade física e mental seja respeitada, em igualdade de condições com as demais pessoas”.

O Coordenador-Adjunto de Direitos Humanos do grupo, Paulo Tavares Mariante, requer a instauração de um inquérito civil público para apuração das denúncias, um ofício expedido à emissora para esta lhe enviar uma cópia do programa em questão e que ao final do inquérito seja realizada uma ação civil para servir de reparação “à afronta dos direitos humanos de pessoas com deficiências e sirva como superação a qualquer forma de discriminação”.

É importante destacar que os esportistas brasileiros com deficiência tiveram seu melhor desempenho na história do país nas para-olimpíadas nesta que acabou de ser realizada em Pequim, onde os atletas conquistaram ao todo 47 medalhas, dentre elas 16 de ouro (contra apenas 3 de ouro dos atletas não-deficientes), e mesmo assim praticamente não tiveram espaço para transmissão de suas competições nas emissoras brasileiras, inclusive na Globo.

Bourdoukan explica...

Bourdoukan, em seu blog, explica questão sobre "nação árabe"...muito esclarecedor...

NÃO EXISTE UMA "NAÇÃO ÁRABE"

Leitores querem saber porque os “países árabes” não ajudam os palestinos.
Eu já expliquei aqui e já escrevi na Revista Caros Amigos que não existe uma nação árabe, assim como não existe uma nação portuguesa.

Explico: existem países de língua árabe, assim como existem países de língua portuguesa. E mais: há muita mais semelhança entre os países de língua portuguesa do que entre os países de língua árabe.

Até na culinária os países de língua portuguesa são mais semelhantes entre si do que os países de língua árabe. Um exemplo é a feijoada, que pode ser apreciada em Portugal, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Brasil, etc.

Já o mesmo não se pode afirmar em relação aos países de língua árabe. Vocês já imaginaram um beduíno apreciando um quibe frito no deserto? Com certeza correria risco de vida.

Portanto, aqueles que insistem em falar na existência de uma única nação árabe, ou não conhecem História e Geografia, ou são mal intencionados.

É verdade que vez ou outra dirigentes de países árabes pontuam seus discursos em nome de uma suposta “nação árabe”. Alguns o fazem com sinceridade, mas para a maioria, não passa de uma fórmula demagógica para desviar a atenção sobre problemas diários que eles são incapazes de resolver.

Em geral, tais dirigentes não passam de ditadores que não medem brutalidade para oprimir seu povo. E são esses mesmos ditadores que abominam qualquer movimento democrático e estão sempre culpando um inimigo externo.

Por isso, quem supõe que os países de língua árabe podem ajudar os palestinos, engana-se. Os palestinos representam a antítese desses governantes. Os palestinos são o que há de mais novo que surgiu no Oriente Médio, razão pela qual eles assustam não somente o governo de Israel como também os governos “árabes”.

Supor que reis, príncipes, ditadores e, vá lá, presidentes que governam países árabes podem ajudar os palestinos, é o mesmo que acreditar que um empresário vai dividir sua empresa com os operários ou um latifundiário vai dividir suas terras com o MST.

Essa é a realidade. O resto... bem, o resto é o resto!
Voltarei ao assunto.

A CAPA DA "VEJA" E PADRE VIEIRA

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Luiz Carlos Azenha


A capa da Veja pressupõe que Tio Sam tenha salvado mesmo àqueles que não precisavam de salvação. Eu, por exemplo, que não ganhei dinheiro com a especulação de Wall Street. Ou você que me lê.

O argumento é mais ou menos o seguinte: mesmo que você não se importe com isso ou que não acredite nisso, foi salvo pelos Estados Unidos. O dedo na cara do leitor é uma forma de intimidação intelectual muito cara aos neocons norte-americanos. Lá na metrópole eles estão desmoralizados, mas aqui resistem bravamente e intimam o leitor: "Acredite em mim ou você vai se dar mal!"

O jornalismo de Veja é o equivalente brasileiro do realismo socialista ou do realismo fantástico. Nele tudo o que Evo Morales fizer representa atraso; tudo o que vier de Washington representa avanço. Verdade factual? Quem quer saber dela se podemos fabricar nossa própria verdade? Luís Nassif definiu como parajornalismo, que é do que se trata: a criação de uma realidade paralela, em que Daniel Dantas é um empresário perseguido pelas forças maléficas do Estado brasileiro, Gilmar Mendes é o defensor dos fracos e oprimidos, os petralhas vagam pelas avenidas feito chupa-cabras.

É tão divertido -- para não dizer trágico -- quanto o padre Vieira, ao justificar o tráfico de escravos entre a África e o Brasil, com o qual os jesuítas faziam dinheiro: "Oh, se a gente preta tirada das brenhas da sua Etiópia, e passada ao Brasil, conhecera bem quanto deve a Deus, e a sua Santíssima Mãe por este que pode parecer desterro, cativeiro e desgraça, e não é senão milagre, e grande milagre!" (De um de meus livros de cabeceira, o Trato dos Viventes, de Luiz Felipe de Alencastro).

O dia que eu tiver tempo gostaria de explorar o que há em comum na crença dos jesuítas, dos trotskistas e dos neocons -- inclusive a versão mais vulgar representada por Reinaldo Azevedo e a turma da Veja -- na infalibilidade intelectual dos convertidos. Eles falam e escrevem com tanta certeza que parecem iluminados por alguma divindade.


BILLIE HOLIDAY
THE BEST OF LADY DAY -2000

Karl Marx manda lembranças

Artigo de César Benjamin, publicado dia 20 de setembro, na Folha de São Paulo

As economias modernas criaram um novo conceito de riqueza. Não se trata mais de dispor de valores de uso, mas de ampliar abstrações numéricas. Busca-se obter mais quantidade do mesmo, indefinidamente. A isso os economistas chamam "comportamento racional". Dizem coisas complicadas, pois a defesa de uma estupidez exige alguma sofisticação.

Quem refletiu mais profundamente sobre essa grande transformação foi Karl Marx. Em meados do século 19, ele destacou três tendências da sociedade que então desabrochava: (a) ela seria compelida a aumentar incessantemente a massa de mercadorias, fosse pela maior capacidade de produzi-las, fosse pela transformação de mais bens, materiais ou simbólicos, em mercadoria; no limite, tudo seria transformado em mercadoria; (b) ela seria compelida a ampliar o espaço geográfico inserido no circuito mercantil, de modo que mais riquezas e mais populações dele participassem; no limite, esse espaço seria todo o planeta; (c) ela seria compelida a inventar sempre novos bens e novas necessidades; como as "necessidades do estômago" são poucas, esses novos bens e necessidades seriam, cada vez mais, bens e necessidades voltados à fantasia, que é ilimitada.

Para aumentar a potência produtiva e expandir o espaço da acumulação, essa sociedade realizaria uma revolução técnica incessante. Para incluir o máximo de populações no processo mercantil, formaria um sistema-mundo. Para criar o homem portador daquelas novas necessidades em expansão, alteraria profundamente a cultura e as formas de sociabilidade. Nenhum obstáculo externo a deteria.

Havia, porém, obstáculos internos, que seriam, sucessivamente, superados e repostos. Pois, para valorizar-se, o capital precisa abandonar a sua forma preferencial, de riqueza abstrata, e passar pela produção, organizando o trabalho e encarnando-se transitoriamente em coisas e valores de uso. Só assim pode ressurgir ampliado, fechando o circuito. É um processo demorado e cheio de riscos. Muito melhor é acumular capital sem retirá-lo da condição de riqueza abstrata, fazendo o próprio dinheiro render mais dinheiro.

Marx denominou D - D" essa forma de acumulação e viu que ela teria peso crescente. À medida que passasse a predominar, a instabilidade seria maior, pois a valorização sem trabalho é fictícia. E o potencial civilizatório do sistema começaria a esgotar-se: ao repudiar o trabalho e a atividade produtiva, ao afastar-se do mundo-da-vida, o impulso à acumulação não mais seria um agente organizador da sociedade.

Se não conseguisse se libertar dessa engrenagem, a humanidade correria sérios riscos, pois sua potência técnica estaria muito mais desenvolvida, mas desconectada de fins humanos. Dependendo de quais forças sociais predominassem, essa potência técnica expandida poderia ser colocada a serviço da civilização (abolindo-se os trabalhos cansativos, mecânicos e alienados, difundindo-se as atividades da cultura e do espírito) ou da barbárie (com o desemprego e a intensificação de conflitos). Maior o poder criativo, maior o poder destrutivo.

O que estamos vendo não é erro nem acidente. Ao vencer os adversários, o sistema pôde buscar a sua forma mais pura, mais plena e mais essencial, com ampla predominância da acumulação D - D". Abandonou as mediações de que necessitava no período anterior, quando contestações, internas e externas, o amarravam. Libertou-se. Floresceu. Os resultados estão aí. Mais uma vez, os Estados tentarão salvar o capitalismo da ação predatória dos capitalistas. Karl Marx manda lembranças.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Mais um do cinema mudo...imperdível....

A ÚLTIMA GARGALHADA (Der Letzte Mann, ALE, 1924)



Formato: RMVB
Filme mudo
Legendas: Português (embutidas)
Duração: 1:30
Tamanho: 378 MB (04 partes)
Servidor: Rapidshare


Código:
Senha para descompactar: http://farra.clickforuns.net

Direção: F.W. Murnau
Roteiro: Carl Mayer
Produção: Erich Pommer
Música: Giuseppe Becce
Fotografia: Robert Baberske e Karl Freund
Direção de Arte: Robert Herlth e Walter Röhrig

Elenco:
Emil Jannings (Porteiro do hotel)
Maly Delschaft (Filha do porteiro)
Max Hiller (Noivo)
Emilie Kurz (Tia do noivo)
Hans Unterkircher (Gerente do hotel)
Olaf Storm (Convidado)
Georg John (Vigia noturno)
Emmy Wyda (Vizinho)

Sinopse: O idoso porteiro do Atlantis, um elegante hotel de Berlim, sente orgulho do seu trabalho, que faz com dedicação, e se comporta como um general em seu resplandecente uniforme, sendo tratado com respeito pelos seus amigos e vizinhos. Entretanto, o novo gerente do hotel se mostra insensível quando o velho porteiro pára um pouco para se recompor, após carregar uma pesada bagagem, e assim o gerente decide que o atual porteiro é velho demais para o cargo e o rebaixa para criado do banheiro masculino. Isto provoca um efeito desastroso no prestígio do homem e na sua auto-estima.




A Expressividade do Silêncio
A história da glória e decadência de um porteiro de hotel orgulhoso de seu uniforme engalanado (Jannings) é a base de um dos filmes mais ricos e complexos de todo o cinema mudo.
A primeira proeza de Murnau foi livrar-se das incômodas legendas explicativas que atravancavam a narração na maioria dos filmes silenciosos. Conseguiu isso graças a uma intensa mobilidade da câmera, a uma montagem inventiva e a alguns artifícios astuciosos, como colocar os poucos textos indispensáveis em bilhetes, cartas, notas de jornal etc.
A segunda proeza foi atingir o máximo de expressão quase sem recorrer (exceto numa sequência de sonho) aos procedimentos mais batidos do expressionismo (deformação da imagem, estilização do cenário). O que Murnau usou foi puro cinema: o close, o foco, a luz, a montagem. Por isso essa obra-prima sobre a vaidade humana mantém o seu frescor até hoje. O final feliz não é culpa de Murnau, mas imposição dos produtores. José Geraldo Couto - Revista SET 92 - Fev/95




Artigo sobre F.W. Murnau - Contracampo

Curiosidades:

- Emil Jannings também atuou sob a direção de Murnau em Tartufo e Fausto.

- Refilmado por Harald Braun na Alemanha em 1955, tendo recebido o título Der Letzte Mann.



OUTROS FILMES DE MURNAU AQUI NO FARRA:

Créditos: F.A.R.R.A. - dylan dog

1922 - Nosferatu
1926 - Fausto
1927 - Aurora
1931 - Tabu

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Os vícios e as virtudes

www.granma.cu


ONTEM falávamos do Ike financeiro que enlouquece o império. Ele não dá um jeito para conciliar o consumismo com as guerras injustas, as despesas militares e os enormes investimentos na indústria de armamentos, que matam, mas não alimentam os povos, nem satisfazem suas necessidades mais elementares.

Nada iria descrever melhor a alienante contradição que as palavras do senador Richard Shelby, o principal republicano da Comissão de Bancos do Senado dos Estados Unidos, quando declarou ao canal de televisão BBC: "Não sabemos quanto vai custar isto. Provavelmente, de US$500 bilhões até um trilhão de dólares, e isso prejudicará os contribuintes mais tarde mais cedo, ou será uma dívida cobrada a todos nós ou aos nossos filhos", relata a agência de notícias Reuters, da Grã-Bretanha.

Ninguém pode duvidar do destino do mundo capitalista desenvolvido e da sorte que promete a bilhões de pessoas no planeta.

Atualmente, a luta é o único caminho dos povos para atingirem uma comunidade em que possam viver com justiça social e decoro, a antítese do capitalismo e dos princípios que regem o odioso e injusto sistema. Na dura batalha por esses objetivos, o pior inimigo é o instinto egoísta do ser humano. Se o capitalismo significa a constante utilização desse instinto, o socialismo é a batalha incessante contra tal tendência natural. Se outras vezes a alternativa na história era voltar ao passado, hoje tal alternativa não existe mais. Trata-se de uma batalha que cabe travar fundamentalmente a nosso glorioso Partido.

Toda manifestação de privilégio, corrupção ou roubo tem que ser combatida e não há justificativa possível para um verdadeiro comunista. Qualquer tipo de fraqueza nesse sentido é absolutamente inadmissível. Nunca foi a característica dos milhares de homens e mulheres que foram voluntariamente cumprirem os deveres internacionalistas, que encheram de glória e prestígio a Revolução Cubana. Nesses princípios de ética e pureza se inspirou o pensamento de José Martí e de todos os que o precederam.

Agora, em meio ao embate recente e destruidor dos furacões, é quando devemos demonstrar aquilo que somos capazes de fazer.

O roubo nas fábricas, armazéns, serviços automotivos, hotéis, restaurantes e em outras atividades onde se manuseiem recursos ou dinheiro, tem que ser combatido sem trégua pelos militantes do Partido. Quando um membro incorrer em tão vergonhosa atividade, além das medidas legais que lhe serão impostas, deverá ser sancionado pelo Partido, sem extremismos, mas de forma madura e eficaz. O capitalismo é vítima do delito comum e defende-se dele mediante sofisticados meios técnicos, do desemprego, da exclusão social, do assassinato e até da violência extrema, que é já inútil perante o tráfico de drogas, que custa centenas e até milhares de vidas a cada ano nalguns países latino-americanos.

Não é fácil a tarefa dos dirigentes em um mundo onde a incitação ao consumismo é permanente através de todos os meios de rádio, televisivos, eletrônicos e escritos, e os métodos de seduzir o ser humano são extraídos de laboratórios e centros de investigação. Observe-se o que acontece com o que chamam de publicidade, pela qual os consumidores pagam anualmente mais de US$1 bilhão. Os anúncios comerciais se repetem tantas vezes que desesperam quase todas as pessoas por sua banalidade.

Mas o roubo fica longe de ser o único mal que prejudica a Revolução. Estão os privilégios conscientes ou tolerados e as invenções burocráticas. Recursos destinados para uma situação temporária, convertem-se em despesas e consumos permanentes.

Tudo atenta contra as reservas em materiais e em divisas do país, o que pode trazer escassez de produtos e excesso de dinheiro circulante. A mesma coisa ocorre quando os que têm dinheiro abundante correm a comprar em excesso aquilo que lhes venderem nas lojas em divisas.

Há mecanismos do Estado com a tendência para generalizar os privilégios ou dar muito mais na concorrência que desatam pelos técnicos e pela força de trabalho disponível. Às vezes, tornam-se camelôs com métodos genuinamente capitalistas na busca de receitas, para administrar recursos com os quais representar o papel de eficientes e ganhar o apoio complacente do seu pessoal. São costumes burgueses e não proletários, e todos temos o sagrado dever de lutar contra eles.

Há países que não hesitam em aplicar a pena capital contra esses delitos. Não acho realmente que seja necessário em nosso caso. Também não premiar estupidamente os incorrigíveis em nossas prisões; que adquiram um ofício, mas não sonhar em torná-los cientistas.

Ao longo da minha vida revolucionária, vi como esses vícios cresciam ao lado das virtudes. Também se detecta enfraquecimento em alguns cidadãos, que se habituam a receber e dedicam pouco tempo a meditar, ler jornais e se informar das realidades. O inimigo, em sua procura de espiões e traidores, sabe muito bem das fraquezas dos seres humanos, mas desconhece a outra cara da moeda: a enorme capacidade do ser humano para o sacrifício consciente e o heroísmo. Os pais gostariam legar bens materiais a seus filhos, mas preferem lhes deixar a herança de uma vida digna e prestigiosa que sempre os acompanhe.

O império deparou-se nesta ilha com um povo capaz de resistir a seu bloqueio e agressões durante dezenas de anos. Por isso, toma medidas mais duras contra Cuba. Tenta lhe arrebatar pessoal qualificado e sua força de trabalho; escolhe os que lhes outorgam os milhares de vistos acordados por ano, enquanto promove, por sua vez, as saídas ilegais; mantém e reforça sua Lei de Ajuste Cubano, que dá privilégios especiais para a emigração ilegal aos cidadãos de uma única nação no mundo: Cuba. Se os estendesse aos demais países da América Latina, em pouco tempo os latino-americanos seriam mais da metade dos habitantes dos Estados Unidos.

O que é ainda mais cínico: recruta mercenários que pretendem impunidade, fornece-lhes orientação e recursos, promove-os internacionalmente, e se compraz em pôr à prova a paciência e equanimidade do poder revolucionário.

A verdade nunca faltará ao nosso povo.

Não só lutaremos sem trégua contra nossos próprios erros, fraquezas e vícios, mas também ganharemos a batalha de idéias na qual estamos envolvidos.

Porém, os chefes do império sempre devem ter certeza de que nem furacões naturais nem furacões de cinismo conseguirão curvar a Revolução.

Antes, como disse Martí, se uniria o mar do Norte ao mar do Sul e nasceria uma serpente de um ovo de águia.

Fidel Castro Ruz

A dinâmica da grande queda

O declínio da capacidade produtiva dos EUA, em contradição com o aumento impressionante do consumo e do crédito, está na origem da crise. Mas ela foi ampliada pela recusa das autoridades a rever dois dogmas do neoliberalismo: o "livre" comércio e a "livre" circulação de capitais.

Gérard Duménil, Dominique Lévy

Chama a atenção o caráter adocicado da nota publicada no último dia 14 de junho, ao término da reunião dos ministros da economia do G8: “A inovação financeira tem contribuído consideravelmente para o crescimento e para o desenvolvimento mundiais; mas, diante dos riscos à estabilidade financeira, é imperativo o aumento da transparência e da consciência dos riscos”. As palavras-chave são: “desenvolvimento” e “inovação financeira”, de um lado; e “transparência”, de outro. Outros termos estão ausentes, como “regulamentação”, por exemplo. E não se faz menção aos fatores subjacentes à crise: os desequilíbrios crescentes da economia norte-americana.

No cerne dos mecanismos que culminaram na crise atual, encontra-se, além da ausência de regulamentação dos processos financeiros, algo que se pode denominar de “a trajetória neoliberal” da economia dos Estados Unidos, um itinerário iniciado nos primeiros anos da década de 1980, após três décadas de keynesianismo. Cinco grandes tendências estavam presentes. Em primeiro lugar, a redução do investimento produtivo. Com isto, nos referimos ao crescimento de todos os elementos “físicos” necessários à produção: edifícios, máquinas etc. Esse recuo veio acompanhado de uma fortíssima expansão relativa do consumo. Jamais se observou algo parecido no passado. A super-expansão do consumo esteve na origem do aumento do déficit do comércio exterior. Enfim, ecoando tais tendências, é preciso mencionar o duplo aumento da dívida interna (essencialmente a das famílias e a das finanças) e do financiamento da dívida externa pelo resto do mundo.

Uma trajetória bem estranha, impulsionada pelo consumo em detrimento do investimento produtivo, e alimentando-se das importações – demanda sustentada graças ao crédito concedido pelas instituições financeiras norte-americanas, cientes de que nada seria possível sem o financiamento pelo resto do mundo. Isso deveria causar inquietação, mas, ao contrário, a propaganda neoliberal tratou de divulgar a imagem lisonjeira de os Estados Unidos serem a “locomotiva” do crescimento mundial.

O aumento dos desequilíbrios e a crise financeira nasceram nos próprios Estados Unidos, e não seriam possíveis sem o domínio exercido por esse país sobre o resto do mundo. Mas o neoliberalismo também tem uma parcela de responsabilidade, pois os lucros das empresas, dos quais uma grande parte era anteriormente retida para investimento, foram transferidos aos credores, na forma de juros, e aos acionistas, na forma de dividendos. Logo, as empresas passaram a reservar cada vez menos para investir. Além disso, as fronteiras comerciais se escancararam – principalmente para os países da periferia, nos quais o custo de mão-de-obra era baixo (China, México, Vietnã etc.). Uma fração crescente da demanda dirigiu-se para as importações, a tal ponto que, nos Estados Unidos, se pode falar em “desterritorialização” da produção.

A produção diminuiu, e os EUA passaram a depender cada vez mais da generosidade dos estrangeiros. Estranha combinação entre enriquecimento de uma minoria, aumento do consumo dos mais favorecidos e o agravamento dos desequilíbrios da economia nacional

A necessidade de manter a demanda em território norte-americano impôs a injeção massiva de crédito: ano após ano, e cada vez mais, ao passo que a produção era pouco sustentada pelo investimento. Assim, o processo exigiu muito mais crédito do que seria necessário numa economia pouco aberta e voltada para o seu próprio crescimento. Este é o ponto essencial e foi ele o desencadeador da crise financeira: uma trajetória insustentável até as areias movediças do subprime, percorrida mediante o artifício do estímulo sempre renovado, ao preço de um endividamento crescente.

A isso somou-se o papel central do dólar, mundialmente usado nas transações comerciais e financeiras, como divisa de reserva, sobre a qual muitas outras moedas indexaram suas taxas de câmbio. O resto do mundo colaborou alegremente. Derramou-se pelo planeta um fluxo enorme de notas verdes, correspondente ao déficit comercial dos Estados Unidos. Os estrangeiros aplicavam os dólares que recebiam em troca dos bens que exportavam para os Estados Unidos. Compravam ações, obrigações privadas e públicas, bens do tesouro etc. Mesmo porque não tinham escolha. Não havia nenhum meio de absorver tantos dólares desde que essa moeda deixou de ser conversível em ouro. Sem dúvida, o desejo generalizado de se desfazer das notas verdes pressionava sua cotação para baixo e, conseqüentemente, tornava necessária a elevação da taxa de juros nos Estados Unidos. Mas, desde o início dos anos 2000, a taxa de juros de longo prazo permaneceu baixa. Assim, a economia dos Estados Unidos foi derrapando ao longo dessa trajetória em que os desequilíbrios internos e externos, reais e financeiros, se ampliavam progressivamente.

Os detentores de capitais e os segmentos mais elevados da pirâmide salarial (uns e outros se interpenetrando) prosperaram e se distanciaram do resto da população. Mas a produção manufatureira diminuiu, e o país passou a depender cada vez mais da generosidade dos estrangeiros. Estranha combinação entre o enriquecimento de uma minoria, o aumento do consumo dos mais favorecidos e o agravamento dos desequilíbrios da economia nacional, cada vez menos regulamentada.

Como explicar a insistência nesse rumo durante tantos anos? Após as recessões de 1982 e 1990, a atividade foi efetivamente sustentada pelo impulso miraculoso das novas tecnologias, ditas “da informação”. Lentamente no começo, mas de modo particularmente tenaz, a onda agigantou-se na segunda metade da década de 1990: quatro anos de boom, durante os quais os valores tecnológicos foram propelidos a alturas sem precedentes: a bolsa Nasdaq, que negociava ações de 1.053 empresas em janeiro de 1996, passou a abrigar 5.132 em março de 2000. O capital estrangeiro afluiu precipitadamente para aproveitar a inesperada vantagem. Mas ao boom seguiu-se o crack estrondoso: em outubro de 2002, o número de empresas com ações na Nasdaq havia despencado para 1.114.

Em 2001, com o estouro da bolha da informática, veio a recessão, e foi nessa ocasião que se revelaram os efeitos perversos daquelas tendências. O Federal Reserve entrou em cena e fez o seu trabalho habitual:o estímulo ao crédito. Mas as empresas não-financeiras não reagiram ao apelo. Quando faziam empréstimos não era para investimentos produtivos no território dos Estados Unidos, e sim para empreender a pequena batalha das fusões e aquisições ou para incentivar a compra de suas próprias ações . Então, Alan Greenspan aplicou o remédio em dose dupla . Baixou de modo espetacular a taxa de juros, que se tornou cada vez mais baixa e mesmo negativa em termos reais (isto é, uma vez descontada a taxa de inflação).

A ciranda financeira não causou a tendência, pois esta era muito mais antiga e profunda; apenas prolongou a sua duração. Mas as autoridades relutaram em abandonar as regras neoliberais. É que o neoliberalismo não era uma questão de princípios, mas de interesses

O remédio fez efeito. Mas a que preço? O setor financeiro, ou uma fração dele, precipitou-se no espaço aberto pela queda das taxas de juros. E as famílias de classe média responderam pela sustentação da demanda. Convém lembrar que, nos Estados Unidos, a expansão formidável do crédito hipotecário serviu para financiar, ao mesmo tempo, os próprios imóveis e o consumo (como o pagamento dos estudos dos filhos ou o tratamento médico, caríssimo em um país em que a proteção social é deficiente). A partir de 2000, o consumo, que atingira um nível elevadíssimo, parou de crescer mais rapidamente que a produção total; mas a compensação veio da construção civil, aquecida devido à alta dos preços dos imóveis. A economia saiu da recessão.

Essa medalha teve vários reversos: a entrada em cena de um setor financeiro inescrupuloso, que levou à inadimplência muitas famílias endividadas; o aumento acelerado do déficit do comércio exterior e o correspondente crescimento do financiamento desse déficit pelo resto do mundo; a queda das taxas de juros, que instigou as mais temerárias estratégias por parte das sociedades financeiras.

É possível interpretar a conjuntura de saída da crise de 2001 em termos de convergência de interesses entre a política do Federal Reserve e uma grande parcela do setor financeiro privado. Três elementos: 1) uma política de incentivo muito ousada, tornada necessária pela trajetória insustentável; 2) uma resposta eficaz a curto prazo, mas impossível de ser mantida, que levaria ao choque do subprime; 3) uma desvairada efervescência financeira, que prolongou a trajetória além do razoável e multiplicou as conseqüências da crise do crédito hipotecário. A crise e as tendências da macroeconomia alimentavam-se mutuamente. E o endividamento impagável das famílias fez com que se insistisse em uma trajetória perigosa – ao custo do aumento da dívida, ao mesmo tempo em valor e em proporção à renda nacional.

A ciranda financeira não causou a tendência, pois esta era muito mais antiga e profunda; apenas prolongou a sua duração. Não se trata de inconsciência por parte das autoridades monetárias, e sim da relutância em abandonar as regras neoliberais, tal como o exigia a correção da trajetória. Ocorre que o neoliberalismo não era uma questão de princípios, mas de interesses; de modo que as regras encobriam propósitos muito mais importantes e sagrados do que os princípios proclamados. Era o que se veria nos anos seguintes.

Como livrar-se da crise? No início de 2008, podia-se esperar uma intervenção maior do Estado: socorro ao setor financeiro ou a compra dos créditos duvidosos. Mas continuava sendo inconcebível que os dirigentes atacassem o livre-comércio e a livre circulação dos capitais

A amplitude da crise surpreendeu e a urgência da intervenção se evidenciou. Já não estávamos em 1929 e “tudo” se fez para sustentar o sistema financeiro. Primeiro, abriram-se as torneiras da política monetária: ao todo, foram despejados mais de 600 bilhões de dólares, com a perspectiva de novos aportes se necessário, pois agora se tratava de manter em funcionamento um sistema que desabava. Mas isso não foi suficiente, e não faltou quem se emocionasse. Em abril último, o FMI admitia: “Aquilo que começou como uma deterioração relativamente bem contida de certos segmentos do mercado americano dos subprimes degenerou, por metástase, num grave deslocamento para os mercados maiores do crédito e do financiamento, que agora ameaça as perspectivas macroeconômicas dos Estados Unidos e do mundo”

A curto prazo, era difícil impedir a expansão do déficit orçamentário, que já correspondia a 3% da produção do país. E esse incentivo não remediava a crescente dívida externa. Por trás do déficit, perfilavam-se não só a Europa como também, e cada vez mais, os países “emergentes”. Tendo-se em conta as formidáveis reservas financeiras desses novos jogadores e a queda do dólar, a economia dos Estados Unidos transformou-se, para eles, numa pedra no sapato.

Como evitar tal coisa? Podia-se esperar uma intervenção maior do Estado: o socorro ao setor financeiro ou a compra dos créditos duvidosos, o aumento das despesas públicas, a “re-regulamentação” das finanças (proibição de certas práticas de crédito e maior controle sobre os fundos especulativos). Também era possível implementar a defesa das empresas norte-americanas no exterior e nos Estados Unidos. No entanto, continuava sendo inconcebível que os dirigentes atacassem o livre-comércio e a livre circulação dos capitais, essenciais ao domínio das empresas transnacionais norte-americanas no mundo.

Portanto, podia-se entrever um afastamento simulado e limitado das regras neoliberais. Exceções ad hoc. Uma nova lei sobre os investimentos estrangeiros e a segurança nacional, Foreign Investiment and National Security Act, votada em 2007, deu ao presidente norte-americano importantes poderes para limitar os investimentos desse tipo nos Estados Unidos, em nome de uma definição bem ampla da segurança interna. Esse gênero de neoliberalismo “remendado” configura o esquisito destino de uma potência hegemônica cujo domínio a longo prazo está em jogo.